quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sombra na janela

Mesmo em sonho eu reconheceria aquele sorriso; mesmo sem distinguir sua face, seu rosto nunca me seria estranho.

Ao nos aproximarmos tudo ficou mais nítido: boca, olhos, cabelos. Era ela que chegava muito mais perto; apenas nos tocamos as mãos e eu senti todo seu calor emanar pro meu corpo. No carro, sem destino, ríamos alto; algumas vezes trocávamos olhares, outras tantas desviávamos o olhar, tamanha era nossa falta de jeito um com o outro.

Um gramado isolado foi nosso fim: toalha no chão, nos acomodamos. De repente uma multidão de conhecidos chegou até nós. Conversando, falando alto, nos chamando pelo nome. Em poucos segundos nos vimos afastados um do outro. No meio de tantos olhos apenas o seu brilhava e procurava os olhos meus.

Mais uma vez nossos caminhos se distanciaram.

Me vi sentado, novamente, na solidão do meu quarto. O quê fazer então? A noite já ia alta, a rua estava vazia, a cidade silenciosa. Na casa dela a meia-luz de um dos vidros indicava que, tal como eu, ela não dormia. Nem precisei fazer sinal algum: a sombra que se fez por detrás da persiana indicou-me que a janela logo se abriria.

A imagem que vi no momento, até agora queima-me a pele, o coração, o espírito. Em sua mais simples e linda roupa de dormir eu pude vê-la em sua essência. Sua beleza natural, o brilho do seu sorriso, a cor dos seus olhos, o doce som da sua voz. Deslizando ao meu encontro ela veio e, num sensual salto, suas pernas encaixaram-se em meus quadris; seus braços em volta do meu pescoço fizeram-me sentir amado e seguro.

Rodamos e giramos e rimos e sentimos.

O beijo que aconteceu nem foi o ponto alto dessa nossa junção: o que coroou meu sonho foi sentir, ao final de tudo, seu rosto descansando no ombro meu.

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