quarta-feira, 18 de maio de 2016

Áspero amor - Pablo Neruda

Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
cipoal entre tantas paixões eriçado,
lança das dores, corola da cólera,
por que caminhos e como te dirigiste a minha alma?

Por que precipitaste teu fogo doloroso,
de repente, entre as folhas frias de meu caminho?
Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?
Que flor, que pedra, que fumaça mostraram minha morada?

O certo é que tremeu a noite pavorosa,
a aurora encheu todas as taças com seu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,

enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
até que lacerando-me com espadas e espinhos
abriu no coração um caminho queimante.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Procura ela

Hoje, meu amigo, escuta:

Não vá atrás de peitos, bundas e mais uma novinha que vai virar uma medalha envelhecendo na tua lembrança; não seja esse cara.

Hoje, meu amigo, procura ela.
Que tá com o telefone do lado; e, aposto, adoraria receber um sinal de que tu também tens uma vontade guardada aí dentro de ti.

Hoje, meu amigo, fala com ela.
Eu sei, tu carregas aquela sensação de cansaço de sempre escutar: "Tu és o cara certo, na hora errada."
Ela também está cansada de escutar: "Não quero nada sério agora."
Nessa batalha, se um vencer é jogo; mas se os dois se renderem é o início de um amor tímido e novo.

Hoje é a tua vez.
Te rende.
Vai!
Deixa tudo aflorar.

Hoje, meu amigo, faz como ela: Te entregas. Perdes a razão. E encontras teu coração.
Procura ela.
Ela.
Que tá cansada de ser enganada e iludida por algum babaca do passado. Que está farta de viver nesse mundo do avesso, cheio de mentiras e trapaças.
Vai e cura as feridas dela. Deixa que ela cure as tuas também.

Hoje, procura ela.
Que detesta conto de fadas, mas quer um cara bacana pra abraçar e fazer rir do nada. Que não tem frescura com tuas brincadeiras de humor negro. Que um dia escreveu o nome daquele idiota num caderno de pensamentos.

Hoje, meu amigo, é a tua vez de conquistar ela.
Hoje, meu amigo, é a tua vez de tentar.

Cansei de te ver fugir.
E andei notando que tu estás cansado também. Pode ser bom tu te apaixonar.
E vocês combinam tanto; impossível não notar. Aposto que dariam certo.

Não vejo porque não tentar.
Com o tempo tu verás que ela não quer um cara perfeito, ela quer, simplesmente, alguém sincero e verdadeiro.
Garanto-te que ela pensa em ti sim.
E não quero, um dia, olhar nos teus olhos e dizer:
"Puta que pariu, porque tu decidiste estacionar na vida dela quando ela já tinha desistido?"

terça-feira, 10 de maio de 2016

mesmo que não queira

eu cansei de escrever.
e cansei de te descrever.
e não aguento mais as frases em mim.
e surgem todos dias novos trechos e novas resoluções, tais como essa.
e não sei como lidar.
hoje o que queria mesmo era te falar.
olhando no teu olho e vendo teu respirar.
mas, mesmo tu não querendo me ouvir, será que permitiria
que saísse tudo isso
que transborda em mim?

sexta-feira, 6 de maio de 2016

dos sonhos que sonhei

Sonhei duas vezes essa semana.

Sim, duas vezes.

Se foram demais ou se foram de menos, não saberia dizer.

Mas eu acreditei neles, como deve ser - de a gente poder acreditar nos próprios sonhos e poder alcançá-los e realizá-los. Apesar de chás de camomila, sucos de maracujás, pílulas coloridas e comprimidos incolores, sonhei. Apenas duas noites, de sete noites que tive.

Na terceira noite sonhei com futebol; Grêmio, mais precisamente. Contra o Rosário Central, especificamente. Na quarta noite sonhei com a moça aquela de meus sonhos recorrentes. E, talvez, esteja aí minha relação entre um e outro.

Pelo primeiro imaginei o amor que tenho incondicional e imortal, de tê-lo e senti-lo apesar das circunstâncias. Sim. Nada mata em mim o sentimento. A devoção. O querer. O conseguir. O conquistar. Tremi por ele e por mim por dias; minha alimentação não foi a mesma; o coração,, ahhh esse pulsava como queria... Tive febres, calafrios, lapsos de memória e inversões de tempo e espaço. Mas falando agora do sonho, eu vi! Vi o meu time jogar futebol de gente grande; de fazer dois gols e não esperar o adversário; tomar um gol em uma adversidade qualquer; mas voltar pra casa com a sensação de dever cumprido; ter um jogador expulso e continuar lutando como se não houvesse amanhã. Eu não sei dizer, de verdade, como meu time jogou dois últimos segundos tempos. Eu abandonei. Deixei de gostar. Não tive mais tempo em mim pra tanta coisa pouca. E tudo isso dói em mim; machuca-me como adagas perfurando minha pele minuto a minuto.

Tal fato leva-me ao segundo sonho que tive.

Nesse eu a vi; como nunca a havia imaginado.

E, sem delongas, sei e ela sabe o que imaginei.

Entretanto agora eu tenho uma certeza: não acredito nos meus sonhos. Nem um nem outro se realizou. Nem a alegria de um gol marcado, nem a felicidade de um beijo ganho. Nem a esperança de seguir em frente, nem a utopia de andarmos lado a lado. Nem a rebeldia de estarmos contra o mundo, nem a simplicidade de sermos apenas dois.

Eu já deveria saber:
Sonhos são para a noite, para o travesseiro, para a alma e para o coração.

E para nada e ninguém mais.