segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

promessa

tive que prometer pois soube que nunca mais ouviria sua voz perto do meu rosto:

- prometa-me que nunca mais tentará me beijar.

não me constrangi pela tentativa; aliás, nunca havia havia feito nada parecido.

deitado no chão da sala sua voz veio em direção ao meu rosto, senti o respirar dela na ponta do meu nariz, quase conseguindo mastigar as palavras que saiam da sua boca.

- não irás me deixar nunca - dizia ela.

mesmo fechando os olhos eu desenhei toda a face dela ao se aproximar da minha. sabia que não deveria me precipitar. estava toda ela ali. mas seu beijo não era o meu. o que ela queria? o que pensava ao roçar seu braço no meu braço?

- apenas fique - ordenava

ora, eu ficaria. eu estaria. eu permaneceria. o calor emanado da boca dela eu senti segundos antes de perder o controle. apenas nossos lábios se tocaram. enrubesci. ela não desviou. apenas estávamos. então, mesmo com sua conivência eu soube: um beijo que não pertencia a mim.

- prometa-me que nunca mais tentará me beijar - esse pedido fez todo sentido e sentido nenhum pra mim.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Soneto 23 - Willian Shakespeare

Como no palco o ator que é imperfeito
Faz mal o seu papel só por temor,
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito
Vê o coração quebrar-se num tremor,

Em mim, por timidez, fica omitido
O rito mais solene da paixão;
E o meu amor eu vejo enfraquecido,
Vergado pela própria dimensão.

Seja meu livro então minha eloqüência,
Arauto mudo do que diz meu peito,
Que implora amor e busca recompensa

Mais que a língua que mais o tenha feito.
Saiba ler o que escreve o amor calado:
Ouvir com os olhos é do amor o fado.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

olhar


sem palavras

Qual surpresa não foi quando, não mais que de repente, apareceste. Eu que havia visto apenas algumas imagens; umas frases desconexas e poucas palavras trocadas. Nem tua voz eu tinha. Tanto foi que de começo houve um diálogo. Eu falava, tu respondias. Não entendia som algum. Talvez nada deveria ser dito. Estávamos em uma casa estranha para mim. Mas nossos olhares não eram nenhum pouco estranhos um ao outro. Havia outras pessoas ao redor, mas nenhuma importava. Pegaste então na minha mão e levaste-me porta adentro. Encostamos ela e nem as luzes conseguimos apagar.
Eu te segurei. Tuas mãos se enredaram pelo meu pescoço e puxaram-me para perto. A boca sedenta. A língua tímida e ágil. Teu corpo todo eriçado; os bicos quentes de teus seios roçaram meu peito. Teu cheiro!! Ah, esse entrou pelas minhas narinas entorpecendo-me. Não havia medo algum. Nenhuma dúvida. Sabíamos exatamente o que fazer. Minhas mãos enredaram teus cabelos, roçaram teu rosto. Deslizaram pelas tuas costas e tua coxa. Com as duas mãos agarrei os lados do teu corpo, enlacei sua cintura e a levantei.
Deitados então nos contorcíamos; lentamente suspirando. Tuas pernas prenderam meu corpo no teu; tuas costas arquejaram; tuas mãos quentes me agarraram pelos ombros, pelos braços, me puxando pela cintura. 
Montaste então em meu corpo com movimentos frenéticos. Teu cabelo arrastando-se por toda minha pele. Joga então a cabeça para trás, trêmula e vibrante, e grita um som que não ouço. Com as unhas cravadas nos meus músculos continua proferindo palavras que não entendo. Mais alto. Mais baixo. Suspira. Meu coração dispara. Agarrando-a pelos quadris invertemos o mundo. Nosso ritmo era música. Como a chuva no telhado; como o vai e vem das ondas, como o som do trovão de um raio que acende o céu. 
E tudo para. Todo meu corpo se arqueia. Teu riso. Última cena que vi antes de acordar. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Tamanha loucura

Eu vi muitos que a cortejavam. E tantos quantos tentaram, tantos foram repelidos por ela. Tudo acontecia em cinco etapas: a admiração que ela causava neles; a paixão arrebatadora que tomava conta dos homens; a desilusão e loucura dos mesmos; a rejeição dela e o fim dramático. Senti apenas o primeiro. Aliás, ainda sinto. A paixão eu sutilmente declarei. Não consegui dar os outros passos. Talvez devesse ser mais ousado. Ela me olha diferente algumas vezes; fala frases que não sei ao certo como interpretar; quando nos encontramos vejo os olhos dela brilharem e, no abraço, sinto o seu coração batendo um pouco mais forte. Não ousaria mais do que isso. Sinto. E sei que é forte e verdadeiro. Entretanto o medo de definhar, como vi tantos outros que vieram e se foram, é muito forte também. Deveria falar! Sim, deveria. No entanto em vez de me arriscar a dizer algo errado, não falarei nada. Sei bem o que acontece com os homens que se agarram demais a ela. Eu nunca tentei possuí-la, não cochichei em seu ouvido nem beijei seu rosto quando desprevenida. Ainda lembro - claro! - do calor do corpo dela quando jogou seus braços no meu abraço; mas lembro também do rosto daqueles que percebiam quando ela os estava deixando. Vou deixar que tudo continue como está. Eu sei - e ela sabe também - que pode voltar quando quiser. Para meus olhos, meus ouvidos, minhas palavras e para os meus braços. Sem perguntas, sem medo, sem discriminação. Haverá, certamente, uma parte que sempre esperará algo mais, essa parte louca, tola e idiota que habita em mim.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Companhia

Eu subia caminhando, a passos lentos, uma ladeira. Ao chegar no topo divisei um portão; um jardim; uma casinha; uma janela. Apesar da chuva, via através do vidro que tu estavas debruçada sobre um livro qualquer. De parado que eu estava até tomar a decisão de aproximar-me, passaram-se poucos segundos. A água escorria pelo meu corpo enquanto eu pulava a cerca que nos separava -nada disso importava ;
poucos passos adiante e a poucos metros de ti estaquei. A visão que tive nunca mais sairá da minha cabeça. Estavas alheia a qualquer coisa que pudesse estar acontecendo naquele momento - e não queria de forma alguma tirá-la de tal devaneio. Eu contemplava a cena como observasse uma pintura e ali permaneci. Por horas e horas e horas. Pessoas chegavam, pessoas passavam, pessoas falavam, pessoas partiam. Não saberia dizer quem eram nem o que diziam, minha atenção estava voltada apenas para o que fazias. E apenas estavas. Com o mesmo livro na mão, um lápis a dançar em teus dedos e despreocupação em toda tua volta. A noite caiu e a manhã chegou. Com passos vagarosos fui me afastando; a cerca parecia, para mim, muito mais alta agora. No momento que desviei o olhar, uma mensagem recebi. As lágrimas que brotaram ficaram invisíveis em meio as gotas da chuva que insistiam em cair. A mensagem recebida dizia apenas assim:
'Te soube o tempo inteiro. Não ousei te chamar. Obrigado pela companhia neste dia. Um beijo. Volte amanhã'.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Diferenças

Sou um leitor inveterado. E por sê-lo agarro-me aos livros e às histórias como se não pudesse mais separar-me deles. Inicio um livro e, invariavelmente, preciso conhecer o final da trama. Toda minha vida foi assim, desde os cinco anos de idade em que juntei as primeiras letras. Até alguns dias atrás.

Tomei certo livro em mãos e iniciei a leitura; entretanto não consegui me empolgar. As frases não faziam sentido na minha cabeça, os fatos descritos não criavam imagens nos meus olhos, os diálogos não consegui formular para minha boca e meus ouvidos. A certo tempo devolvi o livro para estante. Culpado por não me deixar envolver evitei olhar para aquela prateleira. Por dias e dias me angustiei com essa situação.

Eis que uma tarde - dessas de primavera - passei por uma praça e lá estava um rapaz; sentado na grama, os pés descalços, um livro em mãos. O livro que tanto me fez padecer. Detive-me a observar o homem e ele nem notou minha presença. Seus olhos brilhavam a cada palavra lida, a cada página virada. Na hora tive impulsos que desconhecia em mim. Mesmo assim deixei-me ir e rumei pra casa.

Retirando o livro da estante girei-o em minhas mãos. Em vez de martírio senti tranquilidade. Talvez eu não tenha sido feito para o livro, quem sabe o livro não tenha sido feito pra mim ou, simplesmente, não foi o momento certo de passarmos um tempo juntos. Sorrindo, devolvi-o novamente para a companhia de outros livros. Sem culpa alguma fui reler um história que já conhecia, esperando que um dia sejamos feitos um para o outro.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Rua vazia

Na lanchonete que nos encontramos não havia mais ninguém. Apenas um senhor por detrás do balcão lavava alguns copos como, eu imagino, o fazia dia após dia. Sentados numa mesa ao canto apenas nos olhávamos e desviávamos o olhar. Você sorria. Eu mirava seu rosto. Ruborizava. Sem beijo na despedida, foi no abraço que senti teus braços me apertando forte - nem tão forte como eu gostaria, bem mais forte que eu poderia imaginar. Ainda na calçada, um para cada lado, nos olhamos. Da janela da casa em frente vinha uma música; soubemos na hora que não poderíamos nos separar. De encontro nossos corpos se tocaram e bailaram. A rua vazia encheu-se de nós dois.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Histórias

Vivo de amores impossíveis. Amores platônicos. E não me queixo disso. Acho uma forma válida de sentir algo. Por anos idealizei uma relação a dois; construí encontros ,imaginei beijos, sonhei com idas e vindas. Tempo depois, passou. Tive mais dois desses durante a faculdade. Ah, era lindo viajar com ela, ter seu sorriso só pra mim, seus lábios sempre aguardando os lábios meus, a voz dela quando chegava aos meus ouvidos era a melodia mais linda que já havia escutado. Como outros vieram e se foram, estes da mesma forma. Hoje, deixo ir mais um. Foi bem vivido por mim. As músicas - que dançamos juntos - não tocaram os ouvidos dela. As histórias sobre nós - contadas nos livros - não serão sobre ela e eu. O final daquele filme clássico - em que vivemos felizes para sempre - não eternizará nossa história. Não muda nada. Só sei eu o que vivi, sonhei, imaginei. Isso ninguém pode me tirar. Virão, tal como esses, outros tantos assim: criados pela minha cabeça, sentidos pelo meu coração. Romantizarei como outros já fizeram antes de mim. Reescreverei poemas outrora produzidos pelos grandes. Não deixa de ser uma forma de se viver. E se entregar. Talvez não viva na história dos outros. Mas crio as minhas próprias. E feliz eu sou.
 

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sombra na janela

Mesmo em sonho eu reconheceria aquele sorriso; mesmo sem distinguir sua face, seu rosto nunca me seria estranho.

Ao nos aproximarmos tudo ficou mais nítido: boca, olhos, cabelos. Era ela que chegava muito mais perto; apenas nos tocamos as mãos e eu senti todo seu calor emanar pro meu corpo. No carro, sem destino, ríamos alto; algumas vezes trocávamos olhares, outras tantas desviávamos o olhar, tamanha era nossa falta de jeito um com o outro.

Um gramado isolado foi nosso fim: toalha no chão, nos acomodamos. De repente uma multidão de conhecidos chegou até nós. Conversando, falando alto, nos chamando pelo nome. Em poucos segundos nos vimos afastados um do outro. No meio de tantos olhos apenas o seu brilhava e procurava os olhos meus.

Mais uma vez nossos caminhos se distanciaram.

Me vi sentado, novamente, na solidão do meu quarto. O quê fazer então? A noite já ia alta, a rua estava vazia, a cidade silenciosa. Na casa dela a meia-luz de um dos vidros indicava que, tal como eu, ela não dormia. Nem precisei fazer sinal algum: a sombra que se fez por detrás da persiana indicou-me que a janela logo se abriria.

A imagem que vi no momento, até agora queima-me a pele, o coração, o espírito. Em sua mais simples e linda roupa de dormir eu pude vê-la em sua essência. Sua beleza natural, o brilho do seu sorriso, a cor dos seus olhos, o doce som da sua voz. Deslizando ao meu encontro ela veio e, num sensual salto, suas pernas encaixaram-se em meus quadris; seus braços em volta do meu pescoço fizeram-me sentir amado e seguro.

Rodamos e giramos e rimos e sentimos.

O beijo que aconteceu nem foi o ponto alto dessa nossa junção: o que coroou meu sonho foi sentir, ao final de tudo, seu rosto descansando no ombro meu.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Retrospectiva 2015 - Parte dois - David Gilmour - Lado A

Durante muito tempo venho tentando escrever sobre a segunda parte da retrospectiva de 2015. (A primeira parte está aqui ó:  Retrospectiva Foo Fighters) Todas que comecei não obtiveram sucesso, apenas algumas palavras soltas, uns lapsos sem fundamento algum... Difícil mesmo foi arrumar um ponto de partida. Algumas vezes comecei bem no início mesmo mas aí eram apenas lembranças da minha infância, uma música de fundo, eu no banco do carona no velho fusca de meu pai, um toca-fitas.. Outras iniciei nos meses que antecederam o fato principal, no entanto apenas divagava e tornava-se um texto repleto de lembranças importantes pra mim sem relevância para qualquer um dos leitores. Decidi-me então, por fim, iniciar aqui ó:

A primeira vez que pisei na Arena do Grêmio.

Mesmo sendo um fanático torcedor do Grêmio Porto-Alegrense por muitas vezes fui adiando a minha ida à nova casa tricolor. Falta de grana, de tempo, de oportunidades,, enfim, tudo que conspira pra que algo não aconteça. Entretanto as circunstâncias e o destino me provaram que algo muito maior estava por vir.

Mariana, Cris, Bona, eu na fila

Quando soube que o incrível show do - não menos - espetacular David Gilmour, ex-Pink Floyd - a banda da minha infância, da minha adolescência, a banda da minha vida - seria na Arena do meu time de coração, não titubeei. Eu estaria lá!!! Os momentos que antecederam a minha entrada no local do show são indescritíveis até hoje. Não consigo me lembrar muito bem, tamanho nervosismo tomava conta do meu ser. Assim que entrei fui arrebatado de um sentimento tão forte que não cabia em mim. E não bastava que fosse dentro de nossa casa: eu estava pisando o gramado, com o mesmo ponto de vista dos atletas para os quais sempre torci; brotaram-me lágrimas nos olhos pela primeira vez nesse dia. Continuo, mesmo passando-se meio ano do fato, sem conseguir descrever a emoção que senti naquele momento.


A entrada na Arena. Primeira vez no estádio. De gramado.

Emoção essa que, na hora, achei não ser possível sentir mais nenhuma vez na vida. Enganei-me redondamente por algumas poucas horas. Assim que entramos - minha irmã, o Bona, o Cris e eu - ficamos loucos já de cara. Eu via em cada olhar dos que me acompanhavam o brilho, a alegria, a expectativa, a incredulidade do que estava por vir. Olhar esse refletido em todos os que se juntavam para curtir o mesmo espetáculo. Eram jovens, adultos, velhos, homens, mulheres, roqueiros, hippies, punks, motoqueiros, almofadinhas, todas as tribos ali estavam reunidas e eram uma só. Chegavam aos poucos mas via-se que logo éramos muitos.

Baita foto que a Cassi fez das cadeiras

Enquanto aguardávamos a noite cair e a hora se aproximar, tocava ao fundo como abertura do show principal Duca Leindecker, famoso artista gaúcho, ex-Cidadão Quem e parceiro de Humberto Gessinger no Pouca Vogal; escrevi ao fundo pois não consegui prestar atenção ao que me rodeava, tudo me interessava e tudo me desviava; só tinha foco no motivo primeiro da noite.

Pisando o tapete da Arena

E ele chegou.

Copo do show e, ao fundo, Mr. Screen - o telão circular típico do Pink Floyd

Retrospectiva 2015 - Parte dois - David Gilmour - Lado B

A galera se reunindo momentos antes do feito histórico

A hora chegou.

As luzes apagadas, lentamente se acendendo, o volume progressivamente aumentando, cinco minutos para as 21:00 do dia 16 de dezembro de 2015 e o deus do rock David Gilmour fez-se presente em carne, osso, voz, guitarra e alma.

Em uníssono gritamos, choramos, rimos, ovacionamos. Milagres existem. Os deuses são feitos da mesma matéria que nós, respiram nosso mesmo ar, suam e, alguns, cantam como ninguém. Iniciou-se então a noite mágica e ímpar com 3 músicas do último álbum solo de David, Rattle that Lock - 5 a.m.; Rattle that Lock; Faces of stone - que, apesar de não muito conhecidas deram o tom do restante que estava por vir. Emendando nessas veio aquele momento do mantra, da hipnose, do solo tocado junto, do coro geral, de uma das mais esperadas: Wish you were here! Cara!! era uma só voz ao redor, quando cantávamos nos ouvíamos e sentíamos a presença de Gilmour junto de nós. Todos os anos, todas as vezes que ouvi, todas as lembranças que a música trouxe estavam comigo naquele momento. 

A única foto que tirei durante o show. Pô,, eu tinha mais o que fazer, não é?

Vieram mais algumas músicas de seus discos solo: Rattle.. e On a Island. Mas a empolgação retornou com os primeiros acordes de Money, seguida de Us and then, dois sons do magnífico e melhor álbum do Pink - The dark side of the moon. Sensacional!! Já estávamos todos conectados numa só vibração então veio In any tongue e após a clássica High Hopes, do álbum do Floyd, The division bell (esse já sem Roger Waters), no entanto não menos longe da história da banda. O refrão inundou completamente a Arena fazendo arrepiar todos os corpos que ali estavam presentes. Terminava assim o primeiro ato do espetáculo.

Uma pequena pausa para recuperar energias. Tá bom meu pé, mana??

No início da segunda parte o telão - carinhosamente chamado de Mr. Screen - com suas imagens em alta definição nos trouxe Astronomy Domine, do primeiro álbum da banda (sem Gilmour ainda) The Piper at the Gates of Dawn de 1967(!!). Formou-se um caleidoscópio gigante e psicodélico, trazendo a tona todo momento que envolveu a banda do final dos anos 60 e que segui-se como linha durante toda sua história. A homenagem então dos Floyd a seu primeiro 'cabeça' Syd Barrett foi aclamada com Shine on you crazy diamond; a sua progressiva levada e seu refrão inesquecível ensurdeceram o mundo em volta. Ensurdeceu assim como quase nos cegou o sol gigante projetado no circular telão trouxendo-nos Fat old sun, seguida daquela que - particularmente - eu mais esperava e não sabia se ele incluiria no setlist: Coming back to life. Som esse que assisti milhares de vezes no dvd P.U.L.S.E. de 1995 e que deu sentido a minha vida.

Ali sim, eu presenciava a história passando na frente dos meus olhos e entrando pelos meus ouvidos.

Como um momento para um pequeno relax, Gilmour nos trouxe The girl in the yellow dress, um jazz autoral e executado com extrema habilidade. Logo nos trouxe de volta ao passado com Sorrow, do Momentary lapse of reason, preparando-nos para o final da segunda parte do show, onde todas as luzes: do palco, do telão e em volta dele estavam ligadas. Isso fez com que os músicos - incluindo David - colocassem óculos escuros tamanho brilho pulsava do palco com a excepcional e pesadíssima Run like hell. Não foi apenas uma incursão visual e sonora, foi um sentimento inexplicavelmente... palpável.

A hora do fim se aproximava. E parecia que as horas tinham levado segundos para correr.

Com um simples 'obrigado', Gilmour apresentou a banda e pronunciou mais algumas frases de agradecimento. Ninguém se movia do lugar, hipnotizado pela presença de uma figura histórica falando diretamente aos nossos ouvidos. O final então veio com a ímpar Time. Música de muita história e de grande presença em qualquer álbum das melhores músicas do mundo. O trecho de Breathe emendado em Time quase nos deixou sem ar - lembrando-nos na própria letra que devíamos 'respirar, respirar o ar'-, preparando-nos para o que seria a derradeira música da noite.

Aos primeiros acordes o tempo pareceu parar. Muitos choravam. Alguns se abraçavam. Todos gritavam.

Comfortably Numb

Talvez a música mais perfeita já feita até hoje, executada pelo mestre da guitarra frente a nossos olhos. O vocal que, mesmo calejado do tempo, continua inigualável. Os dedos correndo pelas cordas continuam ágeis e sincronizados como a primeira vez que tocaram. Em uma união nunca antes experimentada por mim éramos milhões de vozes e almas completamente entorpecidas.

Demorei pra me mover de onde estava. As luzes do palco se apagaram e da Arena se acenderam. Não sabia o que estava acontecendo ao redor. Não sei até hoje e nem sei se um dia conseguirei explicar. Foi o ponto alto de uma existência. Poucas coisas na vida acho que fariam me sentir como me senti. A noite acabou, mas o arrepio continua a cada lembrança, a cada música ouvida, a cada simples menção de qualquer elemento ligado àquele dia.

Pensem em duas crianças realizadas, antes, durante e depois do espetáculo.
Bona e eu. 

Hoje tenho gravado na pele aquilo que nunca quero esquecer. Aquilo que nunca vou me arrepender. Aquilo que me fez o cara mais feliz do mundo em apenas duas horas, por uma vida inteira.

A primeira tattoo não poderia ser outra: The Wall e The Dark Side of the Moon.
Pink Floyd gravado pra sempre

terça-feira, 28 de junho de 2016

terça-feira, 21 de junho de 2016

Um que nunca serão dois


Nas histórias que imaginei estávamos lado a lado; eu sempre a te acalentar com uma palavra reconfortante, sorrindo quando choravas e rindo quando tu rias; nestas, outras tantas histórias paralelas aconteciam, ao mesmo tempo, em nossa volta. Entretanto, em meus sonhos, ahh, nesses não haviam outros sonhos; não bastava que andássemos um ao lado do outro, não; estávamos juntos, unidos, corpo com corpo, beijos e abraços, pernas e braços, cabelos-pele-suores-lágrimas. Era ferocidade, selvageria, apenas instinto. Apertos, marcas, força, prazer, dor, raiva, alegria, calafrios, amor. Um dentro do outro tentando ficar e partir; até que todos nossos fluídos se misturassem pelos cômodos da casa, até que, rendidos e sem forças, nos entregávamos enfraquecidos ao colo do outro. Éramos um. Apenas um. E este um nunca mais soube ser os dois que eu criava em minhas histórias, quando acordado.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cicatriz

Eu tenho uma cicatriz logo acima da sobrancelha esquerda. A cada vez que me olho no espelho lembro de uma manhã, no colégio, em que corria irresponsavelmente pelos corredores úmidos e acabei por escorregar, machucando-me seriamente. Nunca mais procedi da mesma forma.

Tenho outra cicatriz que adquiri quando tinha apenas 1 ano de idade. Não lembro do que aconteceu - nem teria como - mas a marca está lá, no meio de meus ralos cabelos, não me deixando esquecer de ter muito cuidado perto de um felino qualquer.

Tenho mais uma, de - talvez - grande extensão no meu joelho direito. Essa adquirida já na adolescência, que me grita a cada passo dado de ter menos ímpeto nos jogos que disputo.

Outras tantas eu trago no corpo: nas mãos - de descuidos com facas; abaixo do olho, pequeníssima - não jogar pedras na vidraça vizinha!!; na perna - sempre olhar onde pisa; e tantas outras mais ou menos relevantes.

Falo delas, hoje, pois nunca me importei com a parte estética da coisa toda. Não diria para alguém esconder ou mostrar as suas, vai de cada um. Mas sei o que cada uma das minhas significam, cada ensinamento que elas me trouxeram. Os machucados fazem parte da nossa existência e do nosso crescimento. Aprenderemos com eles ou nos machucaremos novamente. Faz parte.

No entanto trago também, em mim, machucados não visíveis. Alguns cicatrizados, outros que insistem não curar.

Esses últimos doem, dia após dia, pois não há história para lembrar. Apenas o vazio, o sofrer, o sangrar. É apenas o hoje, lacerando a alma, o corpo, o coração. Que venha o tempo e cicatrize as feridas. Só assim para que não repita os mesmos erros que cometi.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

inConsciente

E novamente te contaria meus sonhos dessa noite. E seriam as mesmas palavras que usaria. Repito tudo. Não sei descrever de outras formas. Talvez já tenha usado todas palavras que conheço: verbos, advérbios, adjetivos,substantivos. Não sei nada além do que uso. E, mesmo sendo o único sorriso que aparece, todas as noites são diferentes. Mesmo beijo, diferente sabor. Mesmo olhar, diferente calor. Ao te tomar em meus braços regozijo-me em total alegria. Nada mais em volta parece importar. Mas não tenho, ao acordar, essa mesma felicidade. Arrasto-me dia após dia no desejo de, mais uma vez, encontrá-la. E não dizer todas as palavras que ensaiei. Deixar que pareça um idiota, com o rosto corado e as frases incompletas. No bolso, pedaços de versos amassados, cantos de jornais rasgados, guardanapos borrados com uma caneta qualquer. Permito-me apenas em sonhos. Esses mesmos que não consigo controlar, que mostram-me a vontade, bem guardada, de tudo que queria viver. 

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Áspero amor - Pablo Neruda

Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
cipoal entre tantas paixões eriçado,
lança das dores, corola da cólera,
por que caminhos e como te dirigiste a minha alma?

Por que precipitaste teu fogo doloroso,
de repente, entre as folhas frias de meu caminho?
Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?
Que flor, que pedra, que fumaça mostraram minha morada?

O certo é que tremeu a noite pavorosa,
a aurora encheu todas as taças com seu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,

enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
até que lacerando-me com espadas e espinhos
abriu no coração um caminho queimante.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Procura ela

Hoje, meu amigo, escuta:

Não vá atrás de peitos, bundas e mais uma novinha que vai virar uma medalha envelhecendo na tua lembrança; não seja esse cara.

Hoje, meu amigo, procura ela.
Que tá com o telefone do lado; e, aposto, adoraria receber um sinal de que tu também tens uma vontade guardada aí dentro de ti.

Hoje, meu amigo, fala com ela.
Eu sei, tu carregas aquela sensação de cansaço de sempre escutar: "Tu és o cara certo, na hora errada."
Ela também está cansada de escutar: "Não quero nada sério agora."
Nessa batalha, se um vencer é jogo; mas se os dois se renderem é o início de um amor tímido e novo.

Hoje é a tua vez.
Te rende.
Vai!
Deixa tudo aflorar.

Hoje, meu amigo, faz como ela: Te entregas. Perdes a razão. E encontras teu coração.
Procura ela.
Ela.
Que tá cansada de ser enganada e iludida por algum babaca do passado. Que está farta de viver nesse mundo do avesso, cheio de mentiras e trapaças.
Vai e cura as feridas dela. Deixa que ela cure as tuas também.

Hoje, procura ela.
Que detesta conto de fadas, mas quer um cara bacana pra abraçar e fazer rir do nada. Que não tem frescura com tuas brincadeiras de humor negro. Que um dia escreveu o nome daquele idiota num caderno de pensamentos.

Hoje, meu amigo, é a tua vez de conquistar ela.
Hoje, meu amigo, é a tua vez de tentar.

Cansei de te ver fugir.
E andei notando que tu estás cansado também. Pode ser bom tu te apaixonar.
E vocês combinam tanto; impossível não notar. Aposto que dariam certo.

Não vejo porque não tentar.
Com o tempo tu verás que ela não quer um cara perfeito, ela quer, simplesmente, alguém sincero e verdadeiro.
Garanto-te que ela pensa em ti sim.
E não quero, um dia, olhar nos teus olhos e dizer:
"Puta que pariu, porque tu decidiste estacionar na vida dela quando ela já tinha desistido?"

terça-feira, 10 de maio de 2016

mesmo que não queira

eu cansei de escrever.
e cansei de te descrever.
e não aguento mais as frases em mim.
e surgem todos dias novos trechos e novas resoluções, tais como essa.
e não sei como lidar.
hoje o que queria mesmo era te falar.
olhando no teu olho e vendo teu respirar.
mas, mesmo tu não querendo me ouvir, será que permitiria
que saísse tudo isso
que transborda em mim?

sexta-feira, 6 de maio de 2016

dos sonhos que sonhei

Sonhei duas vezes essa semana.

Sim, duas vezes.

Se foram demais ou se foram de menos, não saberia dizer.

Mas eu acreditei neles, como deve ser - de a gente poder acreditar nos próprios sonhos e poder alcançá-los e realizá-los. Apesar de chás de camomila, sucos de maracujás, pílulas coloridas e comprimidos incolores, sonhei. Apenas duas noites, de sete noites que tive.

Na terceira noite sonhei com futebol; Grêmio, mais precisamente. Contra o Rosário Central, especificamente. Na quarta noite sonhei com a moça aquela de meus sonhos recorrentes. E, talvez, esteja aí minha relação entre um e outro.

Pelo primeiro imaginei o amor que tenho incondicional e imortal, de tê-lo e senti-lo apesar das circunstâncias. Sim. Nada mata em mim o sentimento. A devoção. O querer. O conseguir. O conquistar. Tremi por ele e por mim por dias; minha alimentação não foi a mesma; o coração,, ahhh esse pulsava como queria... Tive febres, calafrios, lapsos de memória e inversões de tempo e espaço. Mas falando agora do sonho, eu vi! Vi o meu time jogar futebol de gente grande; de fazer dois gols e não esperar o adversário; tomar um gol em uma adversidade qualquer; mas voltar pra casa com a sensação de dever cumprido; ter um jogador expulso e continuar lutando como se não houvesse amanhã. Eu não sei dizer, de verdade, como meu time jogou dois últimos segundos tempos. Eu abandonei. Deixei de gostar. Não tive mais tempo em mim pra tanta coisa pouca. E tudo isso dói em mim; machuca-me como adagas perfurando minha pele minuto a minuto.

Tal fato leva-me ao segundo sonho que tive.

Nesse eu a vi; como nunca a havia imaginado.

E, sem delongas, sei e ela sabe o que imaginei.

Entretanto agora eu tenho uma certeza: não acredito nos meus sonhos. Nem um nem outro se realizou. Nem a alegria de um gol marcado, nem a felicidade de um beijo ganho. Nem a esperança de seguir em frente, nem a utopia de andarmos lado a lado. Nem a rebeldia de estarmos contra o mundo, nem a simplicidade de sermos apenas dois.

Eu já deveria saber:
Sonhos são para a noite, para o travesseiro, para a alma e para o coração.

E para nada e ninguém mais.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

coleção

coleciono amores
que guardo em diversos lugares
     na estante de livros
     na caixa de discos
     na gaveta das meias
     debaixo da cama
     varridos no tapete
     enterrados no fundo do quintal
preservo apenas um
que levo na minha cabeça
     no meu coração
     comigo à noite
     no travesseiro
vivendo infinitamente
     nos sonhos
     que ouso sonhar

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Poeta sou

Poeta sou que crio mundos
fantasio histórias
vivo sonhos
habito o inimaginável

Por vezes não diviso
o que é real
do que eu imagino
quando acordado

De olhos abertos: sonho
Quando os fecho: vivo
eternas ondas
indo e vindo sem fim

Poeta sou não por versos
mas por sentimentos
cenas que crio
diálogos que enceno

Os abraços que sinto
os risos que vejo
o corpo que esquento
os lábios que molho

Talvez por isso caio
infindável precipício
de gritos surdos
e frio intenso

Mas o vento deixa-me voar
e giro e rodo e subo
sorrio
sem medo do chão

Poeta sou que não me importo
de que digam o contrário
os cânticos em mim vivem
e os vivo sem querer

A saudade bate:
do que não tive
As lembranças existem:
do que não vivi

Recomeço histórias
ao final de outras
e tantas vem
quanto tantas vão

Que infinitos sejam
todos versos que habito
pois poeta eu sou
e nada, sem eles, eu seria

quarta-feira, 30 de março de 2016

Sem inspiração

Seguidamente perguntam-me se continuarei a escrever aqui, ao que - invariavelmente - respondo que sim. Entretanto há momentos de mais e de menos inspiração. Este pelo qual passo agora está bloqueando um pouco minha criatividade. A cabeça anda vazia, serena, com alguns pequenos conflitos internos tentando se resolver por si só. Talvez surjam novas histórias, novos sonhos, ou apenas os mesmos de outrora. Aguardemos então o que está por vir.

segunda-feira, 21 de março de 2016

luz dos olhos dela


o silêncio

me acostumei com o silêncio
em mim
na minha casa
ao meu redor
não me importo
ando com passos firmes
bato uma porta
abro uma janela
ouço um disco
leio um livro
tantas histórias conhecidas
mundos a descobrir
almas descobertas
paisagens estranhas
converso comigo
faço planos
planejo destinos
imagino encontros
rio sozinho
gargalho alto
tremo todo
basta esticar a mão
a chuva abraça
límpida
fria
um renascimento
o sol cega os olhos
mas abre o peito
e deixo-me
e permito-me
que não ouça
os ruídos da rua
algumas vozes
gritos
e fico comigo
no silêncio
em mim
na minha casa
ao meu redor

liberdade

voar
nos permite admirar
as paisagens
o mundo
as possibilidades
tudo aquilo que é
infinito

sexta-feira, 18 de março de 2016

vermelho, branco e rosa

eu via seus lábios
um batom vermelho
assim como seus olhos
vermelhos também
de longe eu via:
seu rosto,
a blusa branca,
a saia rosada,
os pés descalços
não ousei me aproximar
do outro lado da sala
onde estava, fiquei
um segundo nos olhamos
meio riso apareceu
nos brancos dentes da moça
levantei-me
ela veio em minha direção
segurei-a pelo braço
ainda havia tristeza
não perguntei o que era
meu olho no seu bastou
sem palavras a acolhi
um beijo tudo resolveu
nos braços dela
encontrei amor
no meu abraço
a paz ela encontrou

sexta-feira, 4 de março de 2016

para ela

então meus sonhos
     nesta última noite
foram diferentes
     de todos outros
e sei também a razão
   
foi porque ela
     de alguma maneira mudou
parecendo mais linda
     e mais bela
     à luz dos olhos meus

terça-feira, 1 de março de 2016

sobre Cláudia

Há quatro anos conheci uma garota. Conheci é apenas modo de dizer. Há quatro anos que a vi pela primeira vez. Foi quando nos encontramos na entrada do meu prédio. Percebi sua dificuldade em segurar o portão de entrada com três caixas grandes em volta dela: boa tarde; boa tarde, posso ajudá-la?; claro, obrigada. Ela era a pessoa mais linda que eu jamais havia visto e sua voz, motivo dessa lembrança, soou como música aos meus ouvidos e também foi a ruína do meu coração.

Eu morava sozinho num condomínio de prédios iguais entre si, com pequenos apartamentos constituídos de sala/cozinha, um banheiro, um quarto e uma pequena área de serviço. Trabalhava todo o dia no centro da cidade e, à noite em casa, gastava meu tempo com meus livros, discos e cozinhando apenas pra mim. Nada fora da rotina acontecia, talvez uma noite me demorasse num balcão de bar, talvez outra entrava em uma sala qualquer de cinema. Até que a moça no portão fizesse meu mundo de pernas pro ar.

No nosso primeiro encontro ajudei Cláudia - era esse o nome dela - a carregar duas de suas caixas para dentro do prédio. Acompanhei-a e chegamos ao quarto e último andar onde ficava o meu apartamento. Para surpresa dela, sua porta era ao lado da minha. Falou-me que havia mudado a dois dias e que essas eram as últimas coisas que traria para o novo lar. Deixei as caixas aos seus pés e nos despedimos - tchau, até mais - ali mesmo.

Cláudia também era uma solitária. Eu a encontrava eventualmente no portão do prédio ou no corredor do nosso andar. Cozinhava para si ouvindo música. Tocava mpb, jazz, música clássica, erudita, todos os tipos, entretanto o mais recorrente era o bom e velho rock & roll. Eu, não muito acostumado com televisão, desligava tudo que poderia atrapalhar o momento e compartilhava com ela esses instantes. Sentia, também, o aroma que provinha de sua cozinha: manjericão, açafrão, alecrim; comidas chinesas, mexicanas, molhos, tortas e bolos. Sentia tudo isso de dentro do meu pequeno apartamento.

Curioso que quase nunca nos falávamos. Havia apenas um momento no mês em que trocávamos algumas palavras: o entregador da conta da luz deixava sempre, por descuido, a conta de Cláudia dentro da minha caixinha. Enquanto subia as escadarias, folheando as correspondências, separava a da moça e deixava por debaixo de sua porta ou, no caso de a encontrar no caminho, entregava pessoalmente. Ela sempre sorria, desculpava-se pelo transtorno e me agradecia.

Por quatro anos foi assim. Tudo que eu soube foi o que eu imaginei. Nem uma vez sequer trocamos informações pessoais ou tivemos alguma conversa mais profunda. Apesar de contar os minutos para chegar a minha rua e, num lance de sorte, encontrá-la, jamais falei isso para Cláudia.

Certa noite demorei-me numa livraria próxima ao meu trabalho, ao entrar no prédio já sentia o maravilhoso cheiro de ervas finas que dominava o ambiente. Sem dúvida alguma eu sabia que provinha do apartamento da minha vizinha. Lentamente atravessei o corredor e demorei-me na porta. Respirei aquele ar e pensei: qual prato estará preparando hoje? Ao abrir minha porta vi um rapaz vindo no corredor, com um aceno de cabeça nos cumprimentamos e eu adentrei meu apartamento. Ouvi o barulho de batidas na porta da vizinha e um resquício de sua voz. Tocava um blues antigo que eu escutava deitado na minha cama.

Na manhã seguinte acordei muito antes do normal, a voz de Cláudia me acordava. Não era voz, eram gemidos, eram suspiros e gargalhadas. Poucos segundos duraram. Agoniado e engolindo em seco, levantei-me fiz o café e fiquei sentado na sala escura. Nada se ouvia, ainda, na cidade. O dia clareou e eu fui pra porta, uma eternidade se passou no corredor e escadaria do prédio. No portão encontrei Cláudia. Eu, com olheiras, entregava o sono abortado; ela, vestindo apenas uma camiseta, ruborizava enquanto fechava o portão. Abrindo minha caixa de correspondência esbocei um falso riso. Retirei minha conta de luz que jazia lá, solitária. Ao meu lado, Cláudia abriu a dela, e expressando decepção retirou a sua, que estava lá no fundo da caixa, solitária também.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

se eu tivesse

se tivesse a oportunidade
          de te mostrar
          motivos para ficar
daria também a ti
          liberdade de ir
          quando quisesses partir

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

girassóis


duas colinas verdejantes,
separadas por um límpido e sonoro riacho,
uma macieira,
centenas de milhares de girassóis.
corrias tu no meio do amarelo infinito.
contada talvez em algum filme
a mesma cena,
mas nenhum espectador
viu o filme que vi.
com uma mão tomaste a flor e a aproximaste do rosto.
num respirar, o sorriso.
os olhos levantaram-se pro céu
o brilho do sol cegou teus olhos
leve como abelha deslizaste pelo campo.
risos, risos.
com os braços abertos
num abraço te envolvi.
na sombra da árvore, tua face toquei.
por debaixo dos cabelos, te senti.
um beijo.
um respirar.
o clímax de uma tarde que apenas existiu em mim.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Hoje é noite de Grêmio

Nada mais importa.
Nada tem relevância.
Apenas meu Imortal Tricolor estreando na Libertadores da América 2016.
Que seja de alegrias, bons momentos e vitórias.
Vamos, Grêmio!!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

preenchendo vazios

e tento me manter acordado, sem delírios, enchendo a cabeça com dúzias de pensamentos aleatórios; no rádio um noticiário, na rua o som dos carros passando, sirenes, metal contra metal; nas mãos copos vazios, cigarros, canetas, garrafas cheias; não foco o olhar em nada, um pássaro voa (ou dois?), um caminhão parado, um sofá abandonado; em casa o pó se acumula, lâmpadas queimadas, uma réstia de sol, cheiro de nada; no quarto roupas jogadas, o armário revirado, as cartas todas rasgadas, a tevê não sintonizada; debaixo da cama teu retrato e um relógio que, talvez, marque a hora certa.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

amo um amor secreto

amo um amor secreto
no entanto não é segredo
as palavras me entregam
as atitudes me traem
me atraem seus traços
seus risos no rosto
esse tal não encorajado
de beijos não consumados
como quadros pendurados
na parede da sala
nos versos desenganados
que um poeta desenhou
nos parágrafos de um livro
amarelado pelo tempo
tempo que não conto
nem lembro o início
ah, mas não faz tanto assim
pois sei que é pouco
perto do que virá
desse amor secreto sem segredos
com abraços não dados
infinitamente se repetindo

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Esquece o futuro - Montaigne

"Esquece o futuro, ele não te pertence.

O presente te basta
mas é preciso ser rápido quando ele é mal presente
e andar devagar quando se trata de   s a b o r e á - l o.
Expressões como "passar o tempo" espelham bem a maneira de viver dessa gente prudente,
imagina não haver coisa melhor pra fazer da vida!
Deixam passar o presente, esquivam-se, ignoram o presente,
como se estar vivo, fosse uma coisa desprezível...
Porque a natureza nos deu a vida em condições tão favoráveis
que só mesmo por nossa culpa, ela poderia se tornar pesada e inútil."

deixe

deixe o mar ir e voltar
trazer e levar
a onda arrastar
e brisa chegar

deixe o vento subir
uma folha cair
nos morros zunir
no rosto sentir

deixe o sol abraçar
flor da pele queimar
na água brilhar
o olho ofuscar

deixe o amor fluir
o coração emitir
não mais mentir
nunca mais fugir

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Uma palavra


Eu sou um fã incondicional da língua portuguesa.

Suas variações de verbos, incontáveis qualificações, infinitas combinações e possibilidades imensas de se fazer entender.
No entanto a nossa língua ganha minha eterna admiração pela existência de apenas uma palavra, que consegue ter significados infinitos e ao mesmo tempo ser tão restritiva.

Pois, às vezes, é só aquilo mesmo: um sentir-não-sei-o-quê-ao-certo e apenas denominá-la

SAUDADE.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Prisão

Numa fenda de uma parede rochosa jazia eu. Parecia uma caverna, mas ainda havia o céu sobre mim. Vinham dias, caíam as noites. Dia após dia. Era chuva, ou era o frio, ou nenhum dos dois. Não sentia calor, nem fome, não sentia nada. Aprendi as fases da lua, as estações do ano, norte-sul, leste-oeste, todas as constelações. De nada me adiantaria. Sentado permanecia a contar gotas de água caindo a meu lado. Eu era apenas um esboço do que havia sido. Vazio de sentidos, sentimentos, histórias e sonhos. Fora esquecido pelo mundo e eu não lembrava de nada fora dali. Nem mesmo lembrava de como havia chegado até ali. Lembro apenas que de início pensei em escapar: para onde? por quê? para quem? Sobravam-me forças, faltavam-me razões. Essas nunca recuperei, aquelas eu perdi. Desisti. Deitado, consigo contar os segundos até o brilhar do último raio de sol. Não haverá o brilho lunar essa noite: é lua nova; contrariando a escuridão que persiste em ser, invariavelmente, sempre a mesma.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O que há de melhor

Continuarei o mesmo. Talvez eu não mude nunca esse meu jeito de ser, de agir, de sentir. Se mudar, acontecerá naturalmente, não por qualquer tipo de pressão externa. Não me preocupo com a opinião alheia. Sou o que sou e tudo que fiz me fez chegar até aqui. Nada é fácil pra ninguém. No entanto só quem sente de verdade sabe o que se passa dentro do peito de cada um. Nadar contra a corrente é sempre um desafio, mas é o que nos torna fortes e dignos de alcançar os objetivos. O tempo, a distância, a incompatibilidade, a diferença de pensar ou o simples fato de não existir o sentimento dentro de um ou outro pode fazer com que soframos; entratanto não há nada a fazer. Eu nutro e alimento o que há de melhor em mim, sem medo algum. Talvez os ventos mudem minha direção, quem sabe o destino apareça com alguma surpresa, ou meus próprios olhos percebam coisas que jamais viram; estou preparado. Não vou deixar-me abater. Sorrio sempre e agradeço por ser quem sou. Se há julgamentos e condenações, esses não vem de mim: crescem, vivem e morrem dentro dos outros. Espero que se ame mais, se sonhe mais, se busque mais, se descubra mais; as conquistas talvez nunca cheguem mas o quanto lutamos nos mostra quem realmente somos.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Dos astros - Uma ánalise de Áries com ascendente em Touro

Inicio este post dizendo que nunca fui fã de astrologia, signos e afins. Entretanto ontem viajando na web resolvi fazer um pequeno teste. Talvez alguém possa me ajudar e dizer se está correta essa análise do dia do meu nascimento.

Olha só:

'Humberto, no momento de seu nascimento era o signo de Touro que se levantava no horizonte leste (ascendente). Esta combinação costuma dar às pessoas uma aparência mais calma e tranquila, pois Touro de certa forma modera toda a tradicional impulsividade ariana - mas veja bem, a impulsividade e a agressividade continuam aí, só que "disfarçadas". A qualidade terrena de Touro se junta à energia fogosa de Áries, podendo transformar você, Humberto, num verdadeiro trator: quando enfia algo na cabeça, não há santo que lhe faça mudar de ideia! Este excesso de energia pode inclusive beneficiar a prática esportiva, e você tenderá a ter uma boa constituição geral.

Marte e Vênus, seus dois regentes principais, sugerem uma sensualidade intensa, e uma forte intensidade de desejos que levam você a amar com toda a intensidade a vida, os prazeres e o sexo. Os apetites desejosos são muito fortes e tudo isso é válido, contanto que não se torne a finalidade única de sua existência. Para você, Humberto, é conveniente cultivar um pouco mais a moderação dos quereres e este egoísmo básico que pode vir a atrapalhar seus relacionamentos. Ver as coisas apenas sob seu ponto de vista é mais confortável, mas não é justo.

Touro no ascendente lhe confere uma atmosfera mais afetuosa e mais estável. Precisará aprender a moderar os jogos de poder em seus relacionamentos , aprendendo - e por sua vez ensinando - que numa relação não devem existir "vencedores e vencidos", e sim parceiros e, sobretudo, confiança. E isso vale, Humberto, para qualquer qualidade de relação: da conjugal às sociedades."

Feito.

Encerramos por aqui.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Todas as cartas de amor são ridículas - Álvaro de Campos

Eu já deveria imaginar o motivo de nunca enviar as cartas que escrevo pra ela. Ao final, quando as leio, elas parecem-me tal e qual o poeta escreveu.

Assim, ó:

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos - Pseudônimo de Fernando Pessoa

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Retrospectiva 2015 - Parte Um - Foo Fighters

Decidi deixar de lado as divagações e, definitivamente, escrever sobre o meu ano de 2015. De tantas frases e coisas que lembrei achei até já havia escrito sobre isso, no entanto fui procurar e vi que tudo ficou na minha cabeça e nada saiu no papel. 

Há dois fatos consideráveis a relatar sobre o ano que passou, fatos aliás históricos e inesquecíveis. Comecemos pelo primeiro, em ordem cronológica e nem por isso mais ou menos importante:

o show de 21 de janeiro do Foo Fighters.

Abertura show do Foo Fighters com a Kaiser Chiefs - FIERGS - PoA

Desde sempre fui um alucinado fã de rock e isso só aumentou quando, certa tarde, minha mãe presenteou-me com duas fitas k-7 - isso lá pela metade dos anos 90 - de duas bandas que nunca deixaria de ouvir: o disco Dookie, da Green Day e o disco Nevermind, da Nirvana. Tchê! quando eu colocava no meu microsystem 3 em 1 qualquer dessas fitas minha mente viajava para longe. Quando poderia pensar que alguém traduziria todo meu espírito em letras e músicas feitas daquele jeito? Uma revolução!! Então aqui cito a Nirvana pois o baterista dela era nada mais nada menos que Dave Grohl - um menino talvez acanhado mas com muita força numa banda liderada pela lenda Kurt Cobain. Mas divago, o que quero mesmo dizer é que quando soube que a Foo Fighters, agora construída e liderada por aquele baterista, viria ao Brasil - mais precisamente Porto Alegre - não tive dúvidas: eu iria!


Dave Grohl - Baterista do Nirvana

Ingressos comprados, uma parceira das antigas de companhia, duas novas amizades, dois amigos do Mar e lá estávamos. Ao soar os primeiros acordes e primeiros versos cantados por Grohl, minha alma saiu de mim. Olhos, ouvidos, boca, nariz, tudo era parte do que acontecia em volta. Rock em sua essência. Música de qualidade. Show inigualável. Preciso dizer que nunca tinha estado num concerto de tais proporções. Não sabia como agir. Parecia o mesmo menino de 20 anos atrás abobalhado com o ouvido grudado na caixa de som. Dave se movimentava, tocava sua guitarra, conversava com a platéia, balançava suas melenas como um digno tocador de rock deve fazer. Ao som de 'Something from nothing', 'The pretender' e 'Learn to fly', todos éramos um.

Ale, Juli, Karine, 1berto, Nesele e Milrem

Há momentos que lembro, em outros há um lapso apenas preenchido com o coro de 30 mil vozes entoando mantras hipnotizantes. Particularmente o momento alto foi quando, após uma pequena pausa, o vocalista Dave deu lugar ao baterista Grohl e tomou em suas mãos as baquetas da banda. Ao som de 'Miss You', dos Rolling Stones e 'Under pressure', do Queen & David Bowie foi que delirei vendo o mesmo menino acanhado destruindo as batidas da bateria e do coração de todos. Euforia e emoção são as palavras que podem resumir aqueles momentos.

Com o retorno de Dave aos vocais e outro 'garoto' - Taylor Hawkins - à bateria, o show chegava ao seu fim com as ímpares: 'Skin and Bones', 'Time like these' e, talvez as mais esperadas 'Best of you' e ' Everlong'. Acabaria em alto estilo uma noite como nenhuma outra noite seria.

Finaleira do show da Foo Fighters - Todo mundo muito louco

Saí daquele show - de 3 horas, sim, TRÊS HORAS de duração - de alma, mente e coração leves. Nunca esquecerei. Jamais estarei curado daqueles momentos. O tempo pode ser limitado, mas a sensação, ahhh a sensação é infinita.

E eterna.

Separação - Bella Akhmadulina

Bella Akhmadulina (1937 - 2010) é considerada a maior poetisa russa.

Ela escreveu, dentre outros, isso aqui ó:


Hoje nos separamos para sempre
e isso faz o mundo transformar-se.
Tudo nele anuncia a traição:
os rios vão se afastando das margens,
as nuvens vão se afastando do céu,
a mão direita olha para a esquerda
e arrogante diz: “Vou embora, adeus!”

Abril não mais prepara o mês de maio,
mês de maio que nunca mais verás,
e as flores se desfolham, feitas pó.
É a derrota do azul para o amarelo!

Já as últimas flores se esturricam,
comprimento e largura não há mais,
o branco, em estertor, já agoniza,
deixando um arco-íris de orfãzinhas.

A natureza afoga em sua tristeza,
a maré baixa sobe pela margem,
calam-se os sons e isso porque nós,
você e eu, pra sempre nos deixamos.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Sobre os poetas - Paul Valéry

nos conta o poeta francês em 'Poemas apócrifos':

sair de casa sem o idioma e voltar ao mundo
   pelo caminho mais curto
sair da cidade e sair do nome
   à espera que
   da ausência de antônimos
   surja uma qualquer semântica
   de afetos selvagens
toda fronteira é mais verbal que física:
no perímetro da língua
   todo um contorno de corpo
e os pensamentos
   só existem enquanto pensados
   na erosão do limite
   da expectativa do som
   pelo mínimo dialeto das máquinas:
serão as máquinas nossa única herança
   as únicas que nos rangerão
   versos de amor até o fim
com sua devoção aos mantras
   tentarão compor obra maior que a vida
sem entender que a única tarefa
   razoável do poeta
   é noticiar o fim do mundo

Mantra

Que passe em mim essa velha mania de meu primeiro pensamento do dia ser teu.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

o Mar

Apenas basta que eu esteja..


Um pássaro menor - Robert Frost

Quis, de fato, que o pássaro voasse
E próximo ao meu lar não mais cantasse.

Cheguei à porta para afugentá-lo,
Por sentir-me incapaz de suportá-lo.

Penso que a inteira culpa fosse minha,
E não do pássaro ou da voz que tinha.

O erro estava, decerto, na aflição
De querer silenciar uma canção.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Soneto LXXXVIII - Shakespeare

Quando me tratas mal e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.

Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.

Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,

Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Gritos

Hoje são os gritos do silêncio que me chegam aos ouvidos. No quarto escuro, na fumaça do cigarro, no que restou de gelo no copo, nos livros que não li, nos discos que não escutei. Do nada que há em mim resta apenas um nome e a lembrança do que nunca foi. Da cadeira onde estou meu corpo não se ergue. Nunca saberei quantos passos conseguiria dar. Mesmo sabendo que não há lugar para ir. Chegam-me mais silêncios. Da tarde nada ficou. A noite abraça-me como a morte chegando lentamente para ficar. Minha cabeça dói. O vazio que há eu preencho com o nome que a cada minuto tento esquecer.