terça-feira, 28 de novembro de 2017

Romeu & Julieta - Trecho - Shakespeare

"Quem é aquela dama, que dá a mão ao cavalheiro agora?
Ah, ela ensina as luzes a brilhar!
Parece pender da face da noite
como um brinco precioso da orelha de um etíope!

Ela é bela demais pra ser amada
e pura demais pra esse mundo!
Como uma pomba branca entre corvos,
ela surge em meio às amigas.

Ao final da dança,
tentarei tocar sua mão,
pra assim purificar a minha.

Meu coração amou até agora?
Não, juram meus olhos.
Até esta noite eu não conhecia a verdadeira beleza."

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Relato de um copeiro, por Murilo Loss Franzen

    
    
     Tudo começou no dia 18/04/1990, três dias após o meu nascimento. Eu era apenas um recém-nascido com 3,1 kg, 47 centímetros, olhos verdes e com uma alma já campeã. Meu time o Grêmio tinha acabado de ser o Supercampeão do Brasil e três meses depois (29/07/1990) campeão gaúcho pela 28° vez. Não entendia quase nada o que se passava ao meu redor, e muito menos o que seria uma partida de futebol, mas já tinha a certeza que ali nascia e crescia junto comigo um amor insubstituível e uma paixão indescritível.

     O tempo foi passando e esse amor, essa paixão foi ganhando forças, eu já não era mais aquele recém-nascido de 3,1 kg, já conseguia intender um pouco o que era futebol, o que era um título brasileiro, o que era um título da copa do Brasil, o que era um título da libertadores da América, e o que era um título mundial, pois meu pai seu Waldemar (outro gremistão), conhecido como Alemão, já garganteava que nós éramos campeões de todos esses títulos.

     Se tudo isso já não bastasse, quando cheguei aos meus 5 aninhos de idade já tinha visto meu time ser campeão invicto da copa do Brasil (1994) e 3 vezes campeão gaúcho (1990, 1993,1995), e foi nesse ano, em 1995 que eu ganhei o meu primeiro ídolo tricolor, o nome dele era PAULO NUNES. Lembro-me como se fosse ontem quando ganhei dos meus avós a camisa número 7 do vulgo Paulo Bala. Sem dúvida o melhor presente que eu já havia ganhado... até o dia 23/08/1995 quando vi o meu ídolo aos 10 minutos do segundo tempo marcar o seu gol no primeiro jogo da final da taça libertadores da América! Haaa esse sim foi um presente! Sete dias depois (30/08/1995) eu pude gritar "É campeããão!", pois meu time era Bicampeão da América!

     No ano seguinte, já era um Gremista completamente fanático, já não perdia um jogo do meu tricolor, e foi em um desses jogos de 1996 que eu vi essa máquina golear o time argentino chamado de independiente por 4 x 1, com direito a gol dele, o diabo loiro! o meu ídolo Paulo Nunes aos 35 minutos do segundo tempo! e com isso levar para o Olímpico Monumental o título de Campeão da Recopa Sul-Americana.

     Mas o ano ainda não havia acabado, e muito menos os títulos, dia 15/12/1996 eu vi o meu Grêmio ser Bicampeão Brasileiro. Era um título atrás de outro, éramos um exemplo de time. Em 1997 mais uma vez fomos campeões invictos da Copa do Brasil, título que novamente se repetiu em 2001. Éramos o único time Brasileiro a ser Tetracampeão da Copa do Brasil.

     Em 2004 tivemos um tropeço e acabamos rebaixados para a segunda divisão do campeonato brasileiro do ano de 2005, mas conseguimos voltar como campeões da série B em um jogo que ficou conhecido mundialmente como “a batalha dos aflitos”, onde o Grêmio precisava da vitória e no decorrer do segundo tempo marca-se um pênalti contra a minha equipe e gera uma confusão generalizada que paralisou o jogo por 27 minutos e que levou a expulsão de 4 jogadores do Grêmio. Éramos apenas em 7 jogadores e tínhamos um pênalti a favor do adversário. A continuação dessa história vou deixar que o narrador da partida, Pedro Ernesto Denardin conte com suas palavras: “É inacreditável, I-na-cre-di-tá-vel: com sete homens em campo, com sete homens em campo o Grêmio está fazendo uma façanha. Só o Grêmio, a sua força, a sua fé, eu nunca vi disso, o mundo nunca viu nada parecido. O Grêmio está fazendo uma façanha extraordinária, uma façanha que não tem na história do futebol mundial”. Nosso goleiro Galatto pegou o pênalti e ainda marcamos um gol!

     Em 2007 tive novamente a sensação de poder ganhar a libertadores, mas fomos derrotados na final pelo Boca Juniors. No dia 10/10/2012 me tornei sócio torcedor gremista, no mesmo ano presenciei o último jogo do olímpico monumental e o magnífico espetáculo de inauguração da nova arena do Grêmio.

     Na noite do dia 25 de julho de 2013 foi criado em minha cidade o consulado do Grêmio. Estavam presentes no evento o diretor adjunto regional Carlos Emanuele e seu adjunto Marcelo Basso que me nomearam cônsul da cidade. Como cônsul passei pela maior crise de título do Grêmio, não foi fácil, mas NUNCA o abandonei, estivemos juntos para o que der e vier. Mas a crise já é passada, vamos voltar a falar dos momentos de glórias.

     Depois do jejum o próximo título aconteceu apenas em 2016, o técnico Renato Portaluppi resgatou a alma copeira que é característica do Grêmio e nos proporcionou o pentacampeonato da copa do Brasil. Um título muito comemorado, tornando mais uma vez o Grêmio “O Rei de Copas!”.

     Tenho certeza que essa história de Amor terá muitas páginas ainda... quem sabe ainda nesse ano de 2017 com o tri da América!

     Somos copeiros, somos guerreiros, e estaremos contigo meu grêmio no que der e vier. Vamos torcer, gritar e cantar junto com a melhor Banda e a Melhor torcida do Mundo. Se depender do meu apoio e da minha torcida esse ano a copa é nossa!

Murilo Loss Franzen

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

repetições

releio livros que gostei. dostoiévski, jane austen, goethe, wilde, bukowski, machado de assis. recorro a eles sempre que preciso mergulhar em mim mesmo. escuto, invariavelmente, as mesmas bandas. doors, led, pink, nirvana, pearl jam. uso-as como regentes da trilha sonora da minha vida. o mesmo com filmes e séries. histórias que já vi serem contadas mas que a cada vez me surpreendem com detalhes que antes passavam despercebidos. meus sonhos não seriam diferentes. ainda não me acostumei a vê-la nas madrugadas. nem me acostumarei, depois desse tempo todo. a cada vez que ela sorri, sorrio junto com ela. quando ela me toca, toca-me a alma. se beijos acontecem, muitos mais eu imagino ao acordar. nem me importa que não a tenha, tenho-a em mim. e desejo que se repita. todas as noites ao fechar dos olhos meus.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

sentimentos

momento estranho quando um sentimento se congela. deixa de crescer. não diminui. nem morre. se morresse, espaço surgiria para a chegada de algo novo. mas não. dentro do peito se fez morada e não quer se mudar. nada muda. a perda dos sentidos no toque da pele; o brilho de um olhar no outro; a falta de palavras quando se tem muito a dizer; o ir e vir do respirar desconexo com a batida do coração: não há. esperanças a muito abandonadas. sonhos apenas noites mal dormidas. futuro? imagens distorcidas e embaçadas do que poderia mas sabemos que nunca irá acontecer.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Tarde demais

Eu nunca soube a coisa certa a dizer. Na minha cabeça formulava frases que achava oportunas para o momento. Não eram. Tudo saía confuso assim que abria a boca. O que eram meus desejos tornavam-se súplicas. O que eram medos tornavam-se inseguranças. O que foram sonhos, pesadelos se tornavam. Frente a frente gaguejei. Desviei meus olhos. Segurei a respiração e tentei frear meus impulsos. Apenas uma vez! Não, não diga nada! Ao retomar os sentidos percebi que era tarde demais. Eu conseguia ver as palavras chegando aos ouvidos dela e sabia que o arrependimento viria tarde demais.

quinta-feira, 16 de março de 2017

manhã e tarde

   Eram os últimos momentos da madrugada, a noite já havia terminado a muito tempo. Tateei no escuro até encontrar o interruptor do abajur. Ainda sentado na cama perpassei na minha cabeça os sonhos da noite; meus pés descalços e meio dormentes sentiram o contato com o assoalho gelado. A água esquentando, o café na xícara, as lembranças todas surgindo. Lá fora a escuridão era total. Enrolei-me num casaco que estava à mão e aguardei os primeiros raios de sol.
   Pouco a pouco as estrelas foram se apagando, por detrás do morro a claridão iniciava a batalha contra as trevas. Em meio ao vapor do líquido que fumegava na minhas mãos te vi. Vagarosamente galgando os degraus que vinham em minha direção. Fechei os olhos percebendo a ilusão e ao abri-los continuavas vindo. O calafrio que percorreu meu peito logo deu lugar ao calor que advinha do teu abraço. Nos meus braços o encaixe perfeito de dois que tornam-se um. O sol chegando quase confundiu-se com o brilho do teu olhar. No teu beijo o gosto inigualável de paixão.
   Por um dia inteiro pertencemos apenas a nós mesmos. O que vimos do dia foram apenas os primeiros minutos e os raios que ultrapassavam a persiana.
   Assim como vieste ao nascer da manhã foste embora ao findar a tarde. Flutuando em direção ao poente ceguei meus olhos até ver-te sumir no horizonte. Ao abri-los, novamente, a lâmpada ao lado da cama e os pés no chão frio me trouxeram a realidade de mais um sonho que criei.
 

quarta-feira, 8 de março de 2017

(não foi) tempo perdido

tinham a cor da tempestade chegando, os olhos castanhos dela. e como a cor havia também a intensidade. ao aproximar-se varreu tudo que havia em mim. vento, água, terra, céu, ar - todos eu perdi. piscá-los foi a minha perdição. daquele momento em diante soube que levaria onde fosse aquele brilho acompanhado do sorriso mais lindo que havia visto. desejei mais que tudo em ter os braços dela envolvidos nos meus. não houve nada disso. éramos tão jovens. desde aquele tempo tenho marcado na retina todas as vezes que mirei o fundo dos seus olhos. no ouvido levo a música que diz não ter sido tempo perdido. cada qual tem seu próprio tempo e os nossos ponteiros nunca se acertarão.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Eliminando verbos

Estou tentando escrever algo novo; algo que explique velhos sentidos. Queria mudar os verbos, no entanto são os que me movem: pensar, saber, perceber, acreditar, querer, lembrar, imaginar, desejar, sonhar, amar. Verbos são ações, mesmo que não façam mudar; elimino-os e nada mais resta em mim. A folha em branco aguarda o beijo da tinta. Minhas noites desejam os sonhos. Meus olhos suplicam imagens. Minha voz não sai e meu peito infla com um vazio impossível de preencher.
 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Vontades - por Jader Pires*

Tudo que eu mais queria nessa noite era dormir com a mão nas tuas coxas. A garota que eu conheci no bar já estava dormindo no meu quarto, então desliguei tudo, apaguei as luzes e atravessei a sala feito espectro. Nada se mexeu e nenhum som foi percebido. O calor que fazia era tremendo e foi curioso perceber que eu não estar suando. Nenhuma gota brotava em meu rosto, no peito. Era como se eu fosse capaz de reter tudo que pudesse sair de mim e chamar atenção. A vontade de você era uma delas.

Meu corpo lânguido chegou na cozinha ainda no escuro e, por conhecer bem a disposição de todos os móveis e eletrodomésticos, não trombei em nada e não tive dificuldade em atravessar o pequeno corredor que liga esses dois cômodos da casa. Tomei um copo grande de água quase de uma vez, em poucas goladas que me fizeram acentuar a respiração.

O desejo era tanto que, quando dei por mim, passou já mais de vinte minutos que eu estava na mesma posição, com as mãos apoiadas na pia e os olhos mirando um nada. Tomei então a decisão de queimar todos os frames de minha mente acendendo a luz e encarando minha fraqueza no reflexo da porta do microondas. Foi aí que minha imaginação provou ser bem mais forte do que eu podia pensar, pois eu ainda tinha milhões de cenas pra me aguçar, mesmo sabendo que, nessa noite, você não seria minha de forma alguma.

Não voltei pra cama, pro meu quarto. Nessa noite, a esperança é que foi minha parceira e me acompanhou na madrugada sem sono.


* Jader Pires é escritor e editor da Meio Fio e do Papo de Homem.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Não esqueça

Eu quero te ouvir quando me contar seus problemas e dúvidas, quando se entrega por dentro e por fora. Pois o amor é muito estranho, não é mesmo? Mesmo quando danço sozinho imagino se você ainda pensa em mim. Lá fora o mundo segue a girar; o sol nasce a cada dia e a chuva continua caindo, mas algumas coisas mudam. Essa mudança, mesmo lenta, pode nos separar. Se nos encontrássemos um tempo depois será que ainda me reconheceria? Será que chamaria meu nome na rua? A sensação que tenho é que seremos livres e felizes no final disso tudo. E que se fores embora, realmente, desejo que não esqueça de mim.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Medos

Foi o medo que o impeliu a sair de dentro de casa. As paredes já não suportavam mais o que havia dentro dele; sentia que o teto pudesse a qualquer momento desabar por sobre toda angústia nele enclausurada. Nas ruas o medo não pareceu amainar. Tantas pessoas que iam e vinham e seguiam suas vidas e não havia ninguém. Com a respiração atingindo seu limite e o suor misturando-se a uma lágrima em sua face, andou o máximo que pode. Apesar de seu medo de altura descobriu-se encostado no parapeito do último andar do prédio mais alto da cidade - como chegara até ali? Tudo se confundia na sua cabeça. Mesmo parado seu coração acelerava e a respiração não diminuía. Com mais medo do que nunca sentira antes não conseguiu ouvir a primeira vez que seu nome foi chamado. Ao se virar pode ouvir seu nome pronunciado nitidamente, mais uma vez. Com a mão estendida percebeu o tremor da mão dela, o batimento descompassado do seu coração, a boca semiaberta e, no fundo do olhar pálido, um brilho prestes a explodir. Soube no momento que, partilhando seus medos, enfrentariam tudo que o desconhecido os pudesse trazer.