terça-feira, 1 de novembro de 2011

Trecho

"Que sensação se comunica a todo o meu ser quando por acaso meu dedo toca no seu, ou nossos pés se encontram embaixo da mesa! Retiro-os como se tivesse tocado o fogo, e uma força secreta impulsiona-me de novo. A vertigem arrebata os meus sentidos! ... E dizer que sua alma cândida não sabe o suplício que me infligem essas pequenas familiaridades! E quando, animados pela conversa, ela pousa sua mão sobre a minha e, mais arrebatados ainda pelas palavras, ela se aproxima tanto que eu chego a experimentar seu hálito celestial junto dos meus lábios. . . então, parece que vou desaparecer como que ferido pelo raio... E, Wahlheim, como explicar esta pureza e esta confiança, se eu jamais ousei... você me compreende. Não, meu coração não é tão corrompido! Ele é fraco, sim, bem fraco! Ela me é sagrada. Todo desejo emudece em sua presença. Não sei o que sinto quando estou junto dela; é como se toda a minha alma estivesse subvertida... Uma ária que ela toca no cravo, com o poder mágico de anjo, e com tanta simplicidade, tanta alma! É a sua ária predileta. Quando ela fere a primeira nota, sinto de todo o meu sofrimento, da confusão das idéias e fantasias. Nada do que os antigos contam sobre o poder sobrenatural da música me parece inverossímil. Como esse pequeno canto toma conta de mim. E como ela sabe fazer-se ouvir a propósito, sempre no momento em que me vem vontade de meter uma bala na cabeça! ... O delírio e as trevas se dissipam na minha alma e respiro mais livremente."

O sofrimento do jovem Werther; Goethe.

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