segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

promessa

tive que prometer pois soube que nunca mais ouviria sua voz perto do meu rosto:

- prometa-me que nunca mais tentará me beijar.

não me constrangi pela tentativa; aliás, nunca havia havia feito nada parecido.

deitado no chão da sala sua voz veio em direção ao meu rosto, senti o respirar dela na ponta do meu nariz, quase conseguindo mastigar as palavras que saiam da sua boca.

- não irás me deixar nunca - dizia ela.

mesmo fechando os olhos eu desenhei toda a face dela ao se aproximar da minha. sabia que não deveria me precipitar. estava toda ela ali. mas seu beijo não era o meu. o que ela queria? o que pensava ao roçar seu braço no meu braço?

- apenas fique - ordenava

ora, eu ficaria. eu estaria. eu permaneceria. o calor emanado da boca dela eu senti segundos antes de perder o controle. apenas nossos lábios se tocaram. enrubesci. ela não desviou. apenas estávamos. então, mesmo com sua conivência eu soube: um beijo que não pertencia a mim.

- prometa-me que nunca mais tentará me beijar - esse pedido fez todo sentido e sentido nenhum pra mim.