quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Quando sonho

Meus sonhos, que eram recorrentes, tornaram-se escassos. Pouco durmo, menos sonho. Entretanto quando tu aparece neles algo de diferente trazes, sempre. Noite dessas sentávamos, tu e eu, num café; meia luz, as cortinas permitiam que apenas alguns raios de sol chegassem a nossa mesa colocada num canto do recinto, o barman secava alguns copos e organizava as bebidas na prateleira, apenas um senhor tomava seu breakfast no canto contrário ao que estávamos. Nada falamos, em momento algum. Conseguia ver, mesmo na penumbra, o brilho do teu olhar e a leveza do teu riso. No entanto o que marcou-me - e até agora sinto - foram as sensações e lembranças que tive. Descrevo-as, como se pudesse percebê-las neste momento: cheiro de chuva, assim como ouço os primeiros pingos caindo no telhado; Janis cantando, Pink Floyd tocando, uma letra do Cazuza - sim, tudo ao mesmo tempo; o sol que brilha no mar, a areia da praia, a liberdade de correr num gramado, o sol se pondo e a estrada infinita à frente; a surpresa de um presente ganho, o cheiro de uma rosa, a maciez dos pêlos de um cachorro, o gorjear de um pássaro numa manhã de primavera; a primeira vez que te vi, a única vez que andamos lado a lado, o cheiro dos teus cabelos, o calor de tuas mãos, o singular som da tua voz, todas as vezes que em pensamento te beijei. Acordo. Te desenho. Te esqueço. E acompanha-me durante mais um dia tudo isso que, por uma noite, pude sentir.

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