segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Prisão

Numa fenda de uma parede rochosa jazia eu. Parecia uma caverna, mas ainda havia o céu sobre mim. Vinham dias, caíam as noites. Dia após dia. Era chuva, ou era o frio, ou nenhum dos dois. Não sentia calor, nem fome, não sentia nada. Aprendi as fases da lua, as estações do ano, norte-sul, leste-oeste, todas as constelações. De nada me adiantaria. Sentado permanecia a contar gotas de água caindo a meu lado. Eu era apenas um esboço do que havia sido. Vazio de sentidos, sentimentos, histórias e sonhos. Fora esquecido pelo mundo e eu não lembrava de nada fora dali. Nem mesmo lembrava de como havia chegado até ali. Lembro apenas que de início pensei em escapar: para onde? por quê? para quem? Sobravam-me forças, faltavam-me razões. Essas nunca recuperei, aquelas eu perdi. Desisti. Deitado, consigo contar os segundos até o brilhar do último raio de sol. Não haverá o brilho lunar essa noite: é lua nova; contrariando a escuridão que persiste em ser, invariavelmente, sempre a mesma.

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