segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Morgan percebeu que já havia passado um ano. Trezentos e sessenta e cinco dias daquela fatídica noite. Seus olhares se cruzaram, as palavras foram, sem medo, proferidas, muito não foi dito. As mãos dele encontraram as mãos de Sophia e houve um momento de lentidão no espaço-tempo. Com lábios trêmulos um beijo aconteceu, um único beijo, capaz de embaralhar todas as certezas que haviam na cabeça dele. As dela, ele nunca as soube, mas tudo dali para a frente, nunca seria igual.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Things


Recentemente recebi uma crítica de que aqui, no blog, escrevia apenas sobre 'down things'. Então hoje resolvi publicar sobre o quê, penso, seja o motivo. Minhas leituras.

Isso mesmo, creio que grande parte do que chamo 'inspiração' venha do que costumo ler, de meus autores favoritos e suas histórias realistas e não fantasiosas. Não tecerei comentários sobre os livros nem resenhas, apenas colocarei aqui os livros de minha (ainda) pequena biblioteca. Seguem os títulos e seus respectivos autores:
(na ordem que se encontram aqui na minha prateleira)

- O apanhador no campo de centeio, J.D. Salinger;
- Bufo & Spalanzzani, Rubem fonseca;
- As veias abertas da América Latina, Eduardo Galeano;
- O Evangelho segundo Jesus Cristo, Jose Saramago;
- Caim, Jose Saramago;
- Lolita, Vladimir Nabokov;
- Clube da Luta, Chuck Palahniuk (as duas edições lançadas no Brasil);
- Peças íntimas, Luis Fernando Veríssimo;
- O Analista de Bagé, Luis Fenando Veríssimo;
- A guerrilheira - O romance da vida de Anita Garibaldi, João Felício dos Santos;
- A mão e a luva, Machado de Assis,
- O cortiço, Aluísio Azevedo;
- O nome da rosa, Umberto Eco;
- O inverno chegou, Cynthia Freeman;
- O misterioso caso de Styles, Agatha Christie;
- O segredo de Chimneys, Agatha Christie;
- Os implacáveis, Harold Robbins;
- On the road, Jack Kerouac;
- As ligações perigosas, Chordelos de Laclos;
- O doente imaginário, Moliére;
- Sonho de uma noite de verão, Willian Shakespeare;
- Rei Lear, Willian Shakespeare;
- Maktub! (Estava escrito!), Malba Tahan;
- O homem que calculava, Malba Tahan;
- O dia do chacal, Frederick Forsythe;
- O sofrimento do jovem Werther, Goethe;
- A metamorfose, Kafka;
- O processo, Kafka;
- Crime e Castigo, Dostoiévski;
- Che Guevara, John Lee Anderson;
- Getúlio, Juremir Machado da Silva;
- 1930 - Águas da Revolução;
- Holocausto - Judeu ou Alemão, S.E. Castan;
- Uma breve história do mundo, Geoffrey Blainey;
- Fausto, Goethe;
- O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde;
- O médico e o monstro, Robert Louis Stevenson.

E em formato eletrônico - Ebook, tenho centenas, todos seguindo a mesma linha. Tenho todos do Machado de Assis, vários de Dostoievski, Gorski, Tolstoi; H. G. Wells, Eça de Queirós, Jane Austen, Rimbaud, Voltaire.

O que queria, com isso, dizer que sou bastante influenciado pelas obras, não querendo dizer que tudo está sempre mal. Tenho uma ótima família, meus amigos são os melhores, meus colegas são maravilhosos, tenho um trampo legal, vivo bem e tenhos grandes planos. Prezo minha vida e faço sempre o que quero fazer. Escrevo o que me surge na cabeça e gosto de ouvir músicas bem feitas. Ah, e ressalto que não sou escritor, não tenho método nem estilo, apenas extravaso de forma escrita o que penso.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Pecado - Lima Barreto

Quando naquele dia São Pedro despertou, despertou risonho e de bom humor. E, terminados os cuidados higiênicos da manhã, ele se foi à competente repartição celestial buscar ordens do Supremo e saber que almas chegariam na próxima leva.

Em uma mesa longa, larga e baixa, em grande livro aberto se estendia e debruçado sobre ele, todo entregue ao serviço, um guarda-livros punha em dia a escrituração das almas, de acordo com as mortes que Anjos mensageiros e noticiosos traziam de
toda extensão da terra. Da pena do encarregado celeste escorriam grossas letras, e de quando em quando ele mudava a caneta para melhor talhar um outro caráter caligráfico.

Assim páginas ia ele enchendo, enfeitadas, iluminadas em os mais preciosos tipos de letras. Havia no emprego de cada um deles, uma certa razão de ser e entre si guardavam tão feliz disposição que encantava o ver uma página escrita do livro. O nome era escrito em bastardo, letra forte e larga; a filiação em gótico, tinha uma ar religioso, antigo, as faltas, em bastardo e as qualidades em ronde arabescado.

Ao entrar São Pedro, o escriturário do Eterno, voltou-se, saudou-o e, à reclamação da lista d'almas pelo Santo, ele respondeu com algum enfado (endado do ofício) que viesse à tarde buscá-la.

Aí pela tardinha, ao findar a escrita, o funcionário celeste (um velho jesuíta encanecido no tráfico de açúcar da América do Sul) tirava uma lista explicativa e entregava a São Pedro a fim de se preparar convenientemente para receber os ex-vivos no dia seguinte.

Dessa vez ao contrário de todo o sempre, São Pedro, antes de sair, leu de antemão a lista; e essa sua leitura foi útil, pois que se a não fizesse talvez, dali em diante, para o resto das idades - quem sabe? - o Céu ficasse de todo estragado.

Leu São Pedro a relação: havia muitas almas, muitas mesmo, delas todas, à vista das explicações apensas, uma lhe assanhou o espanto e a estranheza. Leu novamente. Vinha assim:

P. L. C., filho de..., neto de..., bisneto de... – Carregador, quarenta e oito anos. Casado. Casto. Honesto. Caridoso. Pobre
de espírito. Ignaro. Bom como São Francisco de Assis. Virtuoso como São Bernardo e meigo como o próprio Cristo. É um justo.
Deveras, pensou o Santo Porteiro, é uma alma excepcional; como tão extraordinárias qualidades bem merecia assentar-se à direita do Eterno e lá ficar, per saecula saeculorum, gozando a glória perene de quem foi tantas vezes Santo...

– E porque não ia? deu-lhe vontade de perguntar ao seráfico burocrata.

– Não sei, retrucou-lhe este. Você sabe, acrescentou, sou mandado...

– Veja bem nos assentamentos. Não vá Ter você se enganado.
Procure, retrucou por sua vez o velho pescador canonizado.

Acompanhado de dolorosos rangidos da mesa, o guarda-livros foi folheando o enorme Registro, até encontrar a página própria,
onde com certo esforço achou a linha adequada e com o dedo afinal apontou o assentamento e leu alto:

– P. L. C., filho de..., neto de..., bisneto de... – Carregador. Quarenta e oito anos. Casado. Honesto. Caridoso. Leal. Pobre de espírito. Ignaro. Bom como São Francisco de Assis. Virtuoso como São Bernardo e meigo como o próprio Cristo. É um justo.
Levando o dedo pela pauta horizontal e nas "Observações", deparou qualquer coisa que o fez dizer de súbito:

– Esquecia-me... Houve engano. É ! Foi bom você falar. Essa alma é a de um negro. Vai para o purgatório.


Publicado originalmente na Revista Souza Cruz, Rio, agosto 1924.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Bus


Ele embarcou no ônibus, puxou seus fones, colocou Rolling Stones e olhava para o mundo que passava pela sua janela.

Nesse momento de divagações, em que o tudo e o nada significam a mesma coisa, eis que percebe alguém no corredor fazendo gestos; pela leitura corpo-labial fez um gesto afirmativo e então ela sentou-se ao seu lado.

Sentiu um leve tremor vindo do corpo dela, um rubor que ascendia ao rosto e o leve abrir dos seus lábios.

Ele então ensaia diversas cenas, formas de abordagem, diálogos. Sabe que tem que agir. Nem imagina até onde irá a viagem dela.

Toma coragem. Enche o peito. Vira-se para ela e:

- Aceita um drops?

Frost/Nixon (filme)



Recentemente assisti esse filme, o qual recomendo a todos que gostem de um pouco de política, história e acontecimentos reais. 

Trata, essa película, de um momento da história estadunidense, em que, após o envolvimento do Presidente Richard Nixon em um escândalo de corrupção, mundialmente conhecido como Watergate, o mesmo torna-se o primeiro (e único) presidente norte americano a renunciar ao seu cargo.

O momento do filme é o pós-renúncia, onde o ex-presidente já está anistiado (sem qualquer julgamento, apenas o indulto de seu predecessor) de todos os crimes que cometeu e encontra-se recolhido em sua casa. Nenhuma declaração havia sido dada, tampouco alguma explicação.

Então surge a figura de um apresentador de talk show, David Frost (guardadas as devidas comparações, seria para nós o Faustão ou o SS), que fará de tudo para que possa entrevistar Nixon. Desacreditado por investidores e chacotado por todos, que imaginam que por não ser jornalista ou repórter político não conseguirá tirar nada do presidente, ele vai à luta pelo seu grande desafio.

Fielmente baseado na história real dessa entrevista bombástica, o filme é emocionante, com uma magnífica atuação do indicado ao Oscar (Melhor ator) Frank Langella como o Presidente Nixon, e Michael Sheen como o apresentador David Frost.

Para os desavisados recomendo uma pequena leitura sobre o Caso Watergate, facilmente encontrado no Google, Wikipédia e afins; para que se familiarizem com a história.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Escolha II

Não adianta insistir.

Tem dias que não quero fazer nada; não quero sair, não quero ver gente, não quero agito, nem badalação. Quero me recolher e passar um tempo sozinho. Então posso ler as páginas de um livro, ver um filme, rever um clássico, jogar videogame ou simplesmente ficar deitado olhando para o nada.

Há tempos que venho tendo esse tipo de comportamento. Não sei de onde surgiu ou como apareceu.
Apenas sei que se tornaram mais recorrentes.

Não é que não não goste mais de fazer o que fazia antes. Nem que não goste de estar com meus amigos. Acontece que algumas coisas enchem minha cabeça e não consigo ficar numa boa.

Se for para sair não escolho mais lugares pelo índice (pessoas/m²), prefiro um lugar onde há um som legal, mesas, meia luz, espaço e principalmente uma boa companhia (um lugar do caralho, como diz o mestre Wander Wildner). Um pub é o lugar ideal, pena que por aqui há poucas opções.

Nesses lugares se pode conversar, conhecer pessoas, curtir um som, degustar uns chopp's. Bem longe do empurra-empurra, dos banhos de bebidas, do gritedo e das confusões.

Sendo assim, deixem-me onde estou.

Não insista.

E se quiser chegar, tenho em casa bebidas geladas e música para acompanhar. Pois não há nada melhor que uma solidão a dois.

domingo, 2 de setembro de 2012

Nando Reis - All Star

Sonzinho para um fim de tarde

C.

E teu olhar?
Meio triste, meio decepcionado. Melancólico talvez.

Tentei argumentar o direito de falhar-lhe; entretanto as razões não foram boas comigo. Apenas esperei o momento. Ele nunca chegou.

No fundo, preferi a visão de teus olhos ressacados em minha mente a uma certeza vinda de teus lábios.

Ah, se eu te fizesse sorrir.

Ah, se dissesses que sim.

O mundo seria diferente.

Ele giraria em torno de nós dois.