quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Uma palavra
Eu sou um fã incondicional da língua portuguesa.
Suas variações de verbos, incontáveis qualificações, infinitas combinações e possibilidades imensas de se fazer entender.
No entanto a nossa língua ganha minha eterna admiração pela existência de apenas uma palavra, que consegue ter significados infinitos e ao mesmo tempo ser tão restritiva.
Pois, às vezes, é só aquilo mesmo: um sentir-não-sei-o-quê-ao-certo e apenas denominá-la
SAUDADE.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
Prisão
Numa fenda de uma parede rochosa jazia eu. Parecia uma caverna, mas ainda havia o céu sobre mim. Vinham dias, caíam as noites. Dia após dia. Era chuva, ou era o frio, ou nenhum dos dois. Não sentia calor, nem fome, não sentia nada. Aprendi as fases da lua, as estações do ano, norte-sul, leste-oeste, todas as constelações. De nada me adiantaria. Sentado permanecia a contar gotas de água caindo a meu lado. Eu era apenas um esboço do que havia sido. Vazio de sentidos, sentimentos, histórias e sonhos. Fora esquecido pelo mundo e eu não lembrava de nada fora dali. Nem mesmo lembrava de como havia chegado até ali. Lembro apenas que de início pensei em escapar: para onde? por quê? para quem? Sobravam-me forças, faltavam-me razões. Essas nunca recuperei, aquelas eu perdi. Desisti. Deitado, consigo contar os segundos até o brilhar do último raio de sol. Não haverá o brilho lunar essa noite: é lua nova; contrariando a escuridão que persiste em ser, invariavelmente, sempre a mesma.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
O que há de melhor
Continuarei o mesmo. Talvez eu não mude nunca esse meu jeito de ser, de agir, de sentir. Se mudar, acontecerá naturalmente, não por qualquer tipo de pressão externa. Não me preocupo com a opinião alheia. Sou o que sou e tudo que fiz me fez chegar até aqui. Nada é fácil pra ninguém. No entanto só quem sente de verdade sabe o que se passa dentro do peito de cada um. Nadar contra a corrente é sempre um desafio, mas é o que nos torna fortes e dignos de alcançar os objetivos. O tempo, a distância, a incompatibilidade, a diferença de pensar ou o simples fato de não existir o sentimento dentro de um ou outro pode fazer com que soframos; entratanto não há nada a fazer. Eu nutro e alimento o que há de melhor em mim, sem medo algum. Talvez os ventos mudem minha direção, quem sabe o destino apareça com alguma surpresa, ou meus próprios olhos percebam coisas que jamais viram; estou preparado. Não vou deixar-me abater. Sorrio sempre e agradeço por ser quem sou. Se há julgamentos e condenações, esses não vem de mim: crescem, vivem e morrem dentro dos outros. Espero que se ame mais, se sonhe mais, se busque mais, se descubra mais; as conquistas talvez nunca cheguem mas o quanto lutamos nos mostra quem realmente somos.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
Dos astros - Uma ánalise de Áries com ascendente em Touro
Inicio este post dizendo que nunca fui fã de astrologia, signos e afins. Entretanto ontem viajando na web resolvi fazer um pequeno teste. Talvez alguém possa me ajudar e dizer se está correta essa análise do dia do meu nascimento.
Olha só:
'Humberto, no momento de seu nascimento era o signo de Touro que se levantava no horizonte leste (ascendente). Esta combinação costuma dar às pessoas uma aparência mais calma e tranquila, pois Touro de certa forma modera toda a tradicional impulsividade ariana - mas veja bem, a impulsividade e a agressividade continuam aí, só que "disfarçadas". A qualidade terrena de Touro se junta à energia fogosa de Áries, podendo transformar você, Humberto, num verdadeiro trator: quando enfia algo na cabeça, não há santo que lhe faça mudar de ideia! Este excesso de energia pode inclusive beneficiar a prática esportiva, e você tenderá a ter uma boa constituição geral.
Marte e Vênus, seus dois regentes principais, sugerem uma sensualidade intensa, e uma forte intensidade de desejos que levam você a amar com toda a intensidade a vida, os prazeres e o sexo. Os apetites desejosos são muito fortes e tudo isso é válido, contanto que não se torne a finalidade única de sua existência. Para você, Humberto, é conveniente cultivar um pouco mais a moderação dos quereres e este egoísmo básico que pode vir a atrapalhar seus relacionamentos. Ver as coisas apenas sob seu ponto de vista é mais confortável, mas não é justo.
Touro no ascendente lhe confere uma atmosfera mais afetuosa e mais estável. Precisará aprender a moderar os jogos de poder em seus relacionamentos , aprendendo - e por sua vez ensinando - que numa relação não devem existir "vencedores e vencidos", e sim parceiros e, sobretudo, confiança. E isso vale, Humberto, para qualquer qualidade de relação: da conjugal às sociedades."
Feito.
Encerramos por aqui.
Olha só:
'Humberto, no momento de seu nascimento era o signo de Touro que se levantava no horizonte leste (ascendente). Esta combinação costuma dar às pessoas uma aparência mais calma e tranquila, pois Touro de certa forma modera toda a tradicional impulsividade ariana - mas veja bem, a impulsividade e a agressividade continuam aí, só que "disfarçadas". A qualidade terrena de Touro se junta à energia fogosa de Áries, podendo transformar você, Humberto, num verdadeiro trator: quando enfia algo na cabeça, não há santo que lhe faça mudar de ideia! Este excesso de energia pode inclusive beneficiar a prática esportiva, e você tenderá a ter uma boa constituição geral.
Marte e Vênus, seus dois regentes principais, sugerem uma sensualidade intensa, e uma forte intensidade de desejos que levam você a amar com toda a intensidade a vida, os prazeres e o sexo. Os apetites desejosos são muito fortes e tudo isso é válido, contanto que não se torne a finalidade única de sua existência. Para você, Humberto, é conveniente cultivar um pouco mais a moderação dos quereres e este egoísmo básico que pode vir a atrapalhar seus relacionamentos. Ver as coisas apenas sob seu ponto de vista é mais confortável, mas não é justo.
Touro no ascendente lhe confere uma atmosfera mais afetuosa e mais estável. Precisará aprender a moderar os jogos de poder em seus relacionamentos , aprendendo - e por sua vez ensinando - que numa relação não devem existir "vencedores e vencidos", e sim parceiros e, sobretudo, confiança. E isso vale, Humberto, para qualquer qualidade de relação: da conjugal às sociedades."
Feito.
Encerramos por aqui.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Todas as cartas de amor são ridículas - Álvaro de Campos
Eu já deveria imaginar o motivo de nunca enviar as cartas que escrevo pra ela. Ao final, quando as leio, elas parecem-me tal e qual o poeta escreveu.
Assim, ó:
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos - Pseudônimo de Fernando Pessoa
Assim, ó:
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos - Pseudônimo de Fernando Pessoa
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
Retrospectiva 2015 - Parte Um - Foo Fighters
Decidi deixar de lado as divagações e, definitivamente, escrever sobre o meu ano de 2015. De tantas frases e coisas que lembrei achei até já havia escrito sobre isso, no entanto fui procurar e vi que tudo ficou na minha cabeça e nada saiu no papel.
Há dois fatos consideráveis a relatar sobre o ano que passou, fatos aliás históricos e inesquecíveis. Comecemos pelo primeiro, em ordem cronológica e nem por isso mais ou menos importante:
o show de 21 de janeiro do Foo Fighters.
Abertura show do Foo Fighters com a Kaiser Chiefs - FIERGS - PoA
Desde sempre fui um alucinado fã de rock e isso só aumentou quando, certa tarde, minha mãe presenteou-me com duas fitas k-7 - isso lá pela metade dos anos 90 - de duas bandas que nunca deixaria de ouvir: o disco Dookie, da Green Day e o disco Nevermind, da Nirvana. Tchê! quando eu colocava no meu microsystem 3 em 1 qualquer dessas fitas minha mente viajava para longe. Quando poderia pensar que alguém traduziria todo meu espírito em letras e músicas feitas daquele jeito? Uma revolução!! Então aqui cito a Nirvana pois o baterista dela era nada mais nada menos que Dave Grohl - um menino talvez acanhado mas com muita força numa banda liderada pela lenda Kurt Cobain. Mas divago, o que quero mesmo dizer é que quando soube que a Foo Fighters, agora construída e liderada por aquele baterista, viria ao Brasil - mais precisamente Porto Alegre - não tive dúvidas: eu iria!
Dave Grohl - Baterista do Nirvana
Ingressos comprados, uma parceira das antigas de companhia, duas novas amizades, dois amigos do Mar e lá estávamos. Ao soar os primeiros acordes e primeiros versos cantados por Grohl, minha alma saiu de mim. Olhos, ouvidos, boca, nariz, tudo era parte do que acontecia em volta. Rock em sua essência. Música de qualidade. Show inigualável. Preciso dizer que nunca tinha estado num concerto de tais proporções. Não sabia como agir. Parecia o mesmo menino de 20 anos atrás abobalhado com o ouvido grudado na caixa de som. Dave se movimentava, tocava sua guitarra, conversava com a platéia, balançava suas melenas como um digno tocador de rock deve fazer. Ao som de 'Something from nothing', 'The pretender' e 'Learn to fly', todos éramos um.
Ale, Juli, Karine, 1berto, Nesele e Milrem
Há momentos que lembro, em outros há um lapso apenas preenchido com o coro de 30 mil vozes entoando mantras hipnotizantes. Particularmente o momento alto foi quando, após uma pequena pausa, o vocalista Dave deu lugar ao baterista Grohl e tomou em suas mãos as baquetas da banda. Ao som de 'Miss You', dos Rolling Stones e 'Under pressure', do Queen & David Bowie foi que delirei vendo o mesmo menino acanhado destruindo as batidas da bateria e do coração de todos. Euforia e emoção são as palavras que podem resumir aqueles momentos.
Com o retorno de Dave aos vocais e outro 'garoto' - Taylor Hawkins - à bateria, o show chegava ao seu fim com as ímpares: 'Skin and Bones', 'Time like these' e, talvez as mais esperadas 'Best of you' e ' Everlong'. Acabaria em alto estilo uma noite como nenhuma outra noite seria.
Finaleira do show da Foo Fighters - Todo mundo muito louco
Saí daquele show - de 3 horas, sim, TRÊS HORAS de duração - de alma, mente e coração leves. Nunca esquecerei. Jamais estarei curado daqueles momentos. O tempo pode ser limitado, mas a sensação, ahhh a sensação é infinita.
E eterna.
Separação - Bella Akhmadulina
Bella Akhmadulina (1937 - 2010) é considerada a maior poetisa russa.
Ela escreveu, dentre outros, isso aqui ó:
Hoje nos separamos para sempre
e isso faz o mundo transformar-se.
Tudo nele anuncia a traição:
os rios vão se afastando das margens,
as nuvens vão se afastando do céu,
a mão direita olha para a esquerda
e arrogante diz: “Vou embora, adeus!”
Abril não mais prepara o mês de maio,
mês de maio que nunca mais verás,
e as flores se desfolham, feitas pó.
É a derrota do azul para o amarelo!
Já as últimas flores se esturricam,
comprimento e largura não há mais,
o branco, em estertor, já agoniza,
deixando um arco-íris de orfãzinhas.
A natureza afoga em sua tristeza,
a maré baixa sobe pela margem,
calam-se os sons e isso porque nós,
você e eu, pra sempre nos deixamos.
Ela escreveu, dentre outros, isso aqui ó:
Hoje nos separamos para sempre
e isso faz o mundo transformar-se.
Tudo nele anuncia a traição:
os rios vão se afastando das margens,
as nuvens vão se afastando do céu,
a mão direita olha para a esquerda
e arrogante diz: “Vou embora, adeus!”
Abril não mais prepara o mês de maio,
mês de maio que nunca mais verás,
e as flores se desfolham, feitas pó.
É a derrota do azul para o amarelo!
Já as últimas flores se esturricam,
comprimento e largura não há mais,
o branco, em estertor, já agoniza,
deixando um arco-íris de orfãzinhas.
A natureza afoga em sua tristeza,
a maré baixa sobe pela margem,
calam-se os sons e isso porque nós,
você e eu, pra sempre nos deixamos.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Sobre os poetas - Paul Valéry
nos conta o poeta francês em 'Poemas apócrifos':
sair de casa sem o idioma e voltar ao mundo
pelo caminho mais curto
sair da cidade e sair do nome
à espera que
da ausência de antônimos
surja uma qualquer semântica
de afetos selvagens
toda fronteira é mais verbal que física:
no perímetro da língua
todo um contorno de corpo
e os pensamentos
só existem enquanto pensados
na erosão do limite
da expectativa do som
pelo mínimo dialeto das máquinas:
serão as máquinas nossa única herança
as únicas que nos rangerão
versos de amor até o fim
com sua devoção aos mantras
tentarão compor obra maior que a vida
sem entender que a única tarefa
razoável do poeta
é noticiar o fim do mundo
sair de casa sem o idioma e voltar ao mundo
pelo caminho mais curto
sair da cidade e sair do nome
à espera que
da ausência de antônimos
surja uma qualquer semântica
de afetos selvagens
toda fronteira é mais verbal que física:
no perímetro da língua
todo um contorno de corpo
e os pensamentos
só existem enquanto pensados
na erosão do limite
da expectativa do som
pelo mínimo dialeto das máquinas:
serão as máquinas nossa única herança
as únicas que nos rangerão
versos de amor até o fim
com sua devoção aos mantras
tentarão compor obra maior que a vida
sem entender que a única tarefa
razoável do poeta
é noticiar o fim do mundo
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Um pássaro menor - Robert Frost
Quis, de fato, que o pássaro voasse
E próximo ao meu lar não mais cantasse.
Cheguei à porta para afugentá-lo,
Por sentir-me incapaz de suportá-lo.
Penso que a inteira culpa fosse minha,
E não do pássaro ou da voz que tinha.
O erro estava, decerto, na aflição
De querer silenciar uma canção.
E próximo ao meu lar não mais cantasse.
Cheguei à porta para afugentá-lo,
Por sentir-me incapaz de suportá-lo.
Penso que a inteira culpa fosse minha,
E não do pássaro ou da voz que tinha.
O erro estava, decerto, na aflição
De querer silenciar uma canção.
domingo, 3 de janeiro de 2016
Soneto LXXXVIII - Shakespeare
Quando me tratas mal e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.
sábado, 2 de janeiro de 2016
Gritos
Hoje são os gritos do silêncio que me chegam aos ouvidos. No quarto escuro, na fumaça do cigarro, no que restou de gelo no copo, nos livros que não li, nos discos que não escutei. Do nada que há em mim resta apenas um nome e a lembrança do que nunca foi. Da cadeira onde estou meu corpo não se ergue. Nunca saberei quantos passos conseguiria dar. Mesmo sabendo que não há lugar para ir. Chegam-me mais silêncios. Da tarde nada ficou. A noite abraça-me como a morte chegando lentamente para ficar. Minha cabeça dói. O vazio que há eu preencho com o nome que a cada minuto tento esquecer.
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