terça-feira, 28 de abril de 2015

Quando as estórias acabam

"Eu nunca sei quando as estórias acabam.

Por isso sempre fico preso entre uma e outra, ou entre nenhuma e nenhuma outra; entre um recomeço sem fim e um fim sem término. Talvez por ser mais espectador ou coadjuvante, do que protagonista da minha vida, tenho essa enfermidade de não dar conta quando baixa o pano.

As luzes apagam, o público sai, os colegas limpam a maquiagem e eu continuo lá: com a fala na cabeça, o texto decorado, aguardando a deixa, a deixa que nunca vem.

Sempre tive medo das coisas e das pessoas. Um pavor e uma falta de fé. Talvez por isso eu tenha criado minha própria companhia teatral, onde sou diretor; contra-regra; atores e público. Enceno só pra mim uma tragicomédia. A realidade me faz tão mal e me deixa tão fraco que fico, no fundo do palco, muitas vezes, a sussurrar o texto a mim mesmo. Às vezes não ouço, porque sussurro baixo e minha voz é trêmula...

O público não entende a peça, logo, não aplaude. Eu, furioso, demito a todos: ao diretor, ao autores...expulso o público do teatro e ateio fogo a tudo. E ali dentro fico eu, junto às cortinas e aos holofotes, incandescentes; queimando, queimando, queimando..." 


Texto de Alejandro da Costa Carrilles, autor carioca que mora na cidade de Petrópolis

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