terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Sonhos, por William Shakespeare

Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas,
só as de verão.
No fundo, isto não tem muita importância.
O que interessa mesmo não é a noite em si,
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre,
em todos os lugares,
em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

primeiros

Consigo lembrar da primeira palavra que li; lembro da primeira sala de aula que pisei; lembro do primeiro clássico da literatura que entendi; lembro da primeira fita k-7 de rock que escutei; lembro do primeiro aparelho de som que ganhei; lembro do primeiro cd que ouvi; lembro do primeiro beijo que roubei; lembro, também, da primeira vez que de amor sofri; hoje lembro da primeira vez que te vi, daquela tarde em que sorriu; teu olhar que de longe mirei; o abraço que imaginei; teu beijo que eu mesmo inventei. Lembrei de tudo isso pois, assim como a primeira vez que uma noite sonhei, sonhei esta noite também, o primeiro sonho mais uma vez.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

metáfora

Era forte
intenso
nos fazia viver
e suportar
e morrer
consumíamos um ao outro
troca de sentidos
sentia em mim
mais cor
mais sabor
muito mais calor
deixamo-nos
maldito tempo
perdeu-se o momento
passou-se o instante
não volta mais
assim como nós
meu café esfriou
solitário
no balcão eu peço:
uma coca-cola
sem gelo,
por favor.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Um sorrir

E com apenas um sorriso ela me cativa. Com uma palavra ela me acalma. Com um desvio de olhar ela me rouba a atenção. Eu pareço menino, vendo o mundo pela primeira vez. E são tantas cores, tantos brilhos, tantas formas nítidas em meu olhar que simplesmente me esqueço do mundo. Nem preciso parar, tudo para. Menos o tempo, esse insiste em passar e quando vejo já não a vejo mais. Tenho-a em mim. Todos os traços e trejeitos. Todos seus jeitos e todos abraços. Tantos eu vi, outros imaginei. Conto as horas que são dias. Em todos os dias espero a hora. E nessa hora sou menino e ela sorrindo é tudo que sonhei.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Sobre as vezes que a vi

Incontáveis vezes a vi passando na minha janela.

Muitas vezes corri feito louco apenas pra ganhar seu 'oi'. Infinitas outras imaginei. E sonhei. E esperei. E quis.

E me dizia: apenas mais uma vez.

E outra surgia. Algo acontecia. Talvez eu me perdia. Quem sabe ela desaparecia.

Não! não!
Ela esteve sempre ali.

Eu ria do riso dela, quando ela sorria para algo além de mim. Ahh, só eu sei quantas vezes beijei os lábios dela quando moviam palavras que não escutei. Tanto me perdi em seus braços de abraços que nunca provei.

Ontem a vi novamente. Procurei seus olhos. Seu sorriso. Suas frases. As palavras que brotavam da sua boca: as achei. Junto delas encontrei alento para muito que eu tinha pra falar. Arrependi-me, certa hora. Em outra achei abrigo e amigo para o coração.

Amanhã farei de tudo para vê-la. Será estranho. Será diferente.
Pode tudo mudar?
Talvez.

Não mudará nada, em mim, da vontade de viver tudo de novo quando eu tiver que partir.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

em mim: tu

a última imagem na minha noite
o primeiro pensamento no meu dia
quando durmo: os sonhos
quando acordado: os desejos
quando imagino: os beijos
quando esqueço: solidão
quando lembro: saudade
no meu presente: o agora
no teu futuro: um talvez

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Cidade Negra - A estrada

Ouvindo agora o Acústico MTV da Cidade Negra deparei-me com esse verso da música 'A Estrada', que compartilho aqui:

"Quero acordar de manhã do teu lado
E aturar qualquer babado
Vou ficar apaixonado
No teu seio aconchegado
Ver você dormindo e sorrindo
É tudo que eu quero pra mim
Tudo que eu quero pra mim"

É bem simples, não é? Mas acho que significa muito sobre o que penso de como deve ser...

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Sobre Daniela - Parte Final

Assim que Daniela retornou, levantei-me. Aproximei-me dela e, percebendo sua permissividade, toquei-a. Toquei seu rosto, toquei seu ventre. Senti seu corpo tremer e sua epiderme arrepiar. Falei que tudo ficaria bem. Que sempre estaria ali - ao pé de sua janela - para tudo que quisesse. Vi-a sorrir. O riso mais lindo de toda existência existência. Novamente nosso meio beijo aconteceu; dessa vez por um tempo maior que o primeiro. Ela baixou o rosto e foi se afastando. De súbito virou-se, formou uma frase e não a pronunciou, apenas disse-me: Você poderia me ajudar com a janela? Frente a frente, em lados opostos da casa ela me alcançou um bilhete. Já meio amassado, um pouco amarelado. Forçando, fechamos a janela. Sua imagem fundiu-se com meu reflexo e parti. No caminho de casa abri o papel de dois anos atrás que dizia: 'Vou te esperar, meu amado desconhecido. Todas as janelas que encontrar, abrirei. Todo tempo que restar, esperarei. Volte agora e fique um pouco mais.' Decidido, dei meia volta e corri pelas ruas; não perderia mais essa oportunidade de ficar um pouco mais. Atravessei o jardim e bati no vidro. Então, unindo nossas forças, juntos abrimos a janela.

Sobre Daniela - Parte Dois


Como pode acontecer algo assim? Como pode em apenas alguns instantes tudo se transformar? Como pode acontecer uma ligação assim entre dois estranhos? Tudo isso ocorreu a dois anos atrás, primavera. Sempre que pude passei em frente àquela mesma janela: fechada. Entretanto um fim de tarde como aquele em que vi Daniela pela primeira - e única - vez, olhei para a casa e a janela estava aberta. Petrificado fiquei apenas observando se via algum movimento. Nada. Quando consegui me mover, dei dois passos e a vi novamente. Os cabelos eram os mesmos, mesmos olhos, mesmo sorriso. Vi um rápido brilho passar no seu olhar que logo se desvaneceu. Achei estranho. Mais estranho foi que percebi uma certa dúvida na atitude que ela deveria tomar. Foi quando ela debruçou-se na janela e cumprimentou-me: oi; oi; tudo bem?; tudo. Vi que dentro da casa havia uma movimentação. Eu queria falar um monte de coisas para ela, no entanto nada saiu. Daniela pediu-me que aguardasse um momento que logo me encontraria no jardim. Por um tempo, que me pareceu uma eternidade, ela se demorou. Foi quando ela surgiu que notei o porquê de seu titubear à janela. Dentro de um lindo vestido florido avistava-se o ventre de Dani. Sorri para ela. Parabenizei-a. Felicitei-a. Expressei minha surpresa e minha alegria. Ao falar isso seus olhos brilharam mais uma vez, uma lágrima ousou rolar pelo seu rosto. Então, novamente sentados nos degraus da varanda ela contou-me sua história. Depois daquela tarde em que nos falamos ela retornou para sua cidade mas seu pensamento havia ficado em mim. Por diversos motivos nunca mais pode retornar para minha cidade; relacionou-se com algumas pessoas entretanto era tudo superficial. Numa dessas a, aproximadamente, seis meses atrás ocorreu um descuido e ali estava ela, esperando um bebê. Falou-me que o rapaz não quis saber do ocorrido, mandou que ela se virasse e abandonou-a sem mais nem menos. Daniela disse-me que não esperava nada dele, apenas palavras de conforto e companheirismo. Uma responsabilidade dividida. Por fim disse-me que durante todo esse tempo, naquela tarde, eu fui a única pessoa que a havia felicitado, sido sincero e mostrado a importância disso tudo que estava acontecendo. Fomos interrompidos, nesse momento, por alguém que a chamava para dentro de casa. Ela pediu-me que aguardasse um instante e ali fiquei. As ideias na minha cabeça brotavam uma atrás da outra. Não sabia mais como agir. Daniela então retornou e...

Continue acompanhando, logo mais você saberá o que vai acontecer na terceira e derradeira parte de 'Sobre Daniela'.

Sobre Daniela - Parte Um


Quero lhes contar hoje uma estória, que talvez aconteceu. Certa feita procurava um conhecido meu. Fui até a residência dele e não o encontrei, entretanto na casa vizinha desta observei uma moça que lutava contra uma janela. Sim, a janela estava emperrada e eu a via forcejando mais e mais e perdendo a batalha. Aproximei-me. Acho que só fui notado quando bem próximo cheguei, pois fiz a moça se assustar. Mas foi apenas por um breve segundo, logo ela - que estava dentro da casa - sorriu. Ofereci-me para ajudá-la. Unindo forças conseguimos fechar a janela. Ia já me despedindo quando a moça atravessou a soleira da casa e ofegante agradeceu-me. Apresentei-me e ela disse-me seu nome: Daniela. Dani, prazer. Contou-me que morava em outra cidade e que estava ali visitando sua tia. Falou que a janela em questão nunca era aberta, mas que ela conseguiu abri-la e depois não conseguia mais fechá-la. Chegou a dois dias e partiria na manhã seguinte. Conversamos por um bom tempo. Ah, não descrevi-a ainda: cabelos escuros, pele clara, olhos que pareciam o mar, estatura mediana e muito simples; vestia uma blusa branca e uma bermuda jeans, descalça. Sentados no degrau da varanda nos perdemos no tempo até a chegada da noite. Como costuma acontecer, num certo momento ficamos em silêncio. Ela brincava com uma flor que estava próxima. Eu, nervoso, apertava uma mão na outra. Sem tirar os olhos do seu rosto observava seu sorriso. Levantei e me despedi. Ela segurou forte na minha mão e um meio beijo aconteceu. Não era pra ser um beijo no rosto, muito menos um de lábios nos lábios. Mas o canto de minha boca tocou o canto da sua. Foram dois ou três segundos que duraram uma eternidade. Assim que parti, a vontade de ter permanecido já apertou meu peito. Como pode acontecer algo assim? Como pode em apenas alguns instantes tudo se transformar? Como pode acontecer uma ligação assim entre dois estranhos? Tudo isso ocorreu a dois anos atrás, primavera. Sempre que pude passei em frente àquela mesma janela: fechada. Mas um dia ela estava aberta e tive uma grande surpresa, mas só contarei no próximo capítulo. 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Insônia

Noite passada deitei-me às onze horas da noite. Previa um sono tranquilo, tão cansado estava. Eis que uma hora e meia depois - precisamente às 0:30 - acordei-me de sobressalto. Um sonho atormentou-me e da cama levantei. Sentado, no escuro do meu quarto, iniciei um monólogo de mim pra mim mesmo. Eram tantos pensamentos, tantas frases incompletas, tantos atos por realizar, que pensei em mais uma noite em claro. Tentando afastar tudo que havia em mim, adormeci. Qual minha surpresa quando os sonhos repetiram-se minutos depois. Não foram horas, foram minutos apenas. Pois acordei novamente. Caminhei pela negritude da casa, sentei-me no silêncio da cidade, na solidão da minha varanda. O vento trouxe até meu rosto alguns pingos da chuva que caía. Não senti frio, nem calor, não senti nada. Por um longo tempo fiquei a fitar o vazio; a água que corria na calçada, uma luz que longe brilhava, o chilrear distante de uma coruja. O cansaço e a iminente chegada de um dia cheio levaram-me ao leito mais uma vez. Ao acordar pela manhã pude lembrar de tudo que aconteceu nessa singular noite: o sonho, os pensamentos, as frases incompletas, a noite silenciosa e ao mesmo tempo inquieta. Aqui estou, mais um dia, apenas esperando o cair da noite para mais uma madrugada como tantas outras serão.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Azul


Olhei para o céu
infinito
Mas foi no azul
que a vi
Assim como infinita era
a beleza
No azul percebi
Olhos: duas estrelas
Meia lua: o sorriso
E como o céu cobre a terra
o azul envolveu seu corpo
e me envolveu
De longe olhei
não conseguiria tocar
Com as mãos apontadas
para o que era
permaneci
E gritei para o infinito
- Caiam sobre mim,
estrelas, lua, céu,
corpo, olhos, sorriso.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

De volta para o futuro II

Achei que talvez esse dia nunca chegaria. Outras vezes achei que eu não chegaria nesse dia. Aqui estamos: o dia e eu. Não saberia enumerar quantas vezes vi este filme (Back to the future II). Lembro bem que ganhei-o gravado num VHS (ainda existe?) de um colega de aula. Tantas expectativas e tanto tempo se passou... Hoje o assistirei novamente; assim como ontem já o vi.

Obrigado Robert Zemeckis.

Obrigado Michael J. Fox, Christopher Loyd,  Thomas F. Wilson, Elisabeth Shue.

Thanks Marty McFly, Doc Brown, Biff Tannen, Jennifer Parker.

É sempre bom viajar ao futuro revendo esse filme do passado.



terça-feira, 20 de outubro de 2015

Livros

Tem coisa melhor que a chegada de livros?

O cheiro das páginas... tanta história pra contar...

Bukowski - Pulp - Trecho

(...) Tomei mais um scotch.

      Diabos, eu falhara até com mulheres. Três esposas. Nada realmente errado de cada vez. Tudo destruído por briguinhas à toa. Implicâncias por nada. Ficar puto por tudo e por nada. Dia a dia, ano a ano, ralando. Em vez de se ajudar um ao outro, a gente se cortava todos os dias, por uma coisa e outra. Uma aporrinhação infindável. Torna-se uma competição barata. E, uma vez que a gente entra, vira um hábito. Parece que não vai conseguir sair. A gente quase não quer sair. E de repente sai. (...)

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

So tired

I´m so tired of being lonely
I still have some love to give
Won't you show me that you really care
Everybody's got someday to lean on
Put your body next to mine,
                                             and dream on

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Decisão

Neste fim de semana reli todos os textos que escrevi aqui. Todos MESMO. O que percebi foi desalentador. Muito não deveria ter escrito; mais ainda sequer deveria ter publicado; a maioria nem consegui entender. Foram textos e poemas e crônicas confusos. Resultado de uma pressa e uma ânsia em ser ouvido que apenas fluiram palavras - muitas vezes - sem sentido algum. Talvez esteja repetindo o mesmo erro agora, talvez não. O que tenho de certeza para o momento é o tempo que darei no que publico. Escrever eu não consigo parar. Só vou selecionar muito bem, a partir de agora, o que quero que todos vejam.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

sobre agora

Dos teus lindos lábios, eu receberia as piores notícias.

E, mesmo assim, de meus dedos fluiriam as palavras mais doces que pudesse te dizer.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Reciprocidade

Navegando pela internet nesses últimos dias deparei-me com algumas postagens de pessoas que, por exemplo, estavam EXIGINDO RECIPROCIDADE de alguns sentimentos; outras também que praticamente ESTAVAM OBRIGANDO os outros a gostarem e se aproximarem delas.

Muita calma nessa hora, pessoal!

Não é bem assim que funciona.

Ninguém é obrigado a gostar ou deixar de gostar de alguém. Cada um sabe o que se passa dentro da sua cabeça e do seu coração. Clamar por atenção ou exigir de outrem uma postura diferente do que vemos é ser muito baixo.

O que deve existir, sim, é a clareza do que a pessoa sente - mesmo dentro das nuances que cada qual usa para se expressar. Deixe transparecer o que você é, o que você deseja, o que você se propõe, o que você espera e até onde você está disposto a ir.

Sejamos sinceros. Estejamos abertos. Acima de tudo, realistas.

Reciprocidade só virá de alguém que se propõe a ser recíproco. De resto, a verdade quase sempre machuca, mas ainda é a melhor forma de respeito ao próximo.

Apenas mais uma de amor - Lulu Santos

Certa vez fui num show do Lulu Santos e foi um dos melhores shows que presenciei até o momento. Ele cantou essa música, a qual nomeou APENAS MAIS UMA CANÇÃO DE AMOR. Talvez não seja APENAS MAIS UMA mas sim A DEFINITIVA CANÇÃO DE AMOR.

Ó a letra:

Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim, ficar
Subentendido

Como uma ideia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Eu acho tão bonito isso
De ser abstrato, baby
A beleza é mesmo tão fugaz

É uma ideia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A mulher

Tudo o que sei é que existem bilhões de mulheres no mundo, certo? Algumas bem bonitas. Muitas muito bonitas. Mas de vez em quando a natureza nos sai com um truque bestial: reúne todos os atributos numa mulher especial, uma mulher inacreditável. Quer dizer, a gente olha e não acredita. Tudo se move em perfeita ondulação: planetas, estrelas, a água, o vento. A gente vê o braço, o cotovelo, o peito, o joelho, e tudo se funde numa unidade gigantesca - um todo inesquecível - com aqueles olhos lindíssimos a sorrir, a boca meio descaída, os lábios imóveis como prontos para estourar numa gargalhada, pela sensação de impotência da gente. E ela sabe se vestir. E o cabelo longo incendeia o ar. E então, amigo, não há nada mais a fazer. Apenas aceitar

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Um só

Deitas então com a cabeça sob meu antebraço, não sem antes beijar-me apaixonadamente. De costas para mim nos encaixamos. Somos um só. Meu rosto todo perdido entre seus cabelos: sua cor, seu cheiro, seu gosto. Beijo lentamente o segredo do seu pescoço, tu arrepia. Mão com mão bailamos no palco do nosso corpo; torso, pêlos, pele. Te solto e te aperto. Fique perto. Teus olhos fechados e teu respirar aberto. Não solto. Devagar suspira. O sono vem vindo. Tiro o braço e o travesseiro te espera. O abraço do edredon. Nunca longe te vejo dormir. E sonhar. E voar. E ser. A manhã chega e deitas então com a cabeça sob meu antebraço, não sem antes beijar-me apaixonadamente.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Uma delicada questão

"Qual o seu deus? O que ele pode fazer por você? Até que ponto a fervorosa religiosidade pode te influenciar?

Pois bem, essas acima, são questões delicadas, nem sempre respondidas, nem sei - na verdade - se há respostas, mas hoje vou contar algo que vi. Um fato. Isso eu presenciei.

Conheço há temos um senhor que reside no interior de minha cidade. Ele tem uma casinha boa de morar, umas galinhas soltas no pátio - que lhe provem ovos, uma vaca ou duas - que lhes fornece o leite diário, meia dúzia de porcos, uma horta, enfim, tudo que uma pequena propriedade agrícola familiar pode proporcionar. Residem com ele a esposa e três filhos, que trabalham dia após dia, juntos, na lida campeira.

Então. Esse meu amigo tinha como principal fonte de renda a produção e venda de aguardente de cana. Eles próprios colhiam a cana, faziam a moagem, coletavam o caldo-de-cana e faziam a destilação desse mesmo. A 'pinga' que eles fabricavam era uma das melhores e mais requisitada da região. Eles a traziam para a cidade e vendiam nos bares e mercados daqui. Em casa, eu a utilizava para a tradicional caipirinha de domingo e na preparação de alguma massa ou doce.

Aconteceu que essa família recebeu, certa tarde, a visita de um religioso que percorria o interior da cidade. Este os convenceu a participar de suas reuniões e a família tornou-se frequentadora habitual dos cultos religiosos. Um dia, este, disse para este meu amigo que ele deveria para de fabricar aguardente, pois esta era um mal que ele estava difundindo pela cidade; que ela era uma destruidora de lares, que era coisa do demônio e outras coisas mais.

Depois de quase 60 anos fabricando seu ganha pão, esse senhor parou de produzir cachaça. No entanto ele não sabia fazer mais nada. Tentou outras culturas e não teve sucesso em nenhuma. Perdeu algumas colheitas e começou a endividar-se. Não conseguia mais dar a volta. Um de seus filhos saiu a procura de emprego. Depois outro e o outro também. Agora eles saem de casa antes do dia clarear e retornam depois que o sol se põe, trabalhando em uma multinacional para ganhar um mísero salário.

Dias atrás reencontrei o meu amigo. Em oito meses ele envelheceu mais do que todos os outros anos em que o conheci. Sua fala está cansada, seus ralos cabelos esbraquiçaram de vez. Com a voz embargada e uma lágrima nos olhos contou-me essa história. Não tem mais esperanças em seu coração.

Indo para casa, ao final do dia, passei em frente aos bares da cidade. As pessoas continuam lá. Trocaram a boa aguardente desse nosso amigo por outra qualquer. Os doces, nas casas, serão feitos da mesma forma que antes. Foi então que minha mente viajou. Foi para junto daquele senhor, sentado na varanda de casa, o mato tomando conta do seu pátio e roça, sozinho, esperando a noite cair e aguardando o retorno dos filhos, os quais quase nunca os vê."

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

olhos

Ela treme ao vento como a última folha de uma árvore morta. Deixo que escute meus passos. Ela estremece por um único instante.

- Aceita uma bebida?
- Aceito. Está tão cheio dessa gente quanto eu?
- Não vim aqui pela festa. Vim aqui por você. Tenho lhe observado há dias. Você é tudo que um homem poderia desejar. Não é só seu rosto, seu corpo ou sua voz. São seus olhos. Tudo o que vejo em seus olhos. 
- E o que vê em meus olhos?
- Vejo uma calma insana. Está cansada de fugir. Está pronta para enfrentar o que tem que enfrentar, mas não quer fazer isso sozinha. 
- Não... não quero enfrentar sozinha.

O vento carrega eletricidade. Ela é macia e quente. Seu perfume é uma doce promessa que me traz lágrimas aos olhos. Digo a ela que tudo vai dar certo. Que vou salvá-la do que ela teme e levá-la para bem longe. Digo que a amo. Eu a abraço forte até ela partir. Nunca saberei do que ela fugia.

Chove.

Seu vestido, assim como seu batom, era vermelho.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Amor descontrolado


Uma sensação boa toma conta de mim; da minha cabeça, do meu corpo, dos meu olhos, do meu coração. Amo! Amo sim! E este sentimento parece não ser correspondido. Sou levado a acreditar uma ou duas vezes em menos de sete dias que seremos muito felizes. Me fazes imaginar sorrindo um do riso do outro, um beijo em uma noite apenas, talvez chegue a namoro - imagino até, quem sabe, um casamento - onde seremos muito mais felizes que qualquer outro ser. Mas vivendo essa ilusão nunca imagino o fim. Invariavelmente chega um tempo em que tu me desaponta. Não! Não é culpa sua. Os sonhos vivem em mim. Já deveria estar acostumado e calejado com essa situação. No entanto não quero. Quero sim aproveitar esses momentos de euforia, momentos em que tu, só tu existe e me fazes feliz. Ah, a doce ilusão de uma miragem logo a frente que, talvez, nunca chega. Só saibas que ontem, hoje, amanhã, nos próximos anos, imaginarei tudo novamente por mais uma semana. Faça-me sonhar nesses dias, garota, faça-me iludir pelo resto da vida, meu Grêmio.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Quando sonho

Meus sonhos, que eram recorrentes, tornaram-se escassos. Pouco durmo, menos sonho. Entretanto quando tu aparece neles algo de diferente trazes, sempre. Noite dessas sentávamos, tu e eu, num café; meia luz, as cortinas permitiam que apenas alguns raios de sol chegassem a nossa mesa colocada num canto do recinto, o barman secava alguns copos e organizava as bebidas na prateleira, apenas um senhor tomava seu breakfast no canto contrário ao que estávamos. Nada falamos, em momento algum. Conseguia ver, mesmo na penumbra, o brilho do teu olhar e a leveza do teu riso. No entanto o que marcou-me - e até agora sinto - foram as sensações e lembranças que tive. Descrevo-as, como se pudesse percebê-las neste momento: cheiro de chuva, assim como ouço os primeiros pingos caindo no telhado; Janis cantando, Pink Floyd tocando, uma letra do Cazuza - sim, tudo ao mesmo tempo; o sol que brilha no mar, a areia da praia, a liberdade de correr num gramado, o sol se pondo e a estrada infinita à frente; a surpresa de um presente ganho, o cheiro de uma rosa, a maciez dos pêlos de um cachorro, o gorjear de um pássaro numa manhã de primavera; a primeira vez que te vi, a única vez que andamos lado a lado, o cheiro dos teus cabelos, o calor de tuas mãos, o singular som da tua voz, todas as vezes que em pensamento te beijei. Acordo. Te desenho. Te esqueço. E acompanha-me durante mais um dia tudo isso que, por uma noite, pude sentir.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A mim

Novamente tomei papel e caneta por entre meus dedos e deixei fluir tudo que havia em mim. Eram palavras destinadas a ti; coisas que queria te falar; coisas sobre tu e eu. Por horas as palavras que deviam sair de minha boca, apareceram no papel. Minhas mãos doeram, meu peito apertou, meus olhos lacrimejaram. Finitas frases de infinitos sentimentos. Páginas e páginas do pouco que pude expressar. Ao final, então, dessa noite juntei todas as folhas que havia em volta de mim. Li, desde o início tudo que havia escrito. Percebi antes mesmo de te enviar essa carta que, no fim das contas, o destino de todas as palavras que escrevi eram apenas para os olhos meus.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

epitáfio


Há um banco
Onde minha amada senta
Seus pensamentos voam
Mas são pra outro que vão
Ela ama seu jeito despojado
Quando finge não se importar
Toda sexta-feira eles se encontram
E juntos pegam fogo
E a minha amada
Que já foi sincera comigo
Acomoda-se nos braços dele
Sentada sobre seus joelhos
Murmura amor em seus ouvidos
Então eu
Eu cavo meu próprio abismo
Aquele em que caio
Sem nunca atingir o chão
Lágrimas e nuvens
Cinzas e chuva
Grudam em meu corpo
Adeus, para você
Pois temos que nos despedir
Não fique triste com nossa separação
Lembre-se que os melhores amigos
Tem um dia que se separar
Penduremos nossos corações
Em galhos de árvores
E que o abismo que cavei
Torne-se cova larga e funda
Com uma lápide, acima de mim
Contendo apenas uma frase:
Fique claro que morri de amor

domingo, 23 de agosto de 2015

escuridão

É uma coisa rara encontrar um amigo neste mundo, um amigo verdadeiro. Mais raro ainda um que poderia... tornar-se mais. Há quem faça e arrisque tudo por isso. E, embora o mundo e toda sua força tente extinguir seu amor, eles o queimam, feroz e brilhantemente, como o sol. O amor que conheço e a força exigida de mim não estava lá. Eu falhei. Não quis lhe causar esta dor. Dizem que o passado não passa de um magnetismo escuro. Que tu me ajudarias a resistir. Eu sairia da escuridão se tu me ajudasses a conhecer o sol.

ilustre

Ilustre garota
Ilustre meus poemas
Ilustre músicas
Ilustre a vida
Ilustre nossos beijos
Ilustre nossos sonhos
Ilustre teu querer
Ilustre meu desejar
Ilustre nosso andar
Ilustre nosso viver
Ilustre nosso pensar
Ilustre também o pesar
Ilustre teu sorrir
Ilustre teu cantar
Ilustre teu murmurar
Ilustre teus lábios
Ilustre teu falar
Ilustre meu nome
Ilustre nosso amar

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Teatro


Quando dei por mim estava dentro de um teatro. Todas as cadeiras estavam vazias. Havia uma movimentação nos bastidores, no entanto não me apercebia do que estava acontecendo. Passando no corredor olhei de um lado para outro: solidão. Dezenas de lâmpadas de várias cores eu sabia que apontavam para o palco, apenas uma estava acesa. Aquela semiescuridão me deixou agoniado. Por uma escada lateral invadi o local da apresentação. Uma porta entreaberta me levou até o camarim. Por uma fresta, pude vê-la: o olhar no espelho, um batom vermelho na mão, o vestido com metade dos botões por fechar. Um contrarregra segurou-me pelo braço e repetiu palavras do meu texto: "Sinto muito, amada minha, devo te deixar. Outros amores, outros abraços, outros calores, irei provar...". No centro do palco uma cadeira vazia, uma janela para o infinito e algumas flores artificiais. Lentamente caminhei para meu lugar marcado, aguardando o momento certo de pronunciar as frases que não queria falar.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Importuna Razão, não me persigas - Soneto de Bocage

Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;

Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.

É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É chorar, delirar, morrer por ela.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

perguntas

então após um longo de tempo de incertezas, dúvidas, um quê de sofrer, outro de esperar parei para pensar e me fazer uma pergunta:

por quê?

por quê não daria certo?
por quê não estamos em sintonia?
por quê este martírio?
por quê tão longe assim?
por quê este tanto imaginar?
por quê se esperançar?
por que não perto de mim?

não obtive nenhuma resposta.

foi neste momento que resolvi mudar a perguntar:

por quê aconteceu isso comigo, sobre você?

foi então que a vi em minha cabeça e tornou-se claro.
e soube também que, apesar de tudo, cada segundo vale a pena.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Perfume


meu calor aquecia teus pés
teu perfume inundava meu quarto
madeira, flores, essências
de marfim tu foste feita
brilhava nos olhos meus
teu riso incandescente
tua fala calma e serena
o som em volta não atrapalhou
cores, imagens, brilhos
um querer mais que tudo
teu cheiro no meu travesseiro
que por uma noite abracei
um beijo que não veio
outro abraço que não aconteceu
o desejo que nunca morre
a manhã que renasce
de ti apenas ficou
o que deixaste em mim

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Soneto da confusão

eu que sei a diferença entre mas e mais
faço uso dos verbos intender e entender
também sei bem o que é demais ou de mais
sempre comprometido com bem dizer e bendizer

já estive em faculdade e em escola
fui namorado e enamorado
sei o que é pepsi e coca-cola
ora descolado outra desolado

só não sei separar felicidade e sofrer
o que é amizade do que é amor
o que eu ouço e o que quer me dizer

talvez amar seja mesmo a dor
meu bem querer não seja teu querer
que mesmo brando é avassalador

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Som ao redor

Certo dia conheci uma garota. Ela havia morado a vida inteira em uma grande cidade. Contou-me dos perigos que haviam nas ruas, do recolhimento dentro de seu condomínio, contou-me dos horários certos e das noites que passava olhando outras janelas.

Um dia trouxe-a para conhecer o meu mundo.

Eu, moro numa cidade pacata, simples, com um estilo interiorano próprio de ser. Chegamos tarde da noite; pela manhã ela disse-me que não havia conseguido dormir nada. Apesar de conviver com o barulho das sirenes, dos carros acelerando e freando, das pessoas que falavam todas juntas e nada se poderia ouvir, ela estranhou o som do nada. O barulhinho dos grilos, um gato que pisava nas folhas secas do meu pátio, um cachorro solitário que ao longe uivava.

Durante o dia ela se impressionou com as pessoas que se conheciam na rua: um que parava para conversar, outro que tinha em suas mãos cestos de frutas e as distribuía, um cheiro de pão quentinho que saía pela janela da vizinha. Tudo muito estranho, ela me disse.

Nesta noite, então, sentamos na frente de casa. Assim que o sol se pôs, por detrás de outro monte surgiu um clarão. Petrificada, ela teve o primeiro vislumbre de um nascer da lua. Tal como dia, fez-se a noite. Deitados na grama, ficamos por horas olhando apenas para o mar de estrelas. Ela disse-me que, por conta da claridão dos arranha-céus de sua cidade, nunca tinha visto espetáculo tão bonito. Nesta mesma noite ela dormiu.

Agora mesmo lembrei-me dela; lembrei-me daquela noite; lembrei das coisas que nunca devo esquecer. Apaguei as luzes da casa, desliguei a tv e o rádio, seitei-me na varanda e só quero ficar. Estar aqui olhando e vendo apenas o som ao redor.

Gustave Flaubert (1821-1880)

"Entretanto, as chamas abrandaram-se, seja porque a provisão se esgotasse, seja porque a acumulação fosse muita. Extinguiu-se o amor, pouco a pouco, pela ausência; à saudade sucedeu o hábito; e aquele clarão de incêndio que lhe ruborizava o céu desmaiado se descobriu de mais sombra e desapareceu gradativamente."

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Codinome beija-flor - Cazuza

eu poderia descrever tudo em mim em palavras, meras palavras,, repetidas,. todas inesquecíveis mas já utilizadas. sempre pelos melhores: renato russo, marina, alcione (sim, ela!!), roberto, rita, ney matogrosso, zé ramalho, alceu valença, belchior, adriana calcanhoto, cazuza (dizendo que quer 'sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida...") em "todo amor que houver nessa vida", ou talvez erasmo, pepeu, menino arnaldo batista, ou o antunes.. talvez todos os titãs, ou os paralamas, ou qualquer um... mas ninguém vai me responder na rua beija-flor:

Madrugada

É alta madrugada. Inquieto não durmo; passam imagens, arrastam-se as horas. Um turbilhão de sentimentos afligem minh'alma. Ah, donzela! se soubesses o conflito entre alento e sofrer que trazes pra mim. Se em sono caísse em sonhos te teria, mas basta que feche meus olhos para que minhas entranhas ganhem vida. Tortura-me este frio que gela meu corpo e este calor que não se apaga dentro de mim. Uma dezena de vezes levantei-me do leito, uma centena de vezes guardei teu retrato no fundo do baú, a mesma centena em que de lá o tirei e milhares de beijos te dei. O vidro não devolveu-me o gosto dos teus lábios, esse os imaginei quando, prostrado no canto do meu quarto, declarei-me mais de uma vez. As cartas que me mandaste quase desmancham-se tantas lágrimas verti sobre elas, pouco importa! sei, letra por letra o que elas trazem pra mim. Ao final desta noite peço-te então que mate-me de amor ou aniquile em mim este sentimento. Sou feliz e sofro. Sou um amante e um desgraçado. Sou paixão e padecimento. Oh mulher dos olhares e sorrisos e vozes e existência em mim. Nada há como isto que sinto agora e que não deixa-me sonhar nem dormir.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Sonho de uma noite de verão, Shakespeare - trecho

Ontem à noite tomei em mãos o livro 'Sonho de uma noite de verão', de William Shakespeare. Livro este que me foi dado de presente por uma estimada colega de faculdade (thanks C.) em certa passagem de meu aniversário. Além de muito feliz e surpreso, à época, passei a interessar-me mais pelo estilo literário deste grande autor. Já li muito dele e talvez em outras oportunidades escreverei sobre isso, hoje só quero escrever que quando peguei este livro ontem, aleatoriamente abri-o em uma página e estava escrito isto aqui, que abaixo transcrevo, e que muitas vezes foi um alento a cada vez o reli.

Ó:

'HELENA - Ah, noite cansativa, noite longa e enfadonha, abate tuas horas! Brilha, consolo, desde o oriente, para que eu posssa voltar a Atenas à luz do dia, afastando-me desses que rejeitam minha pobre companhia. E tu, sono, que às vezes cerra um olhar carregado de tristeza, poupoa-me por alguns instantes de minha própria companhia.'

segunda-feira, 27 de julho de 2015

hoje não

Não, hoje não haverá teu bom dia. Pois hoje será um novo dia. Um novo dia pra mim, que sofro a cada noite mal dormida; a cada manhã em que o primeiro pensamento é teu; a cada passo que dou em direção ao nada; a cada beijo que imagino e que não acontece. E iludo-me que me amas; de que a distância nos impede; de que me queres como eu te quero; de que um dia.. ah um dia.. estaremos juntos, sonhando o mesmo sonho e vivendo a mesma vida. Mas não. São só ilusões. A verdade é que não há em ti esse sentimento por mim. Isso é simples e muito normal. Acontece sempre; da mesma forma que acontecem essas por mim. E tão envolvido estou nisso que pouco percebo outras histórias ocorrendo neste momento a minha volta. Tantas chances; tantos lugares; tantas pessoas. Eles também me esperam e iludem-se e o mundo gira parando sempre no mesmo lugar. Sinto muito. Vou ter que partir; olhar para dentro de mim e procurar algo que nem sei ainda o que é. Mas que me dê forças e que cure essa ferida que ousa machucar. Perguntas-me se tenho esperança de que isso passe: te respondo que não. Só sei que tenho que fazer; mesmo sabendo que quanto mais se reprime algo, mais ele aumenta. E aumenta. E aumenta. Amanhã será outro dia. Estaremos tu e eu do mesmo jeito. No entanto hoje não haverá teu bom dia.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Hoje cedo

Uma das surpresas contidas no disco do Emicida, que comprei essa semana, foi uma música dele em parceri com a Pitty: Hoje cedo.

Baita som.

E ele começa assim ó:

Hoje cedo
Quando eu acordei e não te vi
Eu pensei em tanta coisa
Tive medo
Ah, como eu chorei, eu sofri
Em segredo
Tudo isso
Hoje cedo



Pois é...

Come together

Beatles,, sempre eles!

Muito bons versos para esses dias.

"One thing I can tell you is
 You got to be free
 Come together, right now
 Over me"


"Uma coisa que eu posso dizer pra você
 É que você tem que ser livre
 Venha cá, agora mesmo
 Junto a mim"

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Cenas

Cena 1:
Ambos riam. Ela das piadas e histórias bobas dele. Ele ria do sorriso dela.


Cena 2:
Ela fala de um novo amor. Ele sorri, feliz por ela. Por dentro desaba.


Cena 3:
Ele vê ela na rua: mãos dadas; agora são três.


Plano aberto:
As cenas na tela. As cadeiras vazias do cinema.
Eu como único expectador.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

O que a gente podia fazer - Vanguart

Fui sozinho
O meu caminho
Quem ia cuidar de mim
Melhor que eu?

Seu fatalismo
Na hora errada
A gente soube mais
Quando não sabia nada

Dei a partida
Olhando o Cristo
Ao meio-dia
O que eu ia fazer,
O que eu iria fazer?

E nas ondas do mar
Eu vi você voltar
E nas ondas do mar
Eu desapareci...

Parece uma piada
Ontem fez dez anos
Desde a última vez
Que eu te olhei nos olhos

E não tem remédio
E não tem cigarro
Que acalme o diabo de pensar
O que a gente podia ser
O que a gente podia ser

(talvez dentro do mar)

E nas ondas do mar
Eu vi você voltar
E nas ondas do mar
Eu desapareci...
(o tempo eu esperei)

Talvez dentro do mar
Talvez noutro lugar.

Tristeza - Rimbaud

"Assim, minha tristeza voltando sempre, e me achando mais perdida aos meus olhos - como a todos os olhos que quisessem me encarar, se eu não tivesse sido condenada para sempre ao esquecimento de todos! - eu tinha cada vez mais fome de sua bondade. Com seus beijos e abraços amigos, era mesmo um céu, um escuro céu, onde eu entrava, e onde gostaria de ser deixada, pobre, surda, muda, cega. Já eu me acostumava. Eu nos via como duas boas crianças, livres para passear no Paraíso de tristeza."

terça-feira, 21 de julho de 2015

Noite

Rolei da cama e fui ao chão. Quase sem forças me arrastei por um longo tempo, tateando às cegas as paredes do meu quarto. Levantei-me agarrando a janela e novamente caí. O barulho do vidro da mesa de centro quebrando não chegou aos ouvidos de ninguém. O sangue que correu pela minha testa cegou meu olho direito e o senti doce no canto da boca. Deitado, sozinho, no escuro. Não sentia dor, não sentia medo, não sentia nada. Poderia ficar deitado ali para sempre. O instinto me fez tentar, mais uma vez, levantar. Agarrei-me ao que sobrou da mesa e fiz um esforço sobre-humano para ficar de pé. Cambaleei para fora do quarto. Nada via. Apenas sentia o líquido espesso que tomava conta do meu rosto. Consegui chegar até o banheiro mas, mesmo com a luz acesa, no espelho não enxerguei meu reflexo. A água que correu na pia, nas minhas mãos e no meu rosto purificou-me o corpo. Uma pequena cicatriz ficará em minha testa. Meu olho agora é cinza. Suspiro. Sem saber o que fazer.

Sobre minhas postagens

Hoje escreverei um pouco sobre o meu estilo de escrita - ou a falta dele.

Muitos gostam dos meus textos/poemas/crônicas e tecem críticas acerca de alguns pontos dos mesmo, então tentarei esclarecer algumas coisas sobre isso.

Lá vão:

- não sou escritor;
- não sou poeta;
- não sou nada perto de autor de nada;
- meus poemas e sonetos ou não tem rima ou não métrica (seja lá o que for isso) ou nenhum dos dois;
- meus textos podem ter muitos parágrafos ou nenhum;
- depois de um ponto final em frase, posso reiniciá-la com maiúscula ou não;
- posso usar muitas vírgulas e ponto-e-vírgulas ou também posso não usar nenhuma delas;
- erros de concordância sempre existirão - alguns acidentais outros intencionais;
- escrevo sobre dor e sofrimento e não necessariamente sofro; escrevo sobre amor e não obrigatoriamente amo; ou sinto tudo ao mesmo tempo;
- nem tudo é autobiográfico;
- repito títulos e repito temas e repito qualquer coisa que quiser - inclusive repeti um monte nesta mesma frase.

Sei que não esclareci nada aqui. E também desejo que continuem os comentários e críticas, afinal é sempre um aprendizado.
Só que saibam que é por vossa conta e risco as leituras das postagens.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

destino

a gentre destrói aquilo que mais ama. e o contrário também é verdadeiro. e a gente se envolve com o impossível, tenta ter aquilo que não nos é destinado. apaixona-se pelas pessoas mais improváveis. aquelas que não estão nem aí pra você. tentamos nos provar que conseguimos qualquer coisa. então se conseguimos ser notados, abandonamos o objetivo principal e focamos em outro impossível. é sempre assim. muito tarde percebemos que tudo estava bem ao nosso lado, perto - não fácil - mas acessível. e recíproco. no entanto o destino é a dor, sentir a dor, buscar a dor. todos nascemos para sofrer. e só quando percebemos isso é que nada mais importa. e estamos livres.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Dia de inverno

Um dia frio, chuvoso e triste pode ser salvo com algumas coisas simples:

- estar com quem você gosta;
- receber um desejo de 'bom dia' sincero;
- ver alguém que te faz bem;
- sopa de agnoline e uma baciada de pastéis.

Pronto.

Seu dia pode ser muito mais feliz.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Uma alma apaixonada - Trecho de O sofrimento do jovem Werther, de Goethe

Relendo o grande clássico de Goethe - O sofrimento do jovem Werther - pela enésima vez, deparei-me com um trecho sobre o qual, mais ou menos, escrevi dias atrás. Werther (o protagonista) encontra-se com um rapaz e inicia um diálogo com ele; o rapaz abre seu coração e tenta descrever a sua amada. O autor nos diz então que, nem que ele se esforçasse, conseguiria exprimir todo o amor que viu neste jovem. Pois não há nada que possa ir contra uma alma imersa em paixão.

Segue o trecho:

'(...) Contou-me ele que trabalha para uma viúva que o trata bondosamente. De tal modo falou-me dela, tecendo-lhe mil louvores, que percebi logo haver de sua parte um devotamento de corpo e alma. "Ela já não é moça", disse-me, "e, tendo sido muito infeliz com o marido, não quer mais casar-se." Sentia-se claramente, através dessas palavras, quanto ele a acha bela e sedutora, e deseja que ela o escolha para apagar a lembrança dos maus tratos sofridos com o seu primeiro esposo! Seria preciso repetir tudo isso palavra por palavra, para dar a você uma idéia da pureza desse afeto, do amor e fidelidade desse homem. Mais: seria preciso que eu tivesse os dons de um grande poeta para pintar a você, de modo eloquente, a expressão dos seus gestos, o som harmonioso da sua voz, o fogo interior que brilhava nos seus olhos. Não! Palavra alguma pode exprimir a ternura que transparecia em seus gestos e no seu rosto; por mais que eu me esforçasse, seria sempre opaco e pesado. Comoveu-me, sobretudo, o seu temor de que eu suspeitasse injustamente da conduta dessa mulher em relação a ele. Como era encantador ouvi-lo falar do seu rosto, de toda a sua pessoa, a qual, embora tivesse perdido a frescura da mocidade, o atraía e prendia com um fascínio irresistível! Só posso repetir tudo isso a mim mesmo, ao mais profundo da minha alma. Em toda a minha vida, nunca vi tão ardente paixão e tão alvoroçado desejo aliados a tanta pureza. Posso garantir-lhe que nem em sonhos eu me sentiria tão puro. Não me escarneça; afirmo-lhe que, só à lembrança de um sentimento tão sincero e cheio de inocência, sinto-me abrasado até o mais profundo do meu ser. A imagem dessa paixão acompanha-me por toda parte e, também eu, presa do mesmo fogo, ardo e entristeço-me. Farei tudo para ver essa mulher o mais cedo possível, ou, refletindo melhor, evitá-la-ei. Bem melhor será que eu a veja através dos olhos do seu amante, pois aos meus talvez se apresente muito diversa daquilo que se me afigura. Por quê estragar uma tão bela imagem?(...)'

terça-feira, 14 de julho de 2015

Sobre o que realmente importa

Estou sem meu telefone. Por algum motivo - que no momento pouco importa - fui privado dele. Percebi, em menos de 24 horas, o quão dependendente estou (estamos?) desse tipo de tecnologia. Ontem à noite abateu-me uma agonia, um tipo de despero que não soube explicar, nem conter. Talvez fosse pelo valor do bem, talvez pelo valor incalculável implícito nele, ou mesmo pelas possibilidades que ele me trazia. Então lá fora o céu piscava: raios, trovões, ventos. Ventava muito. Uma chuva forte assolava minha rua, minha cidade, quem sabe o país, o mundo. Do nada pensei no meu pequeno irmão, deitado em sua cama, protegido pelos cobertores e paredes e telhado. Pensei nos meus amigos sentados à mesa com uma xícara de leite quente e um pão fresquinho à frente. Pensei nas pessoas que, protegidas pelos vidros das janelas, observavam o mundo desabar lá fora. Foi aí que pensei na infinidade de pessoas que não tem esses privilégios: segurando com forças seus trapos junto ao corpo; o papelão que serve de cama encharcado pela chuva; a fome, o frio, o medo como companhia. Não conseguia ver o rosto dessas pessoas, só sabia que elas estavam lá. Todos os problemas que eu pensava que tinha se desfizeram. Aí sofri. Sofri pelos reais problemas que importam. Foi a primeira vez, então, que pude olhar os olhos desses desconhecidos e dar valor a tudo que tenho. 

Uma história como tantas outras

Fernando gostava de Roberta, que gostava de Carlos e... bem, eu poderia seguir escrevendo como Drummond o fez n'A quadrilha, mas não nos interessa de quem Carlos gostava e, sinceramente digo que eu não saberia ao certo. O que nos interessa é que Fernando conheceu Roberta no sexto dia de aula da primeira série; até conto porque foi no sexto dia de aula: simplesmente porque ela voltou gripada da viagem de férias que fizera com seus pais e faltou na primeira semana. Tão simples assim e hoje eu vejo o quanto isso mudou a história de Fernando. Ele fizera amizade com todos os colegas na primeira semana de aula; brincaram juntos, coloriram, até brigaram. Entretanto na segunda semana, quando Roberta entrou na sala, de súbito, Fernando sentiu algo novo, que não saberia explicar. A partir daquele momento tudo que fez ou deixou de fazer foi por Roberta. Eu, que vos escrevo, sou testemunha de tudo que aconteceu entre os dois ou, para ser mais exato, de tudo que não aconteceu entre eles. Fernando amava Roberta: queria estar o tempo todo junto dela, precisava saber onde ela estava, o que fazia, sabia do que ela gostava, das coisas que ela odiava e tudo isso que faz alguém que ama. O tempo passou, não passou os sentimentos dele. Tudo parecia sempre aflorar quando seus olhos cruzavam os dela. Tiveram paixões, tiveram amores, tiveram experiências. Dentro dele sempre houve um lugar só dela. Fernando nunca a beijou. Surgiu então Carolina. Quando os olhos de Fernando miraram o sorriso e o olhar de Carolina parecia que seria como tantas outras que ele havia encontrado, no entanto ele estava errado. Tudo crescia dentro dele; o sentimento só aumentava, a vontade de vê-la não passava, a saudade de ouvir sua voz corroía-lhe as entranhas. Carolina passou a tomar seu tempo, em pensamentos, em sonhos, em desejos. De repente e, não mais que de repente, Roberta não existia mais. Fernando a encontrava mas não tinha mais desejo - talvez nem esperança - de tê-la em seus braços. As frases que ela pronunciava nem faziam mais sentido pra ele. Tudo era Carolina agora. Poderia continuar com Drummond e dizer que Carolina não gostava de ninguém, mas nunca saberei. Pouco a vi. Tudo o que sei é das cantigas que Fernando trazia-me dela. A imagem que tenho é a que Fernando me desenhou, o que tenho dela é o sentimento que atormentava o peito do meu amigo. Entretanto, como sempre acontece, o tempo passou. Não passou o que Fernando sentia. Ele buscava em outros corpos, em outros copos, em uns amores, alguns dissabores e nada parecia tirar Carolina da cabeça. Fernando nunca provou os lábios de Carolina. Dias atrás Fernando conheceu Letícia. Não saberia lhes contar sob quais circunstâncias isso aconteceu. O que vi foi o brilho do olhar de meu amigo, tal e qual acontecera das outras vezes. Fernando acredita que desta vez será diferente. Eu já sei como essa esta história irá acabar.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

promessas


Sou um péssimo cumpridor de minhas próprias promessas. Imponho-me limites e ultrapasso-os apenas por impulso. Passo horas prometendo-me que não irei fazer e em segundos consigo esquecer e me trair. Então falo e repito o que não deveria dizer. Conto coisas sobre mim sabendo que tu não precisaria ouvir. Abro meu coração tendo a certeza de que dentro dele tu não faz questão de morar. Beijo teus beijos mesmo tu estando em outros sonhos.

E continuo fazendo-me promessas.

Cumprirei a próxima: só por hoje não te falarei de mim.


post scriptum: não foi - novamente - dessa vez. Mas amanhã tudo será diferente

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Oração pra ela

Desejo apenas que não se apague em mim esta chama que queima meu peito, que faz sonhar acordado e que não me deixa dormir. Que fique em meus olhos a imagem do teu riso fácil, iluminando minhas manhãs pálidas de inverno. Que o som da tua voz não saia pelos orifícios da minha cabeça, que faça eco quando meus pensamentos estiverem vazios. Que o toque da tua mão se transforme em abraço nas noites silenciosas e solitárias. Que teus lábios sussurrem, pronunciem, beijem: meu nome, meu rosto e os beijos meus. Que tu exista nas melhores canções, nos melhores poemas, nos raios de sol, nas ondas do mar. Que apenas permaneça em mim. Então estará em todos os lugares. Mesmo em outros braços, outros abraços, provando outros sabores e outros amores. Pois mesmo imperfeito, está tudo completo. Completando meus defeitos com tua impecável imperfeição. Tua loucura e minha insanidade. Minha voz e teu silêncio. Teu voar e meu correr. Eu: água. Tu: pedra. Que se prolongue ao infinito. E ao que nomearei de sempre, com sobrenome amor.

terça-feira, 30 de junho de 2015

incertezas

a gente pode sentir falta do gosto 
de algo que nem provou?
ou sentir saudade do calor
que nunca nos esquentou?

talvez lembrar o perfume
que bem pouco nos entranhou?
querer ter perto da gente
uma pessoa que só de longe ficou?

voltaria a dividir o mesmo teto
o qual a gente nunca morou.
olharia a paisagem da praça
onde a gente nunca sentou.

restará disso apenas vontade
do que foi, não foi, o quê restou.
e em mim a dor da incerteza
do que fui, do que seria, de quem sou... 

Cada vez

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Nico Fagundes - 1934/2015 - Canto Alegretense

Minha singela homenagem a esse ícone do tradicionalismo gaúcho.  Quem de nós nunca ouviu: 'Bom dia aos gaúchos e gaúchas de todas as querências!!'

Fique em paz em outros pagos, tio Nico!!


Não me perguntes onde fica o alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete
E ouvirás toque de gaita e de violão
Pra quem chega de rosário ao fim da tarde
Ou quem vem de uruguaiana de manhã
Tem o sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhado no rio Ibirapuitã


Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí


E na hora derradeira que eu mereça
Ver o sol alegretense entardecer
Como os potros vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer
E nos olhos vou levar o encantamento
Desta terra que eu amei com devoção
Cada verso que eu componho é um pagamento
De uma dívida de amor e gratidão


Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí

terça-feira, 23 de junho de 2015

All Star - Nando Reis

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você
O sal viria doce para os novos lábios
Colombo procurou as índias, mas a terra avistou em você
O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário


Estranho é gostar tanto do seu All Star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali
E entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te reencontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem
Ficou pra hoje


Estranho, mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu All Star azul combina com o meu preto de cano alto
Se o homem já pisou na lua, como eu ainda não tenho seu endereço?
O tom que eu canto as minhas músicas
Para a tua voz parece exato


Estranho é gostar tanto do seu All Star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali e entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te reencontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem ficou pra
Laranjeiras


Satisfeito sorri quando chego ali e entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te reencontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem, ficou pra hoje

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Razão e coração

Minha razão e meu coração funcionam no mesmo ritmo. Isso quer dizer que os perdi? Quer dizer que perdi ao menos um deles?

Só porque eu tenho certeza que seríamos felizes juntos, acordar um ao lado do outro, passar os dias pensando os pensamentos teus, te esperar chegar em casa e perguntar como foi teu dia...

Brigar para saber qual lado da cama tu queres dormir e acabarmos dormindo um em cima do outro; discutir qual filme assitiremos e não assistirmos Lagoa Azul; qual música você prefere? eu, escutaria apenas o som da tua voz.

E quando tu não estiveres? Eu levarei comigo teu sorriso, teu cheiro e teu calor. Esperando para te ver rir novamente das bobagens que falo. E tu responde-me com outra e rimos por dias inteiros.

E talvez um dia não me queiras mais. Eu ficarei; eu estarei.

Não foi, mas seria. Nunca será, em mim é.

E se perdi a razão ou meu coração prefiro não ter a primeira, pois levo-te no segundo, dentro de mim, por onde quer que eu vá.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Só por hoje

hoje acordei
     e continuei sonhando
respirei a manhã
     e faltou-me o ar
olhei para tudo
     e não via nada
alimentei meu corpo
     e não saciei minha fome
caminhei pelas ruas
     e não me movimentei
corri pelas estradas
     e não cheguei a lugar algum
gritei para o infinito
     e minha voz não saiu
escutei todos falando
     e não ouvia ninguém
joguei-me ao chão
     e não senti dor
cortei-me a pele
     e não sangrei
sobrevivi por mais um dia
     e não matei-te em mim

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Eu, Bona, Cassi

Um bom lugar


Eu fujo do mundo todas as tardes.

Fujo e mesmo assim é tão fácil de me encontrar. Por três, oito ou quinze minutos recolho-me em mim. Não existe nada lá fora nem aqui dentro.

Sou o que quero ser.

Sou céu, sou mata, sou rio. Sou azul, sou verde, vermelho, cinza. Sou - assim como humano - peixe: indo e vindo sem direção. Sou barco lento deslizante na calma água que sempre é. Sou pássaro, sou livre e vôo.

São horas em minutos. É tempo que não se perde, nem perco-me no tempo. Basta estar. Estou. Lembro o passado, planejo o futuro, vivo o presente. Ou nem isso.

Permaneço.

Perfeito lugar para chegar e para longe viajar.

Tenho ao meu lado um lugar vazio, mas nunca sozinho estou. Converso, rio, choro, discuto. Por três, oito ou quinze minutos.

Depois retorno ao mundo.
O mundo dos outros.
Um lugar, talvez, ao qual não pertenço e que certamente não pertence a mim.
  

As sem-razões do amor - Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Em branco

Escrever ou não escrever nesta manhã?

Até estou com umas idéias, umas frases soltas, perdidas. Juntando-as são os mesmos textos de sempre.

Deixarei passar em branco.

Entretanto saiba: assim como meus textos são os mesmos, não mudam meus sentimentos.

Tudo permanece como sempre foi.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Brilho de gente que faz brilhar - Dado Villa Lobos

Eu não sei mais se você
Tenta ou se já desistiu
Não se esforce se não vê
Que algo ainda resistiu

Porque eu sempre vou em frente
Mesmo sem você atrás
Temos sempre um recomeço
E amanhã não lembre mais

Você me fez recomeçar
Brilho de gente que faz brilhar

Eu me entrego por um dia
Por um dia é sempre mais
Eu me livro da minha culpa
Culpa de querer mais

Num começo o que é fresco
Para mim e pra você
Essa vida se renova
E brilha por você

Conto sobre cavalos

Semana passada relendo um dos melhores livros que já tive em mãos - Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira - de um dos melhores, senão o melhor autor do século passado - J. D. Salinger (autor do não menos que perfeito 'O apanhador no campo de centeio') - li este pequeno conto sobre um especialista em cavalos. Gostei tanto do conto que transcrevo aqui:


O duque Mu da China disse a Po Lo: "Você está bem entrado em anos. Haverá alguém em sua família capaz de substituí-lo na tarefa de procurar cavalos para mim?"

Po Lo respondeu: "Um bom cavalo pode ser selecionado por sua aparência e constituição física. Mas o cavalo fora de série o que não levanta poeira nem deixa rastro é algo evanescente e fugidio, tão intangível quanto o ar rarefeito. Os talentos de meus filhos situam-se em plano definitivamente inferior: reconhecem um bom cavalo quando o vêem, mas são incapazes de identificar um cavalo excepcional. No entanto, tenho um amigo chamado Chiu-Fang Kao, um vendedor de lenha e de legumes, que não fica nada a me dever em matéria de cavalos. Por favor, fale com ele."


O duque Mu assim fez, enviando-o logo depois em busca de um cavalo.

Passados três meses, ele voltou anunciando que o encontrara.
"Está agora em Sach'iu", acrescentou.


"Que tipo de cavalo é ele?", perguntou o duque.

"Ah, é uma égua baia", foi a resposta.

Porém, quando alguém foi buscar o animal, verificou-se que era um garanhão negro como carvão!

Muito contrariado, o duque mandou chamar Po Lo. "Esse seu amigo", disse ele, "que contratei para encontrar um cavalo, meteu os pés pelas mãos. Ora bolas, não sabe nem distinguir a cor ou o sexo de um animal! O que é que ele pode entender de cavalos?"
 
Po Lo soltou um suspiro de satisfação. "Será mesmo que ele chegou a tal ponto?", perguntou em tom excitado. "Ah, então ele é dez mil vezes melhor do que eu. Não há comparação entre nós. O que o Kao tem em mira são os elementos espirituais. Certificando-se do essencial, esquece os detalhes comezinhos; concentrando- se nas qualidades internas, perde de vista os sinais exteriores. Ele vê o que quer ver, e não o que não quer ver. Vê o que precisa ver e esquece o que não precisa ver. Kao é tão sábio como avaliador de cavalos que deveria julgar algo melhor do que simples animais."


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Segunda

Esse azul da cor do Mar

Não mais em sonho

Foi novamente em sonho que apareceste. Sei que foi num sonho pois apenas nele que te vejo daquele jeito. Sentada ao meu lado, proferindo palavras doces, palavras amorosas, palavras de amor. Debruçada sobre meu corpo pedia-me para beijá-la. Num ímpeto inexplicável, te neguei. Neguei porque sabia que era impossível. Não sabia que sonhava mas só poderia ser um sonho. Tu rias então. Te divertias as minhas custas. Não entendi. Sufoquei. Agonizava e, em disparada, corri mais que pude. Tentei o máximo que pude estar longe de ti.  Acordei. E apesar do frio que fazia, meu corpo estava quente; faltou-me o ar nos pulmões; tremia dos pés à cabeça; olhei para todos os cantos do meu quarto. Nada. Era sonho mesmo. Deitei-me novamente e, pela primeira vez em muitos e muitos anos, roguei aos céus para que entendesse e não pedisse-me para beijá-la mais uma vez. Não em sonho.

Tudo que escrevo é falso

Tudo que escrevo soa muito falso.

Sim, falso. Mentiroso.

E tudo isso porque não é uma verdade completa. Todas as vezes me enrolo no que descrever. Se escrevo sobre uma paisagem, nunca ele é do jeito que meus olhos veem. Se escrevo sobre o que sinto não sai nem um décimo do que realmente é. Se tento escrever sobre você, moça, nem todas as palavras que conheço são suficientes para revelar o efeito de tua beleza na minha cabeça.

Por tudo isso digo-lhes: não acreditem em mim.

Sou um mentiroso.

E tudo que escrevo aqui soa muito falso. 

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Conflito

Os eternos conflitos:

O bem e o mal. 

O bom e o ruim.

O quê você quer e o quê você precisa. 

O quê você é e o quê você finge ser. 

O quê te fortalece e o quê te mata. 

O quê te faz rir e o quê te faz chorar. 

O quê te faz dizer e o quê te faz calar. 

O quê te faz viver e o quê pode te matar. 

Sereníssima- Legião Urbana

Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta o meu desejo
Tente me obrigar a fazer o que não quero
E cê vai logo ver o que acontece
Acho que entendo o que você quis me dizer
Mas existem outras coisas

Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade
Tudo está perdido, mas existem possibilidades
Tínhamos a ideia, mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de ideia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia

Antes eu sonhava, agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe
Não entendo terrorismo, falávamos de amizade

Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho mas
Não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser ficar

Minha laranjeira verde, por que está tão prateada?
Foi da lua dessa noite, do sereno da madrugada
Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo

Bendita és tua existência

E nos últimos dias tentei por demais não pensar em ti. 

Mas só lembrava. 

E por lembrar, pensava. E arrumei motivos e razões e juntei tudo que pude pra te esquecer. 

Então hoje tive a reação: acordei mais apaixonado por ti do que em qualquer dia desses últimos anos. E sei, perfeitamente, que tudo continuará como é e como deve ser. 

Sinto um aperto no peito e no entanto sinto uma felicidade que nunca antes senti.

Bendita existência tua que me faz sonhar; maldito coração que não me deixa esquecer. 

terça-feira, 9 de junho de 2015

Estória

Lembro bem de como nos conhecemos: eu estava muito fraco, desiludido, andava cabisbaixo e sem rumo. Foi nesse momento que senti seu abraço.

Ela me alentou, me acalentou e disse que tudo ficaria bem. De início não acreditei; e resiti às investidas. Mas pouco a pouco nos tornamos grandes amigos. Eu olhava para o lado e ela estava ali; nas noites frias era ela que aquecia meu corpo e minha alma; quando sentia-me sozinho ela fazia companhia; nos momentos de desespero era seu conforto que eu buscava.

Entretanto não era liberdade.

Ficamos juntos por um longo tempo.

Dias atrás andávamos lado a lado, de mãos dadas. Ela fingia sorrir, eu fingia acreditar. Vagarosamente fui soltando sua mão, ela foi ficando pra trás. Numa última olhada vi ela sorrindo, agora com toda sinceridade possível.

Costumo vê-la ainda, nas proximidades de onde a deixei, certamente está feliz por mim e por ela. Talvez um dia - cedo ou tarde - novamente juntemos nossas mãos.

Ah!! e que distração a minha, esqueci de nos apresentar: sou Amor, ela Esperança.

Sobre o coração

Ela não é a Mônica e eu não sou o Eduardo da música, mas quem irá dizer que existe razão?

'E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser'

'E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?'

Trechos de Eduardo e Mônica, da Legião Urbana. 

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Marcelino Ramos - 08/06/2015 - 8:30, 10:30, 13:30, 16:00 e 17:30

houve um tempo

houve um tempo
em que ouvia tua voz
doce, calma, serena
e não precisava do som ao redor

nesse mesmo tempo
nem a névoa da manhã
nem a escuridão da noite
privavam-me teu rosto

lá fora chovia,
ventava, esfriava
assim mesmo, dentro de mim
era sempre domingo de sol

então tu te ias
e voltavas e morrias em mim
como imortal, vivias
a cada noite, em sonhos meus

foi nesta manhã que a vi
em miragem ao nascer o sol
teu riso solto, uma lágrima no olho
e no coração uma palavra de adeus

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Secos & Molhados - Primavera nos dentes

Esta letra - baita poema - consegue demonstrar muita coisas do que somos e do que devemos ser.

Curte aí:

Quem tem consciência pra se ter coragem
 Quem tem a força de saber que existe
 E no centro da própria engrenagem
 Inventa contra a mola que resiste


Quem não vacila mesmo derrotado
 Quem já perdido nunca desespera
 E envolto em tempestade, decepado
 Entre os dentes segura a primavera

domingo, 31 de maio de 2015

De volta ao começo

Então depois de 5, 6 anos escrevendo aqui no blog retorno ao que era antes.

De início ninguém acompanhava, escrevia para mim, com total liberdade e sobre qualquer coisa que quisesse.

Depois começaram os compartilhamentos no facebook e afins. Instaurei-me uma auto-pressão. escrevi textos relativamente bons, outros nem tanto. Mas ao final apenas o que conseguia escrever era direcionado. Tornou-se um muro onde pendurava cartas que nunca enviaria. Um diário que relatava os angustiantes dias que passava. E nada mais era natural.

Então decidi-me largar as redes sociais. Decidi-me que precisava de um tempo pra mim e para meus textos.

Continuarei escrevendo aqui. Pra mim.

Só pra mim.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Maybe

A noite que não dormi

Esta noite não consegui sonhar com você. Nem consegui ao menos sonhar. Pois não consegui dormir. O quê me fez rolar na cama por uma noite inteira já lhe conto. É que já faz um tempo que penso em você todas as horas do meu dia. Tudo que faço, faço pensando em você: no que você me diria, o que você acharia, se concordaria ou discordaria de mim. E faz, de verdade, muito tempo que estou assim. Você também, invariavelmente, aparece nos meus sonhos e é bom. Te vejo e crio cenas que ficam apenas na minha cabeça. No entanto nesta noite que passou eu não consegui dormir. Fiquei pensando nos beijos que deste em outras pessoas. Não tive ciúmes - este sentimento não é um privilégio meu - o que senti foi inveja. Assim como invejei a noite silenciosa que te abraça ao dormir; invejei da mesma forma com que fiquei bravo com o anjo que lhe guarda durante seus sonhos; senti o mesmo da brisa que beija-lhe o rosto ao acordar. E assim foi a noite que passei. Nesta manhã apareceu o sol e nem ele tirou de mim a sua imagem. Desejo apenas que ela fique até o final desta próxima noite.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

A ganhadora do sorteio 'Clube da Luta'



Conforme prometido, realizado e -agora - entregue está aí a ganhadora do livro que sorteei no blog. 

Apesar de ter sido um sorteio imparcial e idôneo, fiquei muito feliz por essa guria ser a ganhadora. Ela sempre tem uma palavra sobre as postagens; uma crítica, uma dica, uma risada... E, por isso tudo, ela foi merecedora. 

Parabéns, Kely!!!!

Espero que goste do livro, continue acompanhando, sendo essa fiel seguidora (hahahahahaha) e baita amiga de fé. 

E aguardem as próximas postagens e, quiçá, o próximo sorteio. 

O louco - Gibran Khalil Gibran


 
   Perguntais-me como me tornei um louco. Aconteceu assim:
 
   Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"
 
   Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. 
 
   E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!"  Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. 
 
   Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!"
 
   Assim me tornei louco. 
 
   E encontrei tanto a liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós. 

domingo, 24 de maio de 2015

Como chuva


de início um calor
um abafamento
o corpo, assim como o céu
fica estranho

o sol se esconde
outro tempo se faz

venta muito
árvores, folhas,
flores, cabelos
tudo se move
menos os minutos

tu chegas
vagarosamente
dominando tudo o que vejo

como num banho
purificas o ar
lava as ruas
e meu espírito

permanece por uma noite inteira
com sua música
seus tons, seus sons
quando voz: canta

então amanhece

e assim como chuva
parte tua fica
na minha rua,
na minha janela,
nas minhas roupas
e dentro de mim

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Daniel na cova dos leões - Legião Urbana


Aquele gosto amargo do teu corpo
 Ficou na minha boca por mais tempo.
 De amargo, então salgado ficou doce,
 Assim que o teu cheiro forte e lento
 Fez casa nos meus braços e ainda leve,
 Forte, cego e tenso, fez saber
 Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
 E desafio o instinto dissonante.
 A insegurança não me ataca quando erro
 E o teu momento passa a ser o meu instante.
 E o teu medo de ter medo de ter medo
 Não faz da minha força confusão.
 Teu corpo é meu espelho e em ti navego
 E eu sei que a tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
 A motor e insistir em usar os remos,
 É o mal que a água faz quando se afoga
 E o salva-vidas não está lá porque não vemos.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Troca

E ao longo da vida a gente percebe que tudo são trocas. Aquele tênis surrado e confortável é trocado por um novo, que se tornará o melhor já usado. O carro que para tantos lugares e viagens te levou, dá lugar para um modelo melhor, com vidros elétricos e câmbio automático. Aquela camiseta preta que você usou num show de rock, vira uma camisa listrada cheia de botões. Até a banda de rock você, às vezes, acaba substituindo. Sabe aquele livro favorito? Outro virá; mais clássico ou mais moderno, não importa. Essas são suas paixões. E, assim como elas, seus sentimentos também mudam. Aquela pessoa que te tirou o sono, que te fez sonhar, que te faria correr o mundo; uma hora deixa de ser. Aí aparece outra e você sente o mesmo. Não é o mesmo erro, nem mesma história, nem nada. É apenas você sendo o mesmo. E isso ninguém que pode trocar em você. 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Silêncio

Fazia silêncio na minha rua. Era noite alta, um vento gélido batia contra a janela. Pelo vidro eu via as folhas sendo levadas aleatoriamente pela rua. Nem um sinal de vida. Diferente do que acontecia dentro de mim. Mesmo parado, a minha cabeça fora transformada pelo turbilhão de informações e imagens. Lembranças, saudades, momentos, desejos... Minha alma inquieta não refletia a quietude da noite, pelo contrário. Meu olho, mal refletido na janela, não era um espelho do que eu era. Ele brilhava e agonizava; ria e chorava; desistia e continuava. Tanto fiquei que nem me dei conta do tempo que passava. Quando vi estava prestes a amanhecer. E foi no momento de maior escuridão da madrugada que percebi, ao fundo do reflexo, teu olho no meu, com as mesmas aflições que atormentavam a minha existência.

domingo, 17 de maio de 2015