terça-feira, 11 de junho de 2013

Cordel do Fogo Encantado (banda)

Hoje minha dica será musical.

Ok, parte musical, parte poética. Logo mais vocês entenderão.

Eu tenho o privilégio (para alguns, maldição) de ir para a faculdade, todos os dias, com transporte coletivo. Muitas vezes pensei que fosse um perda tempo, uma hora para a ida, uma hora para a volta. Entretanto nesses 5 anos de andanças, consegui ocupar muito bem esse tempo.
Durante esse trajeto aproveitei sempre para ter à mão duas coisas: livros e músicas.
Quanto aos primeiros tive a chance de ler os grandes clássicos: 'Crime e Castigo' e 'Os Irmãos Karamazóv', ambos de Dostoiévski; 'Os sofrimentos do jovem Werther', de Goethe; 'Clube da luta', de Chuck Palahniuk; alguns do Machado de Assis, dentre outros tantos (e foram tantos...).

Quanto às músicas, tenho um velho hábito: quando conheço alguma obra de alguém, procuro conhecê-la a fundo; então procuro não apenas alguma música que fez ou faz sucesso (vide postagem Lado A. Lado B.), mas sim tento encontrar a obra completa. Tendo ao alcance, escuto os álbuns do início ao fim; tentando entender o contexto, o que se passa na cabeça dos autores e tento conhecer um pouco mais de cada música que me toca os ouvidos.

Pois bem, dia desses encontrei em meus arquivos de mídia o álbum 'Cordel do Fogo Encantado', da banda de mesmo nome (não! não tem nada a ver com aquela novelinha chinfrim da Globo) e resolvi ouvi-lo novamente. Há anos eu o escutava completo e gostava de ouvi-lo, mas, por qualquer razão não tão aparente agora, deixei de lado.

Senhores!! Que disco!

Essa banda começou como um grupo de teatro, mesclando música, poesia e representação. A primeira vez que os ouvi foi num programa que a MTV tinha (creio ser o MTV Roots, mas posso estar enganado) onde a mesma tocava sons de bandas não tão conhecidas do circuito nacional. Na hora que vi o clip já gostei da banda, então resolvi conhecer um pouco mais da banda.

Os caras dessa banda misturam literatura de cordel, poesia, cultos africanos, o uso constante de diversos instrumentos de cordas (violino, banjo, guitarras), instrumentos de percursão (tambores diversos, bumbos) e usam, também, de um grupo de vocais que fazem as músicas parecerem verdadeiros mantras.

Esse grupo já foi desfeito, no entanto ficaram três registros sonoros ('Cordel do fogo encantado', 'O palhaço do circo sem futuro' e 'Transfiguração') e um audiovisual ('MTV apresenta') dessa incursão pela música e poesia que fazem valer a pena ligar o som no volume alto, apagar as luzes e se deixar levar.

Passem o olho por esses versos que transcrevo abaixo e percebam a beleza contida neles (quando conseguirem o vídeo ou o áudio verão quanto mais belos ficam):

POEIRA

O pão que nasce do fogo
Na roda da saia
Na gira da terra
O vento que rasga telhado
Tambor ritmado
Trompetes de guerra
A guerra que traz a poeira
Que bate na gente
Poeira que vem do sertão
Configuração
Bafo quente

Vem poeira
Vem poeira
Vem poeira

Trago poeira da terra queimada e a fumaça
Ah! Sequidão, sequidão pojuca
Malhada Craíba
Juazeiro torto
Moxotó velado
Serra das Varas

Trago poeira da terra queimada e a fumaça
Ah! Sequidão, sequidão pojuca
Malhada Craíba
Juazeiro torto
Moxotó velado
Cabrobó Floresta Belém do São Francisco
Terra das Massas

Eu vou voltar
Caraíba, mãe vou simbora
Carcará
Eu vou voltar

TOADA VELHA CANSADA

Chega
Toada velha cansada
Atrás do fogo encantado
Nesse terreno sem cerca

Seca
Meu olho teu caldeirão
Teu colo meu oratório
Teu sonhos meu cobertor

Teu riso tem um corisco
Teu peito tem um trovão
É só a gente se ver
chove no meio do verão
Água que lava terreiros
(Oi que lava terreiros)
Oi que lava Janeiros, sertão

Eita mulher voadeira
Misterioso pavão
O riso teu tem corisco
E o peito teu tem trovão
E os meus dois olhos bandeiras
Fogueiras clarão (São João)

Eia
Minha cumadre Fulô
Quero teu cheiro de mato
Tua passada invisível

Vivo
Na catingueira da serra
Cheguei montado no vento
Poderes do teu feitiço

OS ÓIM DO MEU AMOR

Ê nunca mais eu vi
Os oím do meu amor
Nunca mais eu vi
Os oím dela brilhar
Nunca mais eu vi
Os oím do meu amor
São dois jarrinho de flor
E todo mundo quer cheirar

Nenhum comentário:

Postar um comentário