Chorei quando entrei no estádio.
Ouvi muitos relatos da emoção dos torcedores que, assim como eu, assistiram seu primeiro jogo no Olímpico naquele Grêmio x Ceará, pela final da Copa do Brasil de 1994, e falaram do êxtase que sentiram durante todo jogo. Sentimento assim achei que nunca experimentaria novamente. Eu estava redondamente enganado.
Porto Alegre, 20 de outubro de 2012.
Juntamente com meus familiares, fui ver o tricolor enfrentar o Coritiba pelo Campeonato Brasileiro. Ao passar pela catraca e visualizar aquele cantinho do campo fui invadido por uma alegria indescritível. Ao meu lado estava minha mãe, que sempre ouve os jogos do Imortal no rádio, sabe tudo sobre o time e é uma fanática torcedora (e nunca tinha ido ver um jogo do seu time); também estava meu irmão mais novo, Vicente, e foi por ele que tremi na base.
Toda família cidadã (até meu pai - flamenguista - tá disfarçado no meio da galera)
Fiquei imaginando o que poderia estar passando na cabeça dessa criança de 5 anos, que desde sempre acompanha o Grêmio, torce, chora, comenta, briga. Chegamos um tempo antes de a bola rolar e durante esse lapso, o pequeno não estava entendendo o que estaria prestes a acontecer. A torcida começou a ocupar os seus lugares, a aglomeração aumentava e expectativa figurava com mais intensidade. Até que foram anunciados os jogadores do Grêmio. A cada nome dos atletas gremistas, seguia-se a tradicional repetição, em coro, dos fanáticos 25.000 expectadores presentes. Meu irmão, acomodado em meus ombros, estava tenso e eufórico; eu sentia cada batimento cardíaco dele e ouvia-o gritar incontrolavelmente acima da minha cabeça.
Então adentraram, no gramado, os jogadores. Aí sim, caiu a ficha.
- Olha o Zé (Roberto)!! Ali, ali, o Elano!!! Marcelo!! Marcelo!! O 'Kréber' tá meio gordinho....
Durante toda a partida o menino não tirou os olhos do gramado. Acompanhava cada lance, chutava toda bola, marcava, lançava, ovacionava quando os zagueiros tiravam uma bola. No momento em que um jogador do Grêmio deu uma trombada e o jogador adversário caiu, ouvi essa pérola:
- Time de boneca!!
Era o meu gigante mostrando, desde cedo, a verve peleadora castelhana.
Em um momento a torcida, como costumeiramente acontece, indignada com a marcação do árbitro começou a xingar a mãe do mesmo (Filha da p*&@), ouvi:
- Hum, o que eles tão gritando??
Os meu pais e familiares que estavam junto, deram-me uma olhada sem jeito e larguei:
- Feira da fruta!!
Ele aceitou e a bola continuou rolando. Tem coisas que apenas no estádio a gente aprende, cedo demais para ele, mas me saí bem nessa.
Meus ombros doíam; passei ele para os que estavam juntos de mim. Não aguentavam muito tempo. Mas quando eles o soltavam, de pé na arquibancada, ele nada via. Então, num esforço, alçava ele novamente nas minhas costas e a euforia seguia-se. As dores vieram depois, mas não tiveram a menor significância diante do prazer de ver o sorriso estampado no rosto do garoto.
Baita visão, hein, meu piá!!
Os gols não saíram, uma pena, entretanto valeu cada segundo das 14 horas de viagem, da espera de 1 hora e 30 minutos para o ínicio, dos 90 minutos de jogo. Valeu pela euforia e a certeza de que esse jogo foi um marco na vida do pequeno torcedor e da minha também.
O 'adeus' ao Olímpico. (Vicente, mamãe e Johnny)
O futuro
Show de bola primo
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