quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Diferenças

Sou um leitor inveterado. E por sê-lo agarro-me aos livros e às histórias como se não pudesse mais separar-me deles. Inicio um livro e, invariavelmente, preciso conhecer o final da trama. Toda minha vida foi assim, desde os cinco anos de idade em que juntei as primeiras letras. Até alguns dias atrás.

Tomei certo livro em mãos e iniciei a leitura; entretanto não consegui me empolgar. As frases não faziam sentido na minha cabeça, os fatos descritos não criavam imagens nos meus olhos, os diálogos não consegui formular para minha boca e meus ouvidos. A certo tempo devolvi o livro para estante. Culpado por não me deixar envolver evitei olhar para aquela prateleira. Por dias e dias me angustiei com essa situação.

Eis que uma tarde - dessas de primavera - passei por uma praça e lá estava um rapaz; sentado na grama, os pés descalços, um livro em mãos. O livro que tanto me fez padecer. Detive-me a observar o homem e ele nem notou minha presença. Seus olhos brilhavam a cada palavra lida, a cada página virada. Na hora tive impulsos que desconhecia em mim. Mesmo assim deixei-me ir e rumei pra casa.

Retirando o livro da estante girei-o em minhas mãos. Em vez de martírio senti tranquilidade. Talvez eu não tenha sido feito para o livro, quem sabe o livro não tenha sido feito pra mim ou, simplesmente, não foi o momento certo de passarmos um tempo juntos. Sorrindo, devolvi-o novamente para a companhia de outros livros. Sem culpa alguma fui reler um história que já conhecia, esperando que um dia sejamos feitos um para o outro.