sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Maiakóvski

Vladimir Maiakóvski é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam.
Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária", era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo.

Alguns dos seus poemas:

Despertar é preciso

"Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada.
Na segunda noite, Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada."

"...nenhum som me importa afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho."

"O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração."

"Amar não é aceitar tudo.
Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que haja falta de amor."

"Remoça-te em minh'alma! Entrega a meu coração a festa do teu corpo!

Sei.
Todos pagam pela mulher.
Não importa se, por ora, em vez do luxo de um vestido parisiense visto-te apenas com a fumaça de meu cigarro."

A flauta vértebra

"A todos vocês,que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:

seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!

Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
Esta noite ficará na História. Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras."

Dedução

"Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente."

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