quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Poema

Quem sabe

Eu sigo-te e tu foges. É este o meu destino:
Beber o fel amargo em luminosa taça,
Chorar amargamente um beijo teu, divino,
E rir olhando o vulto altivo da desgraça!

Tu foges-me e eu sigo o teu olhar bendito;
Por mais que fujas sempre, um sonho há de alcançar-te
Se um sonho pode andar por todo o infinito,
De que serve fugir se um sonho há de encontrar-te?!

Demais, nem eu talvez, perceba se o amor
É este perseguir de raiva, de furor,
Com que eu te sigo assim como os rafeiros leais.

Ou se é então a fuga eterna, misteriosa,
Com que me foges sempre, ó noite tenebrosa!
........................................................
Por fugires, sim, talvez me queiras mais!


Florbela Espanca, poetisa portuguesa

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sábado de Grêmio


Chorei quando entrei no estádio.


Ouvi muitos relatos da emoção dos torcedores que, assim como eu, assistiram seu primeiro jogo no Olímpico naquele Grêmio x Ceará, pela final da Copa do Brasil de 1994, e falaram do êxtase que sentiram durante todo jogo. Sentimento assim achei que nunca experimentaria novamente. Eu estava redondamente enganado.

Porto Alegre, 20 de outubro de 2012.

Juntamente com meus familiares, fui ver o tricolor enfrentar o Coritiba pelo Campeonato Brasileiro. Ao passar pela catraca e visualizar aquele cantinho do campo fui invadido por uma alegria indescritível. Ao meu lado estava minha mãe, que sempre ouve os jogos do Imortal no rádio, sabe tudo sobre o time e é uma fanática torcedora (e nunca tinha ido ver um jogo do seu time); também estava meu irmão mais novo, Vicente, e foi por ele que tremi na base.

Toda família cidadã (até meu pai - flamenguista - tá disfarçado no meio da galera)

Fiquei imaginando o que poderia estar passando na cabeça dessa criança de 5 anos, que desde sempre acompanha o Grêmio, torce, chora, comenta, briga. Chegamos um tempo antes de a bola rolar e durante esse lapso, o pequeno não estava entendendo o que estaria prestes a acontecer. A torcida começou a ocupar os seus lugares, a aglomeração aumentava e expectativa figurava com mais intensidade. Até que foram anunciados os jogadores do Grêmio. A cada nome dos atletas gremistas, seguia-se a tradicional repetição, em coro, dos fanáticos 25.000 expectadores presentes. Meu irmão, acomodado em meus ombros, estava tenso e eufórico; eu sentia cada batimento cardíaco dele e ouvia-o gritar incontrolavelmente acima da minha cabeça.

Então adentraram, no gramado, os jogadores. Aí sim, caiu a ficha.

- Olha o Zé (Roberto)!! Ali, ali, o Elano!!! Marcelo!! Marcelo!! O 'Kréber' tá meio gordinho....

Durante toda a partida o menino não tirou os olhos do gramado. Acompanhava cada lance, chutava toda bola, marcava, lançava, ovacionava quando os zagueiros tiravam uma bola. No momento em que um jogador do Grêmio deu uma trombada e o jogador adversário caiu, ouvi essa pérola:

- Time de boneca!!

Era o meu gigante mostrando, desde cedo, a verve peleadora castelhana.

Em um momento a torcida, como costumeiramente acontece, indignada com a marcação do árbitro começou a xingar a mãe do mesmo (Filha da p*&@), ouvi:

- Hum, o que eles tão gritando??
Os meu pais e familiares que estavam junto, deram-me uma olhada sem jeito e larguei:
- Feira da fruta!!

Ele aceitou e a bola continuou rolando. Tem coisas que apenas no estádio a gente aprende, cedo demais para ele, mas me saí bem nessa.

Meus ombros doíam; passei ele para os que estavam juntos de mim. Não aguentavam muito tempo. Mas quando eles o soltavam, de pé na arquibancada, ele nada via. Então, num esforço, alçava ele novamente nas minhas costas e a euforia seguia-se. As dores vieram depois, mas não tiveram a menor significância diante do prazer de ver o sorriso estampado no rosto do garoto.

Baita visão, hein, meu piá!!

Os gols não saíram, uma pena, entretanto valeu cada segundo das 14 horas de viagem, da espera de 1 hora e 30 minutos para o ínicio, dos 90 minutos de jogo. Valeu pela euforia e a certeza de que esse jogo foi um marco na vida do pequeno torcedor e da minha também.

Despedimo-nos do Olímpico Monumental e aguardamos para dar as boas vindas à Arena Tricolor.

O 'adeus' ao Olímpico. (Vicente, mamãe e Johnny)


O futuro

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Jack Kerouac - On the road



 O próprio

JACK KEROUAC. Você já deve ter ouvido falar sobre ele. Ou alguma coisa dele. Esse cara escreveu 'On the road', um clássico dos clássicos, um divisor de águas, marco da literatura 'beat', nome certo em qualquer lista dos melhores. Talvez você tenho ouvido falar dele agora, acerca do lançamento do filme homônimo ao livro (dirigido pelo competentíssimo Walter Salles), entretanto esse gênio não foi descoberto agora.

Cena do filme: Sal Paradise (Sam Riley), Marylou (Kristen Stewart) e Dean Moriarty (Garret Hedlund)

Nascido em 1922, revoltou-se com o sitema e influenciado por uma contracultura da época (abandonou a marinha) juntou alguns pertences e, com amigos, colocou o pé na estrada e viajou por todo o Estados Unidos. Das aventuras e desventuras surgiu o livro acima.

Durante três semanas, sem sair de casa, movido a 'muito café', ele sentou-se em frente a sua máquina de escrever e passou a redigir o texto. Cortou um rolo de papel para que servisse perfeitamente na máquina e emendou as pontas para que não precisasse trocar as folhas. Nessas três semanas escreveu por 7, 8, 9 horas ao dia, sendo que algumas vezes virou dias e noites sem parar de digitar. Sua narrativa é incansável, as palavras parecem balas de metralhadora disparadas quando você as lê; não há parágrafos, os diálogos são inseridos nas próprias linhas, tal qual um trem acelerado repleto de vagões.

Lançado pela primeira vez com o seu pseudônimo e de seus amigos (Pé na estrada), foi traduzido para o português por ninguém mais ninguém menos que Eduardo Bueno, o Peninha. Recentemente foi relançado sob o título 'On the road, manuscrito original', o qual traz os nomes verdeadeiros de seus amigos (expoentes inexplicáveis da geração beat).

Como o inigualável Bob Dylan disse: "Esse livro mudou minha vida."

Leitura obrigatória para qualquer pessoa. Obra indispensável em qualquer estante.

Isolado do mundo, morreu em 1969.


Abertura temporada de verão de Marcelino Ramos - RS

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Ternura - Vinícius de Morais

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.
 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Flor de lis - Djavan

Valei-me, Deus!
É o fim do nosso amor
Perdoa, por favor
Eu sei que o erro aconteceu
Mas não sei o que fez
Tudo mudar de vez
Onde foi que eu errei?
Eu só sei que amei,
Que amei, que amei, que amei

Será talvez
Que minha ilusão
Foi dar meu coração
Com toda força
Pra essa moça
Me fazer feliz
E o destino não quis
Me ver como raiz
De uma flor de lis

E foi assim que eu vi
Nosso amor na poeira,
Poeira
Morto na beleza fria de Maria

E o meu jardim da vida
Ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria
Nem margarida nasceu.

E o meu jardim da vida
Ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria
Nem margarida nasceu.

domingo, 14 de outubro de 2012

:'(

Só quem chora sabe a dor que carrega uma lágrima
Uma lágrima tem o gosto amargo da solidão
Quem chora sozinho sabe a dor que sente
Da falta do doce calor de sua presença

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Lost



Novamente estou asssistindo Lost. Que seriado intrigante (e instigante) este! Começa-se a assistir um episódio e a vontade de ver o seguinte e mais outro e mais outro é incrível. Entretanto é um tanto quanto sutil as refêrencias citadas no mesmo.

O seriado trata de literatura, filosofia, matemática, música, ciência, experimentos, psicologia e tantos outros temas abordados que nos proporciona um vasto leque de conhecimento. Pode-se apenas assitir aos episódios e se entreter com o enredo e cenas de ação, por exemplo, entretanto  o que mais me chama a atenção é o liame envolvendo cada personagem, cada história e cada fato cultural/histórico contido nas entrelinhas. Afinal, uma boa história bem contada não é nada sem que te faça pensar.

As referências estão ali: um grupo de pessoas desconhecidas tendo que conviver entre si; não há lei, apenas a sobrevivência; experimentos científicos, tanto com elementos da natureza quanto com seres vivos; o eterno ciclo da vida; encontros e desencontros; o bem e o mal. Os criadores fazem referência aos grandes filósofos: Rousseau, Locke, Spinoza; fazem referência à religião: a fé, Aarão, Mr. Eko, bíblia; sem contar a parte psicológica inerente a cada ser humano: o convívio em sociedade, em um local inóspito, tendo de fazer uso do instinto em vez da razão.

Recomendo a todos que gostarem de um bom entretenimento. E também recomendo que se busque algo mais para que, além de diversão, você adquira conehcimento.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Certezas/bobagens #1

Sempre ouvimos muitas 'certezas' de algumas pessoas. Tratarei nessa e em outras postagens, da desmistificação de certas expressões usualmente empregadas.
* Note-se que este é um artigo de opinião, sem pretensão de se tornar uma verdade absoluta.


1 - No Brasil tinha que ter pena de morte!!

Iniciando, diga-lhes que há, sim, no Brasil a previsão da pena de morte. Ela está elencada na Constituição Federal/88 (vigente), a qual o art. 5º rege:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;.

Então a pessoa surta e diz que não era disso que ela falava. Que tem que existir pena de morte para quem mata, rouba, furta, estupra, etc. Então argumente que ninguém, muito menos o Estado tem o direito de tirar a vida alguém. Estas pessoas devem ter visto em algum lugar que a coisa feita dessa forma funciona, então peça uma estatística dos erros que aconteram em países onde essa prática é comum (EUA {apenas em alguns estados}, Austrália, Rússia); assim é melhor sempre cem culpados vivos a um inocente morto. Isso sem citar Afeganistão, Arábia Saudita, Congo, Gâmbia, que tem um modus operandi duvidoso. Se nada disto convence o interlocutor, vale a máxima de perguntar: "E se fosse uma pessoa próxima a você?". Geralmente a resposta vem seguida de demagogia tão exacerbada que até o interlocutor pede para encerrar ali o assunto.

2 - As bolsas distribuídas pelo governo (Bolsa-escola, Bolsa-família, sistema de cotas..) são uma vergonha!

De repente pela forma como é feita (e usada, na maioria das vezes) pode parecer que a afirmativa seja verdadeira. Entretanto, analisando profundamente, vê-se que o objetivo dela é válido. A Constituição Federal prevê em seu ART. 3º:
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Na verdade o que o Estado faz é uma tentativa de beneficiar as pessoas que não são contempladas com a responsabilidade do mesmo de garantir o mínimo a que as pessoas tem direito. Talvez a maneira como essa compensação (de uma falha que vem desde o princípio da construção de nosso país) é realizada, seja questionável. No entanto parece-me que é a primeira vez que alguma atitude de melhoria social seja tomada. Os meios parecem não ser os adequados, mas os fins (se atingidos) serão de uma validade inquestionável.

3 - Mas por que não vão embora? Ninguém é obrigado a morar ali. (Sobre as pessoas que moram em morros, favelas e periferias; quando acontece algum deslizamento, incêndio ou recorrrentes casos de sitiamento por parte de milícias e traficantes.)

Eles não vão embora porque não tem para onde ir!! O Estado nunca deu condições para essas pessoas terem uma perspectiva de vida melhor. Desde os tempos em que houve a colonização, ou mesmo a abolição da escravatura, algumas pessoas foram abandonadas a própria sorte. Sem auxílio, sem amparo e sem futuro. Formaram-se assim os bolsões de pobreza e miséria em volta de onde? Dos lugares onde a esperança de um trabalho e melhores condições de vida supostamente estão, as grandes cidades. Percebe-se também um aumento de grandes propriedades rurais em contraposição às pequenas, que tem pouca ou nenhuma possibilidade de prosperidade. Fazendo com que vendam suas propriedades a um preço baixo àqueles que são latifundiários (e tem os meios para produzir bem) e tenetem a sorte nas grandes cidades. E o que se vê é que, infelizmente, quando essas pessoas abandonam sua vida, percebem que a realidade em outros locais é muito perversa.
(sobre esse assunto, já foi publicado uma crônica do Arnaldo Jabor aqui: http://1berto-1berto.blogspot.com.br/2010/04/arnaldo-jabor-cronica-jornal-da-globo.html)

4 - No Brasil a Justiça é falha/lenta/injusta.

A culpa é do eleitor! (Quer uma sentença tão óbvia quanto essa?) Entretanto a cada eleição que surge, acontecem sempre os mesmos erros, depois a população fica reclamando.

Façamos primeiro uma análise simplista da tripartição do poder na nossa democracia:
Poder Executivo: Eleito pelo povo, executa as leis. (Prefeito, Governador e Presidente)
Poder Judiciário: Ingresso mediante concurso (tecnicismo), aplica as leis.
Poder Legislativo: Eleito pelo povo, cria as leis. (Vereadores, deputados e senadores)

Aí é que se resume a questão. O único órgão que é técnico é o questionado por todos. Escolhemos o legislativo; e é ele que faz as leis! Exigimos que juízes, advogados, promotores e serventuários da justiça façam os milagres. O que realmente acontece é que só pode-se agir dentro da lei. As normas podem ser interpretadas, entretanto não podem ir além delas mesmas.
Na próxima vez que reclamarmos de algo, tentemos fazer isso a quem compete: às pessoas que elegemos, que deveriam, também, ser técnicas e conhecedoras das nossas mazelas e anseios.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

"Achei um 3x4 teu
E não quis acreditar
Que tinha sido
A tanto tempo atrás."

Legião Urbana - Vamos fazer um filme