terça-feira, 9 de julho de 2019

medo

Ela tinha os medos dela. Medo do que foi, do que é, do que seria. O medo de trocar tudo aquilo que tinha por uma mera projeção de uma fantasia. Estava tudo bem com ela. Tudo normal. Mas era o normal que começava a pulsar dentro dela: o normal era pouco.

Ele tinha os medos dele. Já conhecia o passado, do presente ele não gostava, o futuro não trazia nada melhor. Dentro dele o receio de mais do mesmo, de se provar verdadeiro que a história gira num ciclo infinito. Aquele ciclo de estar, ficar e partir. Era normal. E nada mudaria isso.

Então dois mundos colidiram. Duas estradas em diferentes direções que se cruzaram. Aquele acaso do destino. Aquela coincidência impossível de acontecer.

Dentro dele aquela falta de ar. Dentro dela o pulsar do coração. Nos olhares, brilhos. Nos lábios, risos. Palavras não ditas, gestos contidos. A voz falha, as mãos tremem, aquela gota de suor constrangedora acima dos olhos. Tão improvável quanto o encontro, o desenrolar se mostrou surpreendente.

Tentaram desviar os olhares, como normalmente faziam. Mas aquele segundo demorou uma eternidade.

Ele sorriu. Ela sorriu de volta. Não fecharam os olhos. Havia tanta gente a volta e não havia ninguém. Seus dedos se tocaram. O tremor aumentou e logo se desfez. No tocar dos lábios todo o medo que havia nela e os receios que moravam nele se foram. Não sabiam o que viria. Mas estavam prontos a fazer acontecer.