quinta-feira, 24 de julho de 2014

singular

um portão
uma casa
um cachorro
um jardim
uma árvore
uma porta
um sofá
uma mesa
uma cadeira
um prato
um copo
uma escada
um quarto
uma janela
uma cortina
uma cama
um travesseiro
um sonho
um sonho
um sonho

quarta-feira, 23 de julho de 2014

quero-te

e dá uma sensação de vazio dentro de mim, um aperto, algo inexplicável e a vontade imensa de te ter ao meu lado. quero ouvir-te, mas não através de uma máquina - eu quero ouvir o simples respirar, o ir e vir da respiração no teu peito. quero ver-te! entretanto que não seja num mero instantâneo, onde teus olhos não pisquem e teus lábios não tremam; quero sim passar a mão no teu rosto, arrepiando-te a pele e sentindo teu calor. quero dormir e acordar contigo; velando teu sono, te vendo sonhar. quero-te hoje, quero-te agora. dividindo comigo teu dia, novidades boas, notícias ruins, eu estarei ali, pronto para segurar na sua mão e dizer que ficará tudo bem. porém meu maior desejo seria de viajar contigo. deixando tudo prá trás, mirando o horizonte a nossa frente e o caminho a seguir. pra onde iríamos? talvez apenas dobrar à esquina, quem sabe uma ilha solitária, quiçá outro planeta - ou apenas um quarto transformado em nosso universo.

só esteja aqui.

só deixe-me estar.

estarei.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Carta


Continuo escrevendo cartas; 
As quais nunca enviarei;
As quais nunca lerás;
As quais transportam 
Tudo que há em mim. 

terça-feira, 15 de julho de 2014

Da literatura brasileira


Li, há alguns dias atrás, a notícia de que algumas pessoas estavam querendo adaptar romances da literatura brasileira - principalmente do final do século XIX e início do século XX - para a linguagem atual, 'facilitando' assim o acesso de mais pessoas aos seus conteúdos.

Acredito que não é a maneira certa de proporcionar acesso aos maravilhosos autores brasileiros; nem é o jeito de incentivar a leitura. O que tem que ser feito é educar as pessoas - principalmente nas mais tenras idades - para que se tome gosto pela literatura. Sabendo desde logo interpretar um texto, mesmo escrito pelos nossos mais rebuscados autores nacionais. Percebo também que direcionando crianças e adolescentes para 'literaturas obrigatórias' isso torna-se um problema e não uma solução para que se tome gosto pelo hábito.

Eu sou um aficionado por literatura e posso até ser considerado suspeito em falar de autores brasileiros, pois gosto muito das possibilidades que nosso vocabulário proporciona na hora da construção de um bom texto.

Tenho também em mim que nossos escritores podem, sim, equipararem-se aos maiores da literatura mundial.

Afinal, quem sabe escrever melhor um trecho de livro, em português, do que Machado de Assis, José de Alencar, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Aluízio Azevedo, Lima Barreto, entre tantos outros?

P.S.: Já citei no blog diversos recortes de romances e textos desses autores, entretanto ontem lendo
'Cinco minutos", de José de Alencar, deparei-me com esse que segue: 

"- Compreendo agora, disse eu em voz baixa e como falando
a um amigo que estivesse a meu lado, compreendo por
que ela me foge, por que conserva esse mistério; tudo isto
não passa de uma zombaria cruel, de uma comédia, em que
eu faço o papel de amante ridículo. Realmente é uma lembrança
engenhosa! Lançar em um coração o germe de um
amor profundo; alimentá-lo de tempos a tempos com uma
palavra, excitar a imaginação pelo mistério; e depois, quando
esse namorado de uma sombra, de um sonho, de uma ilusão,
passear pelo salão a sua figura triste e abatida, mostrá-lo a
suas amigas como uma vítima imolada aos seus caprichos e
escarnecer do louco! É espirituoso! O orgulho da mais vaidosa
mulher deve ficar satisfeito!"

Não é demais ler um texto assim?

segunda-feira, 7 de julho de 2014

De vazio e névoa

Eu já nem me importo mais com todo esse vazio que assola minha alma. Por vezes nem parece que tenho-a ainda. Se nossos olhos nem se vêem mais. O calor do teu corpo nem chega próximo do meu. Carrego comigo apenas lembranças de um tempo ido que não quer ser apagado. Ainda consigo ouvir sua voz me dizendo do bem que te fazia. Sinto seus dedos tremendo, seus olhos fechados, sua boca aberta. Acordo no meio da madrugada agonizando; olho para o teto escuro, para um vão da janela e me perco em sentimentos que não consigo explicar. Sem desejar, vejo a escuridão máxima dos momentos que antecedem o nascer do sol; mas a neblina domina o amanhecer e tudo fica frio e triste mesmo durante o dia. É assim que me sinto: como se uma névoa de inverno estivesse cercando-me por todoas os lados, que não me deixa sentir qualquer calor que seja; névoa que encobre tu, meu sol. Se fosse uma nuvem carregada de raios, trovões e chuva, ela poderia ainda se dissolver. Entretanto não vejo uma maneira de dissipar esse cinza que turva a distância entre tu e eu.

terça-feira, 1 de julho de 2014

De laços e nós

Existem algumas coisas que tentamos deixar para trás. Umas mais fáceis de serem esquecidas, outras que sempre deixarão marcas e lembranças. Algumas são suaves, apenas um laço mantém a união - puxa-se um fio e ele se desfaz como um sopro. Entretanto há alguns que são nós: puxa-se um lado e aperta um pouco, puxa-se outro e sufoca a gente. Para esse último só resta apenas uma solução - que as amarras sejam cortadas. Entretanto como pode um simples ato se tornar uma missão quase impossível de ser realizada?