quarta-feira, 6 de março de 2013

Chorão 1970-2013


Essa imagem que eu tenho parece ter se passado ontem. Estava sentado no sofá de casa, esperando que algo acontecesse. Vínhamos da geração seguinte à explosão de bandas de rock da década de 80. Expoentes como a Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha já haviam marcado seus nomes na história da música brasileira. Entretanto essa não era nossa geração, precisávamos de algo que fizesse com que nos identificássemos com o tempo que vivíamos, algo que também firmasse aquela década de 90.

Havia surgido pelo mundo inteiro bandas que se propunham a fazer um som diferente, uma pegada mais pesada, com algum diferencial do rock de sempre. Surgiram o Nirvana e seu grunge, Pearl Jam e Red Hot Chilli Peppers; no Brasil havíamos visto a quebra de algumas barreiras com o sensacional e polêmico Planet Hemp e também com Raimundos e seu hardcore calango. Mas parecia faltar alguma coisa, algo que viesse a complementar a musicalidade.

Então com a TV ligada na plim-plim, fingindo assitir o Jô Soares, tive a primeira visão de algo muito novo. O apresentador anuncia a banda: 'Com vocês, Charlie Brown Jr.!!"; olho para a tela e do meio da platéia um 'gurizão' com as calças e camisetas largas, boné e jeitão despojado, desliza por entre as fileiras com seu skate. Bahhhh!!!! Era o Chorão. Quando ouvi os primeiros acordes, batidas, vocal e letra de 'O coro vai comê' identifiquei-me na hora com o som que eles mandavam.

Nossa!!! Eu tinha quinze, quase dezesseis, recém recebido meu segundo salário, passei em uma loja de cd´s e comprei o 'Transpiração Contínua e Prolongada'. Quase furei-o de tanto escutar. Todas as faixas ótimas, com um senso político, crítico e senso de humor tremendos. Estava aí mais uma banda que faria parte de toda a minha vida.

Cresci ouvindo todas as músicas que eles lançavam. A cada disco várias novidades, parcerias e muita, muita poesia. Em todas as festas que eu ia, tocava. Em casa, ouvia. No carro, obrigatório. Amadureci (?) junto com a banda (?). Ri muito de tudo que o Chorão aprontou no palco e fora dele. Dei uns tapas nos Los Hermanos, quando eles foram se apresentar em Santa Maria (e levei outros tantos) {lembra, Banzo?} para consolidar meu apoio naquele episódio dele com o Camelo. Quando assiti na TV o Acústico MTV do Charlie Brown, pirei. Procurava todas as reprises para rever o showzaço que os caras fizeram.

Aí eis que tive a chance de vê-los ao vivo. Planeta Atlântida. Os caras montaram um half no palco e enquanto a banda tocava, 2 guris ficavam fazendo manobras de skate. Indescritível! Chorão andava também, deslizava com seu carrinho pela pista e animava a galera... E sobre esse momento não consigo escrever mais nada. Eles continuaram a fazer shows e lançar discos. A banda mudou mas seu 'bandleader' sempre esteve lá; e sempre estará.

Hoje Chorão nos deixou. Eu terei sempre aquelas imagens dele, na televisão e no show, com o skate no pé e a música no coração.

Descanse em paz, irmão e faça música onde estiver.

Obrigado por tudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário