quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Nós, os gaúchos

Sim, somos orgulhosos. Somos bairristas. Somos (ao menos nos achamos) os melhores em tudo que fazemos. Nós somos GAÚCHOS.

Assim mesmo, com letras maiúsculas e ditas com imenso prazer de termos nascido nessas paragens. Exaltamos nossos feitos, cantamos nossas conquistas, lutamos sempre por tudo que queremos. Mas, principalmente, pois sabemos como ser alegres; como rir de nós mesmos por 'nos acharmos'.

Pelo BraZil afora nos tratam com desconfiança, com indiferença, por vezes com desdém, entretanto isso acontece pois nossa identidade não se assemelha com o resto do país. Temos muita semelhança com nossos vizinhos castelhanos; nossa língua, nossos costumes, nosso jeito, tem a mesma raiz.

Somos descendentes de índios, italianos, alemães, espanhóis, portugueses, polonenses, negros e tantos outros, no entanto existe, sim, a chamada 'alma castelhana', que nos invade e nos faz conhecer nossos tempos idos, de lutas, de batalhas, de sangue derramado. Esse mesmo espírito nos faz conhecer e espalhar nosso hino, nossas músicas, nosso jeito de falar.

Admito ser conhecido no resto do mundo por qualquer adjetivo, sendo bom ou ruim, o importante é que sei de onde vim. Respeitamos a nossa história, cultuamos nosso passado, enaltecemos nossos antepassados e, isso sim, nos faz cada dia mais alegres e dignos merecedores de um futuro.

* Aos desavisados que não estão acostumados com a nossa linguagem, sugiro que parem com a leitura aqui. Na sequência publico um poema e uma letra de música da nossa terra. (Para o segundo de antemão aviso que não há tradução)

Alma Gaudéria, de Rui Cardoso Nunes

Os rasteadores da História
campearam minha memória,
do tempo nas noites grandes,
e me encontraram na Taba,
nos araxás do ameraba
da cordilheira dos Andes!


Dos séc'los na densa bruma,
a minha origem se esfuma!
Sou alma xucra e gaudéria
que vem de tempos sem fim!
Ninguém sabe de onde eu vim,
se de Atlântida ou Sibéria!


Talvez fosse um lemuriano,
guardasse n'alma o arcano
da legendária Lemúria -
minha primeira Querência,
tragada pela violência
de cataclismos em fúria!


Talvez malaio, autraliano,
ou mongol, ou tasmaniano,
antes de vir para a América!
Sou, hoje, o guasca sulino
mestiço com beduíno
lá da Península Ibérica!


Sou mescla de vários sangues!
Dos temidos Caingangues
sinto a fibra em minha raça!
Destas coxilhas sou filho,
cruza de branco caudilho
com ameríndia lindaça!


Fui Charrua e Minuano!
Enfrentei o lusitano
nos campos de Caiboaté!
Na região missioneira,
iluminei a fronteira
nas guerrilhas de Sepé!


Fui guerreiro, andei lutando...
Surgi mil vezes peleando,
mil vezes tombei na guerra,
eternizando na história,
numa legenda de glória,
as tribos de minha Terra!


Marquei, com sangue estrangeiro,
deste Torrão Brasileiro
as fronteiras que ele tem!
E nelas, qual marco vivo,
deixei meu sangue nativo,
as demarcando também!


E se alguém, num dia aziago,
quiser tomar este pago,
ser das coxilhas monarca,
há de sentir pelo lombo,
no impacto de cada tombo,
que nossa Terra tem marca!

Milonga Maragata, de César Oliveira e Rogério Melo

Chiripá de saco branco
Lenço atado a meia espalda
E uma vincha aqui se esbalda
Na melena esgadelhada
Na cintura, a carniceira
Companheira de degola
E um "Quarenta" de argola
Pra garantir a querada
Carcaça de puro cerne
Forjada em têmpera guapa
Com a rude estampa farrapa
Plantei tenência de mau
E a descendência da raça
Semeei no eco do berro
Brincando de tercear ferro
Com chimango e pica-pau
Relampeia ferro branco
Também troveja a garrucha
Nesta milonga gaúcha
Que, por taura não se enleia
Peleia dando risada!!
Porque o macho se conhece
Porque o macho se conhece
É atrás do " S " da adaga
Debaixo do tempo feio
Só a coragem sustenta!
Pode faltar ferramenta
Mas sobra a fibra guerreira
Pois quem herda a procedência
Do nobre sangue farrapo
Só morre queimando trapo
Peleando pelas ladeiras
Com o instinto libertário
E o tino de um fronteiro
Eu era um clarim guerreiro
Pondo em forma o rio grande
Pois a grito e pelegaço
Fiz a pátria que pertenço
Cabrestear para um lenço
Maragateado de sangue.

Nenhum comentário:

Postar um comentário