segunda-feira, 25 de maio de 2015

O louco - Gibran Khalil Gibran


 
   Perguntais-me como me tornei um louco. Aconteceu assim:
 
   Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"
 
   Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. 
 
   E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!"  Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. 
 
   Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!"
 
   Assim me tornei louco. 
 
   E encontrei tanto a liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós. 

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