Eu subia caminhando, a passos lentos, uma ladeira. Ao chegar no topo divisei um portão; um jardim; uma casinha; uma janela. Apesar da chuva, via através do vidro que tu estavas debruçada sobre um livro qualquer. De parado que eu estava até tomar a decisão de aproximar-me, passaram-se poucos segundos. A água escorria pelo meu corpo enquanto eu pulava a cerca que nos separava -nada disso importava ;
poucos passos adiante e a poucos metros de ti estaquei. A visão que tive nunca mais sairá da minha cabeça. Estavas alheia a qualquer coisa que pudesse estar acontecendo naquele momento - e não queria de forma alguma tirá-la de tal devaneio. Eu contemplava a cena como observasse uma pintura e ali permaneci. Por horas e horas e horas. Pessoas chegavam, pessoas passavam, pessoas falavam, pessoas partiam. Não saberia dizer quem eram nem o que diziam, minha atenção estava voltada apenas para o que fazias. E apenas estavas. Com o mesmo livro na mão, um lápis a dançar em teus dedos e despreocupação em toda tua volta. A noite caiu e a manhã chegou. Com passos vagarosos fui me afastando; a cerca parecia, para mim, muito mais alta agora. No momento que desviei o olhar, uma mensagem recebi. As lágrimas que brotaram ficaram invisíveis em meio as gotas da chuva que insistiam em cair. A mensagem recebida dizia apenas assim:
'Te soube o tempo inteiro. Não ousei te chamar. Obrigado pela companhia neste dia. Um beijo. Volte amanhã'.
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