quarta-feira, 26 de março de 2014

O que é escrever? por Fernando Pessoa

Se ele diz, quem sou eu para contrariá-lo?

Achei uma bela e exata definição das causas pelas quais escrevo.

Olha aí, ó:

"Escrever é esquecer. 

A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. 

A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. 

Não é o caso da literatura. 

Essa simula a vida. 

Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já…
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida…
Saudade é sentir que existe o que não existe mais…
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam…
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

(Neruda)

terça-feira, 25 de março de 2014

Dostoiévski - Notas do subsolo

Quem, a não ser Dostoiévski, consegue iniciar um livro assim? 
Baita primeiro parágrafo de livro. Segue:

Capítulo I
O subsolo

“Sou um homem doente... Sou mau. Não tenho atrativos. Acho que sofro do fígado. Aliás, não entendo bulhufas da minha doença e não sei com certeza o que é que me dói. Não me trato, nunca me tratei, embora respeite os médicos e a medicina. Além de tudo, sou supersticioso ao extremo; bem, o bastante para respeitar a medicina. (Tenho instrução suficiente para não ser supersticioso, mas sou.) Não, senhores, se não quero me tratar é de raiva. Isso os senhores provavelmente não compreendem. Que assim seja, mas eu compreendo. Certamente, não poderia explicar a quem exatamente eu atinjo, nesse caso, com a minha raiva; sei perfeitamente que, não me tratando, não posso prejudicar os médicos; sei perfeitamente bem que, com isso, prejudico somente a mim e a mais ninguém. Mesmo assim, se não me trato, é de raiva. Se o fígado dói, que doa ainda mais.”

Trecho de: Dostoiévski. “Notas do Subsolo.” L&PM Editores. iBooks. 
Este material pode estar protegido por copyright.

domingo, 23 de março de 2014

sensações

tudo acontece
apenas piscando os olhos
de vidros, reais
o que era apenas branco
colorido será
sorriso, riso, cabelos soltos
fumaça
não haverá
límpida imagem
movimento ondulante
teu corpo
de longe
um tempo
curto
de perto
tua voz
paralisa-me
criança serei
mulher de fogo
calor e ternura
deixe-me e
leve-me
leve como ar
respira-me, expira-me
como vento voltarei
em ti
brisa serei

quarta-feira, 19 de março de 2014

Adeus #final

 Então ontem à tarde, depois de três anos juntos, tu foste de vez. Mas só tenho a agradecer pelos nossos momentos, viagens, quedas e sobrevidas. Foram lindíssimos e proveitosos dias. Mas a separação é iminente. Não tendo mais condições de escrever muito mais sobre isso, despeço-me de você HTC.

terça-feira, 18 de março de 2014

Adeus #3

Você lembra de quando escrevíamos juntos? Eram textos para o blog - que você insistia ficar corrigindo meus erros de português -, postagens nas redes sociais e trabalhos de aula? Fazíamos tudo isso juntos. E era divertido. Mas acho que você cansou disso tudo, pois nos últimos tempos não aguentava mais todo o tempo que eu gastava fazendo isso.. Não sei como será daqui prá frente; só sei que fácil não será.

Adeus #2

Foi com muito esforço e dispêndio de forças que consegui dormir ontem à noite. Fiquei por um tempo assistindo aos vídeos que fizemos juntos, as fotos que nós tiramos e as músicas que embalaram nossos muitos momentos. Restam-me poucas palavras para descrever tal momento.. Passam-se as horas e logo estaremos, de vez, separados.. Mas aproveite, fique um pouco mais..

Adeus #1

Nem chegou a hora, ainda, mas o sentimento já é de saudade. Foram tantos dias juntos; um atrás do outro; pouquíssimas vezes estivemos separados e, mesmo nessas horas, não consegui deixar de pensar em ti. Todas as horas que precisei tu esteve ao meu lado, me confortando com uma mensagem de carinho ou uma ligação inesperada. Fique apenas essa noite. Quem sabe mais um dia. Depois procuraremos novos caminhos, novas idéias, novos desafios.

segunda-feira, 17 de março de 2014

O mundo

deixe-me mostrar-te meu mundo
nem é meu todo ele
sou dono apenas do que vejo
o modo como vejo
as nuvens que parecem algodão
os pingos de chuva que caem na terra seca
o vento que bate no rosto
o riso de uma criança
dois velhos andando de mãos dadas
uma música tocando distante
um toque que faz arrepiar
o sol queimando na pele
que faz sentir a vida que corre no corpo
então sinto nas mãos
a terra molhada pela chuva
a areia no meio dos dedos do pé
o mar que conta segundos em suas ondas
a noite que chega e que vai
que deixa a lua brilhando
que esconde o dia nos seus braços
e faz, de novo, surgir o sol
por detrás dos montes
a flor que cresce pouco a pouco
a fruta que amadurece nos galhos
a água que escorre pelo corpo
a grama verde de um jardim
com suas bromélias nascendo e morrendo
venha!
venhas tu, também, comigo
bastará tu acenderes a luz
e mostrar-me como é o teu mundo
o mundo como tu vês.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Retorno

Então é simples assim: sem aviso prévio tu retornas como uma imagem na minha cabeça e trás contigo tudo que já houve entre nós? Esse tudo pode ser pouco ou quase nada. Mas a revolução que acontece dentro de mim e o sentimento que aflora é tão gigante que por momentos pareço perder o rumo. Quanto tempo faz? Nem conseguiria mais lembrar. Teu rosto se forma com uma facilidade incrível, teu cheiro ainda entra pelos buracos do meu rosto, teu toque é sentido no meu corpo inteiro e consigo sentir o roçar dos teus lábios nos meus. Em sonho converso contigo sobre tudo: o futuro, o presente, planos vindouros e banalidades; tua voz é inconfundível para mim. E ela soa como melodia aos meu ouvidos. Se tudo isso é real? Não sei. Só tenho certeza do bem que me faz sentir e do mal que me faz pela distância com que te vejo no dia-a-dia.

segunda-feira, 10 de março de 2014

500!! - Quinhentas!!

Mas que bah, tchê!! Não sei por qual motivo específico resolvi postar mais de uma vez no blog, hoje; então olho as postagens já feitas e descubro que a próxima - esta, no caso - seria a de número 500.
Então resolvi cancelar o texto, que seria original, e decidi agradecer as pessoas que desde sempre estiveram envolvidas nessa missão.

Não citarei nomes próprios, para não cometer o erro de, porventura, esquecer algum. Mas agradeço às pessoas que sempre me incentivaram a escrever; àquelas que tiram algum tempo do seu dia para acompanhar as bobagens que aqui posto; àqueles que mandam sugestões, críticas, elogios e afins; agradecimento aos meus corretores ortográficos (que sempre estão a postos); enfim a todas as pessoas envolvidas nos momentos por que passa a minha criação.

Fico muito grato a todos e espero que continuemos nos encontrando nessas paragens e garanto que já tenho vários novos textos para entreter as pessoinhas.

Ah, e eu posso muito bem surtar e decidir NUNCA mais escrever. Entretanto isso já aconteceu e foi apenas um momento sem inspiração e de ligeira decepção por que passei.

Aproveito para agradecer - e contabilizar - as mais de 30.000 visualizações que o blog atingiu e também aos antigos colaboradores desse espaço, que contribuíram para uma grande parte dessas quinhentas..

Abraços aos amigos e, novamente, muito obrigado.
  

Medos

Antigamente - e, para mim, nem tão antigamente assim - eu tinha medo de muitas coisas: de fantasmas, de bruxas (e bruxos), do escuro, de zumbis, daquele monstrengo horrível que sairia do rio e atacaria a cidade toda e mais uma infinidade de perigos que porventura poderiam surgir. Eram medos infundáveis, mas nem por isso menos verdadeiros. Pesadelos que faziam-me dormir com as luzes do quarto acesas ou que faziam-me com que só saísse de casa acompanhado a certas horas do dia - ou da noite.

Agora conto-lhes que os medos continuam. Não aqueles medos de outrora que eram fantasiosos e irreais mas, sim, medos genuinamente perigosos. E de todos os que sinto há um agente em comum neles: AS PESSOAS. Pois é, sinto-me amedrontado pelo que as pessoas andam causando em si mesmas. O racismo, a homofobia, a violência gratuita, o mau tratamento das crianças, o desrespeito com os mais velhos, a ganância, a falta de educação, a impaciência com o próximo e tantas outras faltas gravíssimas que nos acometem, ficando difícil enumerá-las uma por uma.

Isso tem-me tirado o sono; tem feito com que o medo não permita-me que saia de casa a não ser com um ótimo motivo; tem feito com que a gente - mesmo sem querer - devolva na mesma moeda tudo que é praticado contra nós. Esse medo é bem real. E muitíssimo perigoso. Tem-me deixado com os nervos à flor da pele e com muita saudade dos medos de antigamente.