quarta-feira, 13 de março de 2013

Noite sem luz

Foi numa tarde em que faltou luz. Um desses fins de tarde de julho ou agosto. O fogo crepitando no fogão à lenha, a chaleira fervendo, os pinhões estalando na chapa. Enquanto o sol se punha no horizonte fomos acendendo velas. Minha mãe, meu pai, meus irmãos e eu. Escurecia lá fora e dentro de casa a penumbra ia tomando conta dos cômodos. À luz das velas, as sombras se moviam lentamente. Sentamos no sala, todos os seis. Não havia barulho; nem na rua, nem dentro de casa. Um relógio de parede insistia em contar os segundos, tic-tac-tic-tac, há muito esquecido. Apenas a chuva que caía em telhado de zinco nos arredores servia de trilha sonora para este momento. Principiamos a conversar, brincar um com o outro, lembrar de passagens da vida de cada um; uma estória engraçada de tempos idos de nossa infância, um conto ouvido do primo do vizinho de alguém, uma anedota nova que nos fez rir e até algum plano para o futuro. Ficamos por uma eternidade aproveitando aquele momento que pareceu fazer com que nossos corações chegassem a pulsar no mesmo ritmo. A chuva foi diminuindo lá fora, o relógio já não se ouvia mais, a conversa estava muito animada e então... a luz voltou. Alguém sorriu, o pequeno comemorou, a geladeira voltou a funcionar, dois ou três carros passaram na rua e a televisão foi ligada. Cada um foi para um lado, as velas foram apagadas e o sorriso em cada rosto foi reduzindo-se. Durante cinco ou dez minutos não nos falávamos, quase não nos olhávamos e apesar de o apresentador do jornal nos lembrar de uma notícia urgente, logo estávamos todos sentados nos mesmos lugares de antes. A TV foi desligada, as luzes apagadas e as velas acesas. E antes mesmo do terceiro tic-tac já estávamos todos tendo a melhor noite em família.

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