quarta-feira, 29 de junho de 2016

Retrospectiva 2015 - Parte dois - David Gilmour - Lado B

A galera se reunindo momentos antes do feito histórico

A hora chegou.

As luzes apagadas, lentamente se acendendo, o volume progressivamente aumentando, cinco minutos para as 21:00 do dia 16 de dezembro de 2015 e o deus do rock David Gilmour fez-se presente em carne, osso, voz, guitarra e alma.

Em uníssono gritamos, choramos, rimos, ovacionamos. Milagres existem. Os deuses são feitos da mesma matéria que nós, respiram nosso mesmo ar, suam e, alguns, cantam como ninguém. Iniciou-se então a noite mágica e ímpar com 3 músicas do último álbum solo de David, Rattle that Lock - 5 a.m.; Rattle that Lock; Faces of stone - que, apesar de não muito conhecidas deram o tom do restante que estava por vir. Emendando nessas veio aquele momento do mantra, da hipnose, do solo tocado junto, do coro geral, de uma das mais esperadas: Wish you were here! Cara!! era uma só voz ao redor, quando cantávamos nos ouvíamos e sentíamos a presença de Gilmour junto de nós. Todos os anos, todas as vezes que ouvi, todas as lembranças que a música trouxe estavam comigo naquele momento. 

A única foto que tirei durante o show. Pô,, eu tinha mais o que fazer, não é?

Vieram mais algumas músicas de seus discos solo: Rattle.. e On a Island. Mas a empolgação retornou com os primeiros acordes de Money, seguida de Us and then, dois sons do magnífico e melhor álbum do Pink - The dark side of the moon. Sensacional!! Já estávamos todos conectados numa só vibração então veio In any tongue e após a clássica High Hopes, do álbum do Floyd, The division bell (esse já sem Roger Waters), no entanto não menos longe da história da banda. O refrão inundou completamente a Arena fazendo arrepiar todos os corpos que ali estavam presentes. Terminava assim o primeiro ato do espetáculo.

Uma pequena pausa para recuperar energias. Tá bom meu pé, mana??

No início da segunda parte o telão - carinhosamente chamado de Mr. Screen - com suas imagens em alta definição nos trouxe Astronomy Domine, do primeiro álbum da banda (sem Gilmour ainda) The Piper at the Gates of Dawn de 1967(!!). Formou-se um caleidoscópio gigante e psicodélico, trazendo a tona todo momento que envolveu a banda do final dos anos 60 e que segui-se como linha durante toda sua história. A homenagem então dos Floyd a seu primeiro 'cabeça' Syd Barrett foi aclamada com Shine on you crazy diamond; a sua progressiva levada e seu refrão inesquecível ensurdeceram o mundo em volta. Ensurdeceu assim como quase nos cegou o sol gigante projetado no circular telão trouxendo-nos Fat old sun, seguida daquela que - particularmente - eu mais esperava e não sabia se ele incluiria no setlist: Coming back to life. Som esse que assisti milhares de vezes no dvd P.U.L.S.E. de 1995 e que deu sentido a minha vida.

Ali sim, eu presenciava a história passando na frente dos meus olhos e entrando pelos meus ouvidos.

Como um momento para um pequeno relax, Gilmour nos trouxe The girl in the yellow dress, um jazz autoral e executado com extrema habilidade. Logo nos trouxe de volta ao passado com Sorrow, do Momentary lapse of reason, preparando-nos para o final da segunda parte do show, onde todas as luzes: do palco, do telão e em volta dele estavam ligadas. Isso fez com que os músicos - incluindo David - colocassem óculos escuros tamanho brilho pulsava do palco com a excepcional e pesadíssima Run like hell. Não foi apenas uma incursão visual e sonora, foi um sentimento inexplicavelmente... palpável.

A hora do fim se aproximava. E parecia que as horas tinham levado segundos para correr.

Com um simples 'obrigado', Gilmour apresentou a banda e pronunciou mais algumas frases de agradecimento. Ninguém se movia do lugar, hipnotizado pela presença de uma figura histórica falando diretamente aos nossos ouvidos. O final então veio com a ímpar Time. Música de muita história e de grande presença em qualquer álbum das melhores músicas do mundo. O trecho de Breathe emendado em Time quase nos deixou sem ar - lembrando-nos na própria letra que devíamos 'respirar, respirar o ar'-, preparando-nos para o que seria a derradeira música da noite.

Aos primeiros acordes o tempo pareceu parar. Muitos choravam. Alguns se abraçavam. Todos gritavam.

Comfortably Numb

Talvez a música mais perfeita já feita até hoje, executada pelo mestre da guitarra frente a nossos olhos. O vocal que, mesmo calejado do tempo, continua inigualável. Os dedos correndo pelas cordas continuam ágeis e sincronizados como a primeira vez que tocaram. Em uma união nunca antes experimentada por mim éramos milhões de vozes e almas completamente entorpecidas.

Demorei pra me mover de onde estava. As luzes do palco se apagaram e da Arena se acenderam. Não sabia o que estava acontecendo ao redor. Não sei até hoje e nem sei se um dia conseguirei explicar. Foi o ponto alto de uma existência. Poucas coisas na vida acho que fariam me sentir como me senti. A noite acabou, mas o arrepio continua a cada lembrança, a cada música ouvida, a cada simples menção de qualquer elemento ligado àquele dia.

Pensem em duas crianças realizadas, antes, durante e depois do espetáculo.
Bona e eu. 

Hoje tenho gravado na pele aquilo que nunca quero esquecer. Aquilo que nunca vou me arrepender. Aquilo que me fez o cara mais feliz do mundo em apenas duas horas, por uma vida inteira.

A primeira tattoo não poderia ser outra: The Wall e The Dark Side of the Moon.
Pink Floyd gravado pra sempre

Nenhum comentário:

Postar um comentário